Como você avalia a repercussão da manifestação da delegação de Aquarius no Festival de Cannes?
As pessoas que não concordam têm que entender que nós temos esse direito. O que me preocupa nessa divisão atual é que parece quase uma oração, não há individualidade, as pessoas se manifestam como se fosse uma prece conjunta. Aquarius é o nosso tesouro. Quando a gente foi para Cannes, fomos escolhidos entre tantos filmes, foi uma honra. A minha vida toda eu passei representando o Brasil, fui até a Casa Branca representando o Brasil. Deveriam receber a gente no aeroporto, que nem jogador de futebol.
Você tem dito que recebeu o convite para fazer Aquarius como um resgate. Queria dizer obrigado a Kleber por ter me mandado a mensagem na garrafa: "Sônia, você quer participar de Aquarius?". Percebi que estava lendo o melhor roteiro que já tinha lido na minha vida, que dizia todas as palavras que eu queria dizer naquele momento. A analogia é que nós, que fazemos cinema, somos como navegantes, ficamos juntos em um barco durante um tempo, depois nos separamos. Só sobra a mensagem na garrafa.
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Você se emocionou muito com a homenagem do Troféu Oscarito?
Parecia que o filme da minha vida estava passando ali no tapete vermelho. Acho que isso é o que acontece quando quem é bonzinho morre: você vai andando e a sua vida vai passando do lado. A grande emoção foi que parecia que a gente estava fazendo um filme ali. E, quando você chega ao final daquele caminho, encontra a equipe do filme que você acabou de fazer, isso é emocionante.
Você nunca pensou em dirigir um filme?
A função do diretor tem tantas responsabilidades, perguntam tanta coisa para ele... Mas eu acho que conseguiria fazer. Uma vez um diretor me disse: "Por que você não dirige o seu filme? É só pegar um diretor de fotografia excelente e faça a sua história". Mas não sei... Acabaram de me perguntar por que eu não tive filhos. É a mesma coisa: eu não sei.
Você estrelou grandes filmes como Dona Flor e seus dois maridos (1976), Eu te amo (1981) e O beijo da Mulher-Aranha (1985). Destacaria algum papel?
Cada personagem que eu fiz conta uma parte da minha vida. São 50 anos de cinema que me levaram até Aquarius.