Em que medida a religião serviu para sedimentar as pequenas comunidades de origem alemã no Rio Grande do Sul? Quais os focos de tensão entre os diferentes ramos do cristianismo nessas localidades, especialmente entre os dois grupos de luteranos e desses com os católicos?
A resposta pode ser encontrada numa alentada obra (768 páginas) que acaba de sair pela Editora Univates, ligada à universidade do mesmo nome. Cultura, sociedade e igrejas – A comunidade de Arroio do Meio escreve sua história é um compêndio que repassa séculos de trajetória dos imigrantes e de seus descendentes, com foco na sua relação com a religião. O epicentro do livro é o Vale do Taquari, com destaque – como indica o título – para Arroio do Meio, a cidade entre três rios (Forqueta, Grande e do Meio, todos tributários do Taquari). A obra traça um panorama do início do século 19 aos dias atuais, com relatos detalhados sobre as primeiras famílias de imigrantes (sobretudo alemães) e sua trajetória na formação da cidade.
O ponto central é a religião, a fé, e como isso influenciou a formação daquelas localidades. Para a realização do livro, organizado pelo professor e vice-reitor da Univates, Roque Danilo Bersch, foram mobilizados 11 autores, que contaram com ajuda de três bolsistas para realizar 450 entrevistas, nas quais os moradores falam, sobretudo, da sua relação com a religião. Os entrevistados são ligados às três grandes correntes cristãs que atuam na região: a Igreja Católica, os evangélicos da IECLB – Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil (ligada à corrente alemã do luteranismo) e os fiéis da IELB – Igreja Evangélica Luterana do Brasil (corrente de origem norte-americana do luteranismo, mas que no Brasil também é professada majoritariamente por descendentes de alemães).
As pesquisas foram embasadas em consultas a livros-tombo das paróquias e templos de 30 comunidades do município de Arroio do Meio e de igrejas de cidades vizinhas. Isso permitiu, também, o resgate de imagens raras – o livro conta com mais de 500 fotos.
"Trata-se da reconstituição da história da formação das comunidades de fé e uma leitura crítica da história resgatada", diz Bersch, na apresentação.
Colaborou Humberto Trezzi