Cartazes com letras do alfabeto, quadro negro com a inscrição “números decimais” e marcações no chão indicando o posicionamento das classes: uma sala de aula do Ensino Fundamental foi o cenário escolhido para o primeiro dia de vacinação contra a covid-19 de professores e profissionais da área em Campo Bom.
A primeira dose foi aplicada pouco depois das 8h desta quarta-feira (12) no braço da professora Ana Paula Fiuza, 48 anos, diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Octacílio Ermindo Fauth e da Escola Municipal de Educação Infantil Dedinho de Ouro, que funcionam no mesmo espaço e somam 208 alunos. Mesmo usando máscara e escudo facial, ela não escondia a alegria no rosto:
— Emocionadíssima. Eu tenho 26 anos de município e sempre defendi que lugar de criança na escola. Eles estão mais protegidas aqui do que fora.
Em meio ao barulho de crianças, que faziam atividades em outros espaços, era possível ouvir aplausos e gritos de alegria dos profissionais por terem recebido a vacina. Para eles, o imunizante traz mais segurança e, consequentemente, confiança por parte dos pais:
— Tenho 15 alunos na turma, mas estão vindo cinco. Agora com a vacina, será um momento mais tranquilo para trabalhar, e acredito que mais possam vir. É a esperança de que tudo volte ao normal —projeta a professora Regina Klein, 45 anos.
Entre quarta e sexta-feira (14), serão vacinados cerca de 1,8 mil profissionais, entre professores e trabalhadores da cozinha, faxina e setor administrativo. Tanto as escolas públicas quanto as privadas serão contempladas — neste primeiro dia, o foco é na Educação Infantil e Ensino Fundamental da rede municipal.
Depois, serão contemplados os colégios da rede estadual e privada, além dos cursos profissionalizantes e Educação de Jovens e Adultos.
Zedi de Castro, 53 anos, que trabalha na área da cozinha, encheu os olhos de lágrimas enquanto conversava com a reportagem de GZH:
— Eu não parei em nenhum momento, porque a gente fazia o almoço que as crianças levavam para casa. A gente estava inseguro. Quando veio a notícia da vacina, a gente vibrou. Temos que estar imunizados por causa das crianças e da nossa família. Foi uma emoção muito grande.
Equipes vão às escolas para vacinar
Quatro equipes volantes se dividem em itinerários diferentes e passam nas escolas. Quem se vacina leva para casa, além de um sorriso, a carteirinha com o registro da dose de Oxford/AstraZeneca.
A Escola Municipal de Educação Infantil Aquarela também foi uma das contempladas. Boa parte das crianças está indo às aulas, mas a expectativa é de que, com a imunização, o número possa aumentar.
— Acredito que os pais terão mais segurança de deixar os filhos. Receber a vacina é uma emoção muito grande. A gente entende a importância de estar na escola, de estar aqui, mas recebendo a vacina nos sentimos preparados e valorizados — relata a diretora Isabela Lang Bressani, 27.
A trabalhadora da cozinha Luciane Saibert dos Santos, 48, respira aliviada por poder, nos próximos dias, voltar para casa com mais segurança ao fim dos turnos de trabalho:
— A gente fica apreensivo porque, tendo pessoas idosas em casa, pode ser transmissor. Eu estava cozinhando todo o tempo, fazendo marmitas, então não parei nunca. Os cuidados continuam, mas a gente fica mais tranquilo para trabalhar e atender as crianças.
A prefeitura estuda fazer, no sábado, um dia extra de vacinação para os trabalhadores da educação que não conseguiram estar na escola no dia da aplicação das doses. Além disso, o que estão com diagnóstico positivo para a covid-19 serão vacinados em outra oportunidade.
Baixa procura entre pessoas com comorbidades
A prefeitura de Campo Bom conseguiu ampliar a vacinação para profissionais da educação porque já finalizou a imunização de outros grupos previstos no Plano Nacional de Imunização.
Dentre as pessoas com comorbidades, o objetivo era vacinar cerca de 5,4 mil pessoas, mas pouco mais de metade procurou os postos de saúde. Assim, a prefeitura foi baixando a faixa etária autorizada a receber as vacinas, até que chegou aos 18 anos.
— Os números podem estar defasados. A pessoa pode ter se mudado, falecido e até estar com a doença mais branda, ou pode não querer se vacinar. Assim, fizemos uma análise do plano e fomos avançando — explica o secretário de saúde, João Paulo Berkembrock.
Após o grupo das comorbidades, foi a vez de moradores de rua, pessoas com deficiência permanente sem Benefício de Prestação Continuada (BPC) e funcionários do sistema prisional — como não há presidio na cidade, esta etapa foi rápida.
Para o prefeito Luciano Libório Baptista Orsi, a organização das equipes da prefeitura foi essencial para que se pudesse avançar rapidamente:
— A ideia era cumprir o mais rápido possível com todos os grupos do plano, e a gente conseguiu. Lugar de vacina é no braço.