Logo após a exibição do filme para jornalistas e convidados, no início da noite de terça-feira, em São Paulo, o diretor Ian SBF e praticamente todo o elenco do Porta dos Fundos concederam uma entrevista coletiva na qual falaram sobre Contrato vitalício, primeiro longa-metragem do grupo, que estreia nesta quinta-feira dos cinemas.
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Houve confissões ("Passei minha juventude sendo reprovado nos testes da Malhação", revelou Gregorio Duvivier), piadas confessionais ("Dedico meu personagem insensível ao professor que disse que eu passaria a vida interpretando bandido ou índio", declarou o também ator Luís Lobianco) e, no meio das muitas brincadeiras, informações sobre como surgiu o projeto.
– As pessoas têm nos perguntado como é fazer um filme, se é diferente ou o quê. Mas a gente já escreveu tanta coisa, já trabalhou com tantos formatos diferentes. É um filme, pô. Não é um foguete – divertiu-se Fábio Porchat, que além de ser um dos protagonistas do longa assina o roteiro ao lado de Gabriel Esteves.
O grupo foi bombardeado. No início, teve de responder por que há menos mulheres do que homens no seu elenco. Depois, a inquisição se deu porque os personagens usam a expressão "traveco" para se referir aos transexuais.
– As mulheres ocupam os cargos-chave no Porta dos Fundos – disse o diretor Ian SBF. – A principal produtora é mulher, a responsável por todo o departamento de pós-produção é mulher, a diretora comercial é mulher.
– Quanto à participação dos transexuais: a gente tem recebido agradecimentos por ter usado trans nos papeis de trans, e não homens se vestindo de mulher (caso da atriz Léo Aquila) – comentou Duvivier.
– Acho que já ficou claro para todo o mundo: não somos transfóbicos. Se um personagem diz algo assim é porque é assim que ele age, e não quem o criou – completou João Vicente Castro.
Quando o assunto enveredou para as polêmicas em torno da Lei Rouanet, a diretora executiva do grupo, Tereza Gonzales, lembrou que Contrato vitalício não faz o uso do mecanismo, e sim da chamada Lei do Audiovisual.
– Mas o filme tem muito dinheiro próprio, do Porta e das produtoras envolvidas, sem renúncia fiscal – acrescentou Ian SBF.
– O que acontece – disse Duvivier – é que a cultura não utiliza nem 1% da renúncia fiscal registrada no país, mas é sempre a mais lembrada quando se discute o tema. Por que não falamos dos incentivos fiscais usados pela indústria bélica? Porque os setores mais obscurantistas da sociedade querem atingir a produção cultural, é isso.
– Fora o fato de que as pessoas falam de Lei Rouanet sem ter a mínima ideia de como funciona o mecanismo. Muitas pessoas, quase todo o mundo – interveio Porchat.
O fato é que o filme é uma grande sátira à indústria do entretenimento. A história sobre um ator e um diretor que, em uma noite de farra após vencerem o Festival de Cannes, assinam um contrato vitalício de trabalho fala de muitos personagens reais da cultura brasileira – e do que está em torno do que pode ser considerado entretenimento, da imprensa de fofocas à febre dos chamados vloggers. Porchat respondeu sobre a inspiração dos tipos que aparecem em cena:
– Há muita coisa registrada no filme. De tudo o que falamos, acho que podemos dizer que já passamos por algumas situações parecidas. Porque no mundo do entretenimento acontece muita coisa, muita mesmo. Agora, se trata-se de uma crítica, aí cabe ao público avaliar.
Um dos melhores momentos da conversa de cerca de uma hora foi quando Ian STF afirmou que Porta dos Fundos – Contrato vitalício foi feito de maneira "relativamente rápida".
– Mesmo? – perguntou, ironicamente, a atriz Júlia Rabello.
– Sim, filmamos neste ano! Cinema, no Brasil, é algo que costuma demorar muito mais – respondeu o diretor.
– Basta perguntar ao Guilherme Fontes – completou Duvivier, arrancando risos de todos ao referir-se a Chatô (2015), que demorou 20 anos para ficar pronto.
* Daniel Feix viajou a São Paulo a convite da distribuidora Downtown.