Ela foi tomar a vacina pensando nos outros:
— Bom seria vacina para todos. Daí sim.
Deolinda Pereira dos Santos era uma das dezenas de mulheres que encararam a fila do IAPI, no Passo D'Areia, na tarde desta sexta-feira (4), primeiro dia da vacinação contra a covid-19 nas pessoas de 59 anos fora dos grupos de risco. Como a prefeitura de Porto Alegre não sabia se poderia vacinar toda a faixa etária em um único dia porque dependia da entrega de novas doses pelo governo do Estado, foi dada prioridade para o público feminino.
Dona de casa, Deolinda foi tomar sua dose ao lado da filha, Marcela dos Santos, 33 anos. Chegou às 10h30min e foi chamada na sala de aplicação por volta das 14h.
— Alívio mesmo é quando os filhos estiverem vacinados — disse, puxando a gola da blusa após a injeção no braço.
Para a enfermeira Rita Adriano de Oliveira, coordenadora da clínica de família do IAPI, foi acertada a decisão de abrir a campanha dando prioridade para as mulheres. Na sua avaliação, elas estão mais expostas ao vírus do que os homens. Além do trabalho e das tarefas domésticas, também levam e buscam os filhos na escola e acompanham os familiares nas consultas com médicos.
— As mulheres têm uma carga de trabalho maior. Estão sempre correndo — disse a enfermeira.
Se alguém tinha medo ou ansiedade com a injeção, podia mudar de ritmo ao entrar na sala de vacinação do IAPI. Responsável por usar as seringas, a enfermeira Valdete Bonifácio Marques deixava um rock tocar no seu celular:
— Acalma as pessoas, elas gostam. Eu boto e o pessoal diz: "Ai, que bom".
Quando chegou a vez da terapeuta holística Ortelina da Graça Rodrigues, o celular de Valdete tocava a banda The Animals, um clássico dos anos 60. Disse que não tem medo do vírus, mas respeito. No bolso da blusa, carregava um cartão com um símbolo que, segundo ela, protegia contra a doença. Ao tomar sua dose, saiu ainda mais serena do posto de saúde.
— Doeu nada, só a picadinha. Já estava me sentindo tranquila, agora, mais ainda. A gente fica mais confiante — disse a terapeuta.
Na fila do IAPI desde as 11h15min, Ortelina da Graça conseguiu ser vacinada logo após Deolinda, por volta das 14h15min. De acordo com funcionários da unidade de saúde, havia mulheres desde as 5h. No início da tarde, cerca de 200 formavam fila. Mas eram atendidas com certa rapidez. Na primeira hora de vacinação nas mulheres de 59 anos, em torno de 80 conseguiram ser atendidas.
Tricô para esperar sua vez
Já no posto de saúde Modelo, no bairro Santana, houve um atraso de pouco mais de uma hora para a chegada da remessa de vacinas. De acordo com a prefeitura de Porto Alegre, a demora foi porque o Estado só conseguiu entregar a nova carga que chegou na quarta-feira (2) ao Rio Grande do Sul no final da manhã desta sexta. O horário, no entanto, já havia sido anunciado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES).
Ciente de que iria encarar horas até tomar a sua dose, a secretária Eunice Esperandio puxou um tricô na fila de vacinação do Modelo, um séquito de mulheres que começava no número 145 da Jerônimo Ornelas e ia até a entrada do posto, próximo à Avenida João Pessoa.
— Não tinha dose para aplicar. A gente não sabe dizer sobre a logística da prefeitura. Deveriam chegar pela manhã, depois às 13h, e chegaram às 14h. Todo mundo deve ser vacinado até as 17h. É bem complicado. As mulheres reclamaram um pouco, mas ficaram felizes quando as doses chegaram — disse uma funcionária do Modelo, que não quis se identificar.
No posto de saúde São Carlos, no Partenon, a fila de mulheres era menor e não registrava problemas. A vacinação iniciou às 13h, conforme havia sido anunciado pela prefeitura. Auxiliar de serviços gerais em um condomínio, Giselda Santana ficou sabendo que poderia se imunizar contra o coronavírus pela manhã, quando viu o noticiário na TV. Ligou para o chefe pedindo permissão para faltar às primeiras horas de trabalho. Ele consentiu. Depois da primeira dose, Giselda se apressou para cumprir o resto da carga horária.
— Tenho que fazer limpeza. Tem uma torre para limpar — disse.
Gerente do posto São Carlos, a enfermeira Luana Machado Silveira afirmou que a vacinação por faixa etária simplifica a campanha: basta apresentar documento de identidade e comprovante de residência, diferentemente da imunização das pessoas com comorbidades, por exemplo, que demanda uma série de documentos e exames. Essa desburocratização, segundo a enfermeira, facilita para que a fila ande mais rápido.
— Fila por idade fica mais tranquilo. A de comorbidades tem laudo, receita, exames, e isso demora mais — argumentou.
Pergunta frequente
Um desafio diário dos profissionais da saúde neste momento da imunização é a pergunta, feita todos os dias, sobre a marca da vacina que está sendo aplicada. Havia quem entrasse no saguão do IAPI ou mesmo na sala de vacinação só para saber o seguinte:
— Qual vacina está sendo usada?
Recebida a resposta, ia embora. Para Rita, é um erro se importar com marca de vacina enquanto o Brasil registra um grande número de casos e mortes pela covid-19.
— Querem escolher a vacina. E a gente sempre diz que a melhor vacina é a que está disponível. Muitos, ao saberem a marca, vão embora. Preferem se expor à doença do que fazer a vacina — criticou.
Homens também
De acordo com a prefeitura de Porto Alegre, a vacinação ao público fora dos grupos de risco deve seguir neste sábado (5) em Porto Alegre. Além das mulheres, homens de 59 anos também poderão buscar sua dose nos postos de saúde Assis Brasil, São Carlos e Álvaro Difini, entre 9h e 15h. A campanha também vai acontecer nos drive-thrus do Big Sertório e da PUCRS — aqui, a imunização se estende até as 17h.
No domingo (6), as doses serão oferecidas somente na unidade móvel da Secretaria Municipal da Saúde, estacionada junto ao Banco de Alimentos, na Avenida Francisco Silveira Bitencourt, 1.928, no bairro Sarandi.
Colaborou Eduardo Pinzon