“Precisei de uma vida inteira para aprender a desenhar como as crianças”
Pablo Picasso
Nem sempre é fácil precisar o momento exato em que determinado fator altera, ou marca, nossa vida para sempre. Nossa trajetória é um mosaico de experiências e acontecimentos que vão moldando nossa personalidade e comportamento. Só na maturidade podemos, se houver disposição, examinar nosso passado em busca de vestígios das coisas que contribuíram para consolidar nossas preferências. Uma das grandes virtudes da fotografia é a possibilidade que ela nos brinda de refletir sobre uma imagem antiga. Quando escrutino essa foto (acima), provavelmente de 1955, de um garotinho com seu triciclo, fico recuperando tudo que veio depois. Esse garotinho sou eu, então com três ou quatro anos, e nela está meu primeiro veículo.
Há também essa outra, que deve ser de 1959, em que apareço com minha irmã Maria Teresa, da época em que moramos na Vila dos Comerciários, na Capital, assim como a primeira. Estamos montados em nossas bicicletas, acho que da marca Arma, com pneus maciços. Como minha irmã nunca curtiu muito pedalar, eu acabei primeiro com a minha e depois com a dela. Nos anos 1960, ganhei um dos presentes que mais alegria me trouxeram: uma nova bicicleta, marca Henke/Göricke. Parecia um sonho. Tinha farol com dínamo na roda dianteira, espelhos retrovisores e uma buzina japonesa, a pilha!
Sempre gostei de desmanchar meus brinquedos e tentar, nem sempre com sucesso, reconstruí-los. Acabei matriculado na Escola Técnica Parobé. Lá, fiz o Ginásio Industrial e, depois, parcialmente, o Curso Técnico de Máquinas e Motores, que completava o Segundo Grau.
Apaixonei-me por mecânica. Ainda sem habilitação para dirigir, recuperei um DKW 1937, cuja reforma nunca foi concluída, mas que voltou a andar, para minha enorme satisfação. Em 1972, voltei para as duas rodas e comprei minha primeira moto. Uma Xispa 175, mistura de Lambretta com motocicleta. Nunca mais parei. Tive uma Yamaha DT-180, uma Honda CB 400 II e, depois, uma Honda CBR 450 SR. Hoje, tenho uma Hornet 600 F, da mesma marca.
No início dos anos 1990, comprei um carro Renault Gordini 1966 para restaurar. Trabalhei 15 anos no carrinho. Acabei vendendo, em 2009, por falta de vaga de estacionamento no edifício onde moro. Pena. Agora, rodo com um carro turbo, com câmeras e outras sofisticações. Uma nave.
Não sei, mas talvez a maneira como olho para aquele triciclo da foto me diga alguma coisa.