Pequeno segredo, de David Schurmann, foi escolhido nesta segunda-feira para representar o Brasil no Oscar por uma comissão integrada por nove profissionais ligados à produção cinematográfica, entre cineastas, produtores e críticos, que avaliaram 16 filmes inscritos. Cabe ao Ministério da Cultura (MinC), por meio da Secretaria do Audiovisual e da Agência Nacional de Cinema, com participação da Academia Brasileira de Cinema, entidade que reúne profissionais do setor, coordenar esse processo.
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Para participar da disputa, o filme concorrente tinha de ter sido exibido comercialmente no Brasil por pelo menos sete dias entre 1° de outubro de 2015 a 30 de setembro de 2016. Pequeno segredo contornou essa exigência com sessões especiais de pré-lançamento. A estreia está prevista para 10 de novembro, mas pode ser antecipada em razão da corrida rumo ao Oscar.
A cada ano é formada um comissão diferente para avaliar os títulos inscritos. Adriana Scorzelli Rattes, Luiz Alberto (Beto) Rodrigues, George Torquato Firmeza, Marcos Petrucelli, Paulo de Tarso Basto Menelau, Silvia Maria Sachs Rabello, Sylvia Regina Bahiense Naves, Carla Camurati e Bruno Barreto participaram da escolha de Pequeno segredo.
Carla, atriz, e Barreto, cineasta, ingressaram na comissão após as saídas do diretor Guilherme Fiúza Zenha e atriz Ingra Liberato, que pediram seus desligamentos em razão da polêmica envolvendo Aquarius. A controvérsia teve como principal razão a presença do crítico paulista Marcus Petrucelli, que, desde a exibição de Aquarius no Festival de Cannes, em maio, passou a criticar o posicionamento político do diretor do filme, Kleber Mendonça Filho, contrário ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff – a equipe do longa fez uma manifestação no tapete vermelho do evento francês denunciando a existência de um golpe no país.
Com a permanência de Petrucelli na comissão, três diretores anunciaram que, em solidariedade a Kleber Mendonça Filho, não colocariam seus filmes na disputa: Anna Muylaert (de Mãe só há uma) – indicada para representar o Brasil no ano passado, com Que horas ela volta? –, Gabriel Mascaro (de Boi neon) e Aly Muritiba (Para minha amada morta). Mendonça Filho, por sua vez, optou por entrar na disputa.
O processo para indicar o representante na disputa do Oscar de filme estrangeiro em outros países é parecido com o realizado do Brasil – uma comissão é formada com a chancela de uma entidade representativa do setor cinematográfico.
A Academia de Artes e Ciência Cinematográficas define como filme estrangeiro produções não faladas em inglês e realizadas fora dos Estados Unidos. Não existe número fixo de quantos títulos podem entrar na disputa – para a edição de 2016, foram 81 inscritos. Cada país indica o seu representante, e uma comissão específica da Academia é responsável pela seleção.
Em dezembro, serão anunciados os filmes pré-qualificados para a disputa, número que também pode variar – foram nove no ano passado. Em janeiro, os cinco concorrentes a melhor filme estrangeiro serão anunciados junto com os indicados nas demais categorias.
Os filmes inscritos por cada país não precisam necessariamente ter sido exibidos nos EUA. Mas, na prática, ter visibilidade, nos cinemas ou participando de importantes festivais, ajuda na promoção. Uma vez incluído na pré-seleção da Academia, torna-se fundamental uma boa ação de marketing, com reforço na publicidade em veículos especializados em cinema e sessões especiais para integrantes da comissão de seleção e formadores de opinião. Em geral, são contratados renomados profissionais de relações públicas que conhecem bem as engrenagens de Hollywood.
Uma regra imposta pela Academia em relação ao filme estrangeiro é a de que ele seja assistido por integrantes da comissão de seleção na tela do cinema e não em outros suportes - como DVD, Blu-ray ou streaming. Além das apresentações promovidas pelas equipes dos filmes, a Academia realiza suas próprias sessões.
Aquarius tinha como vantagem a aclamação recebida pela crítica desde o Festival de Cannes. Em meio ao posicionamento crítica de seus diretor contra o governo de Michel Temer, o filme se tornou alvo de discussões também pela exagerada classificação etária de 18 anos imposta pelo Ministéri da Justiça – posteriormente revogada para 16 anos.
Em declaração ao portal G1, o produtor Beto Rodrigues disse que "a comissão analisou não apenas as qualidades artísticas" de Pequeno segredo", mas também tentou considerar o que a Academia de Hollywood poderia levar em conta".
Pequeno segredo é inspirado na história real da menina Kat, portadora do vírus HIV adotada pela família Schurmann. A trama é inspirada no livro homônimo lançado por Heloísa Schurmann, que narrou o drama de Kat, que morreu em 2006, aos 13 anos. Responsável pelos registros que fizeram a família Schurmann ficar famosa no Brasil, sobretudo com o quadro apresentado no programa Fantástico, David Schurmann já apresentou nos cinemas o documentário O Mundo em duas voltas (2007). O elenco de Pequeno segredo conta com Júlia Lemmertz, Marcelo Antony e Maria Flor.