No ambiente virtual, troll é sinônimo de interlocutor grosseiro e intolerante. No campo mitológico, é uma criatura que assume diferentes formas e temperamentos conforme a cultura que o representa. Em Trolls, desenho animado que estreia nesta quinta-feira nos cinemas, os, digamos, monstrinhos são tipos fofinhos e pacíficos que só querem curtir a vida na sua coloridíssima floresta cantando, dançando e abraçando uns aos outros sob uma chuva de glitter. São tipos irritantemente alegres para os ogros que querem devorá-los acreditando que os petiscos proporcionarão a alucinógena sensação de euforia e felicidade que não conhecem e não compreendem.
Crítica: "Demônio de néon" mostra mundo da moda como um pesadelo
Veja as salas de cinema mais baratas de Porto Alegre e os dias de promoções
Ricardo Dárin estrela drama ambientado na ditadura argentina
Em uma temporada morna no competitivo reino das animações, com nenhum dos grandes estúdios apresentando até aqui um título memorável (veja no texto abaixo), Trolls entra em cena com um forte apelo comercial. É uma produção da Dreamworks, responsável por franquias como Shrek, Madagascar e Kung fu panda, e é puxado para a pista de dança com o sucesso da trilha sonora que tem à frente o hit Can't stop the feeling!, composto para o filme por Justin Timberlake, que assina a produção musical e também faz a voz original de Tronco, um dos protagonistas – no Brasil, as cópias devem ser todas dubladas em português. Can't stop the feeling! é em Trolls o que foi Happy, de Pharrell Williams, para Meu malvado favorito 2 (2013), ou seja, música promove o filme e vice-versa.
Com direção de Mike Mitchell (de Bob Esponja: Um herói fora d'água e Shrek para Sempre (2010), Trolls mira nos pitocos com os personagens multicoloridos, leva adolescentes na carona com a trilha vibrante – e tem sucessos do passado para animar os pais –, e apresenta à família toda a recorrente e sempre pertinente trama edificante que sublinha temas como tolerância e respeito às diferenças.
Trolls lembra o universo dos Smurfs com leves pitadas de Shrek, mas sem o humor mordaz desse na sátira ao contos de fada clássicos. Os protagonistas da trama são seres minúsculos que vivem escondidos na floresta desde que os bergens, espécie de ogros feiosos e macambúzios que reinam no pedaço, passaram a acreditar que as criaturazinhas quando degustadas são como pílulas de alegria. Quando alguns companheiros são aprisionados e preparados para o grande banquete no castelo do jovem rei bergen, a esfuziante princesa dos trolls, Poppy, e seu emburrado amigo Tronco se lançam na missão de resgate. A dupla será ajudada pela bergen Bridget, serviçal da realeza apaixonada pelo monarca que viverá seus momentos de Cinderela.
Ao iluminar temas como o deslocamento social de quem não se enquadra nos padrões de beleza e comportamento impostos como convencionais, Trolls aproxima-se de uma abordagem que Shrek já fez de forma muito mais inventiva. Os carismáticos personagens se empenham em compensar a história previsível e as piadas requentadas. E na versão em português, a decisão da distribuidora em dublar algumas canções e outras não ficou bastante esquisita. Vale lembrar ainda. A opção em 3D quase nada acrescenta à experiência visual – não vale o valor a mais do ingresso.
Sem favoritismos entre a animações no Oscar 2017
Não é regra escrita, mas sempre que a Pixar não tem um grande filme na temporada, os estúdios concorrentes ficam aliviados na esperança de conquistar o Oscar de melhor longa de animação. Exceto pela derrota de Monstros S.A. para Shrek, em 2002, em um páreo duro, a Pixar levou a estatueta sempre que concorreu como favorita com um título aclamado por público e crítica.
Em 2016, em que pese o impressionante US$ 1 bilhão arrecadado nas bilheterias, Procurando Dory frustrou as expectativas de quem se emocionou e ainda se emociona com o oscarizado Procurando Nemo. A Pixar, portanto, não tem uma unanimidade que faz da próxima cerimônia do Oscar uma festa protocolar, como se viu, entre outras vezes, com Divertida mente, Valente, Up, Wall-E e Ratatouille – já a sua proprietária, a Disney, levou nos últimos anos o Oscar com Frozen e Operação big hero.
Desde 2008, apenas um vencedor, Rango, da Paramount, em 2012, superou o predomínio da Disney/Pixar. Nas previsões para o Oscar 2017, os dois estúdios marcam presença, respectivamente, com Procurando Dory e Zootopia – a Disney ainda estreará em novembro Moana.
Entre outros presentes nas listas de títulos cotados, aparecem Pets – A vida secreta dos bichos (Universal/Illumination), Cegonhas (Warner), Angry birds – O filme (Sony/Rovio) e o espetacular Kubo e as cordas mágicas – em cartaz em Porto Alegre, esta é uma realização do estúdio Laika, já indicado por Coraline e o mundo secreto, Paranorman e Os boxtrolls. Como azarão, pode aparecer ainda a animação para adultos Festa da salsicha (Sony). Dois longas franceses podem ser lembrados: O pequeno príncipe, exibido no Brasil em 2015 e com estreia recente nos EUA, e Abril e o mundo extraordinário. O Japão, presença recorrente na premiação, destaca-se em 2016 com Miss Hokusai.