A Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre informou no final da tarde desta quarta-feira (5) que não haverá aplicação da segunda dose de Coronavac nesta quinta (6) por causa do baixo volume do imunizante. A orientação é para que as pessoas não façam filas à noite, nem pela manhã cedo, já que não haverá essas aplicações.
As cerca de 11 mil doses que foram disponibilizadas pela Secretaria Municipal de Saúde foram rapidamente consumidas durante esta quarta, afirma a secretaria.
A expectativa é de que cheguem novas remessas do Ministério da Saúde nos próximos dias, quando se poderá retomar as segundas aplicações de CoronaVac.
Atraso na segunda dose da CoronaVac é prejudicial?
O intervalo entre doses superior ao recomendado pelo fabricante da CoronaVac ainda não tem seus efeitos conhecidos, apontam especialistas. Em bula, o Instituto Butantan, que fabrica essa vacina contra a covid-19 no Brasil, recomenda de duas a quatro semanas entre a dose 1 (D1) e a dose 2 (D2), porém, a escassez do imunizante tem aumentado essa lacuna.
No Rio Grande do Sul, levantamento feito pela Secretaria Estadual da Saúde (SES) com dados compilados até a última sexta-feira (30) mostrou que faltam 40.470 doses para concluir o esquema vacinal de idosos que receberam o imunizante da remessa distribuída em 20 de março. Nesta terça (4), esse grupo completa 45 dias de intervalo entre doses (considerando a data de distribuição). Os resultados dessa ampliação são desconhecidos:
— É pular no escuro. Podemos pular e ter uma piscina maravilhosa nos esperando. Pode ser que melhore o efeito da vacina, ou pode reduzi-lo. Ninguém sabe — avalia o doutor em Epidemiologia Paulo Petry, que é professor da Faculdade de Odontologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
As incertezas são justificadas pela ausência de estudos que avaliem essa flexibilização nos prazos entre as vacinas, explica Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Conforme o médico, diferentemente de outros imunizantes, como Pfizer e AstraZeneca, a CoronaVac não foi testada com intervalos diferentes. O que se sabe de eficácia diz respeito ao intervalo de duas a quatro semanas usado nos ensaios clínicos. Portanto, não se pode avaliar perdas ou ganhos de um período maior.
— Não estou dizendo que é melhor ou pior. Mas, com a CoronaVac, estamos no campo do desconhecido. Pode ser que seja até melhor, ou pode haver perdas. Não temos essa informação. A recomendação é não atrasar — salienta.
Petry lembra que esticar o período entre doses foge da recomendação do fabricante e pode ser classificado como algo preocupante:
— Isso é ruim, é uma má notícia. Eu ficaria preocupado com esse atraso, pois não se sabe o que pode acontecer.
Kfouri reforça que pessoas que ainda não completaram o esquema, por qualquer razão, devem fazê-lo o quanto antes. Por outro lado, diz o diretor da SBIm, jamais se deve recomeçar o esquema:
— O esquema é terminado com a dose subsequente, independentemente do tempo de atraso.
A SES informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não tem previsão de chegada de um novo lote de CoronaVac ao Estado.