Ouvintes ou leitores de programas esportivos, às vezes, deparam com menção a uma agremiação futebolística de nome inusitado e que no próximo dia 25, domingo, completará um século de existência. Estamos falando do Esporte Clube Fortes e Livres, da cidade de Muçum, no Vale do Taquari. Esta notoriedade vem de longa data e tem origem num fato histórico muito marcante para o Rio Grande do Sul.
Quando Giuseppe Garibaldi veio vender seus préstimos para Bento Gonçalves, a fim de concretizar a Revolução Farroupilha, ele teria exortado o chefe da recém-proclamada República Rio-Grandense a agrupar forças, dizendo-lhe: "Bisogna uomini forti e liberi per far la rivoluzzione". Em Muçum, terra de imigrantes italianos, anos depois, as palavras do patrício e "herói dos dois mundos" foram sempre uma referência e jamais esquecidas.
Em 1916, os "oriundi" resolveram fundar um time para praticar aquele esporte que recém chegara ao Brasil e se inspiraram em Garibaldi para escolher o nome e, obviamente, escolheram como cores do time a fusão das bandeiras italiana e farroupilha, ou seja: o verde, o vermelho e o branco. Qual nome mais bonito e de profundidade histórica poderia haver do que Esporte Clube Fortes e Livres? Afinal, futebol não é luta? Não é preciso ser forte? Não é fundamental ter garra, determinação e liberdade de criação? Para perpetuar aqueles ideais de força e liberdade, para glorificar desígnios sublimes que norteiam conquistas, agora não mais num campo de batalha real, mas na síntese do esporte, nos gramados dos estádios. Só mesmo sendo fortes e livres para praticá-lo.
Neste ano em que o glorioso Esporte Clube Fortes e Livres completa um século de existência, é preciso registrar que o clube tem quadro e sede social, campo de futebol e patrimônio como poucos no Estado. Infelizmente, adormecido, parou com sua atividade na prática do futebol profissional há mais de 40 anos. Por que parou? Falta de atletas, dirigentes ou estádio? Não. Falta de tradição e paixão pelo futebol? Não. Isso, alegam, é o que mais tem.
O Fortes e Livres parou, segundo seus dirigentes, desde que "inventaram que clube de futebol tem que ser empresa. Aquilo que era fator de congraçamento e união de uma comunidade através do esporte virou esta barafunda que sepultou o futebol do nosso interior, deixando apavorado quem ousa se meter nesta seara, onde prevalecem interesses que transcendem a prática do futebol e que, às vezes, habitam as colunas policiais".
O Fortes e Livres só queria jogar futebol, era o esporte pelo esporte. Seus atletas compravam seus fardamentos, pagavam seus deslocamentos e até a própria alimentação nos dias de jogos. Se empresas visam ao lucro para sobreviver, o Fortes e Livres, e muitos daqueles times que adormeceram ou sumiram, jamais almejaram isso. Só queriam jogar futebol.
Dito tudo isto, sobrou, então, o lado folclórico pelo qual, de vez em quando, é lembrado pela imprensa. Sem as chuteiras nos gramados, mas com os pés na história e olhos voltados ao futuro, renovam-se as assertivas de liberdade e força que sempre impulsionaram a agremiação. Com certa dose de teimosia e "chiando", o clube inicia mais um século, empunhando a bandeira tricolor tão cara a muçunenses de todas as épocas, fortes e livres!
Colaboraram: Marcos Antônio Bastiani, diretor de Patrimônio, Marcos Vinícius Zanuzo e Lizete Stürmer Bortoletti