Pelo calendário escalonado estabelecido pelo governo e por algumas escolas que ainda não reabriram nesta segunda-feira (3), o retorno às aulas na rede estadual era de movimento baixo pela manhã.
Na Escola Estadual de Educação Básica Gomes Carneiro, na Vila Ipiranga, 18 estudantes retornam nesta manhã, em duas turmas: 12 alunos de primeiro ano do Ensino Fundamental e seis alunos de segundo ano. A diretora, Susana Silva de Souza, diz que a adesão é de quase 100%. O retorno, no entanto, era tranquilo na escola porque o governo do Estado estabeleceu um cronograma de forma escalonada.
Para demarcar o espaço de cada aluno, balões amarelos foram colados nas classes da turma do primeiro ano. Antes mesmo de começar as atividades, a professora Daniela Mendes fez algumas combinações com os pequenos:
— Ali tem álcool gel, não podemos tirar a máscara, precisamos chegar e sair da escola de máscara. Só pode tirar na hora do lanche. Mas não pode ir na mesa do coleguinha. A profe vai fazer de tudo para que seja divertido e legal, mesmo que diferente — disse, ao receber os alunos.
Ansioso com o retorno às atividades presenciais, Gabriel Brasil, seis anos, posava para foto ao lado da mochila do personagem Sony antes de ingressar na escola. Aluno do primeiro ano, o menino passou o último ano em casa.
— Para não ter perda, nós pagamos professor particular para ele — conta o pai, Rafael Brasil.
Na Zona Sul, na escola Matias de Albuquerque, também eram recebidos alunos.
Já na Escola Estadual de Ensino Médio Infante Dom Henrique, no bairro Menino Deus, uma servidora foi vista trabalhando no prédio público. Não havia aula na instituição, ou qualquer movimento de pais ou estudantes.
No mesmo bairro, a Escola Estadual de Ensino Fundamental Mané Garrincha também tinha portas fechadas às 8h30min. Segundo a diretora, Resplande de Sá, não há previsão de retorno, pois faltam condições estruturais no prédio para a volta das atividades presenciais.
— O refeitório é uma sala improvisada, não tem espaço. E as demais, têm pouca ventilação, são quentes — detalha.
A docente afirma que na comunidade há muitos relatos de contaminados pelo coronavírus, e que isso assusta os professores. Dos 43 profissionais, apenas um tem as duas doses da vacina CoronaVac, informa a diretora.
— Não paramos de trabalhar nunca, o que queremos é continuar remoto até ter segurança — complementa.
A escola Mané Garrincha tem ensino integral do primeiro ao quarto ano do Ensino Fundamental. Turno regular do quinto em diante. Ao todo, são 380 alunos, segundo a direção.
O Colégio Estadual Coronel Afonso Emílio Massot, no bairro Azenha, está aplicando uma pesquisa entre familiares dos matriculados. Conforme a vice-diretora Neiva Lazzarotto, haverá reunião com professores para decidir o planejamento nos próximos dias.
— Sabemos de muitas que também não vão abrir — conta.
No Colégio Estadual Carlos Fagundes de Melo, no bairro Humaitá, também não havia movimento de alunos, e um cartaz na grade da instituição convocava os pais para, nesta semana, comparecerem para assinar um termo de responsabilidade referente ao retorno às atividades presenciais. No mesmo bairro, a Escola Estadual de Ensino Fundamental Oswaldo Vergara, também estava de portas fechadas.
A Escola Estadual de Educação Básica Presidente Roosevelt, no Menino Deus, está em luto. Após dois meses internado, o secretário José Ricardo morreu por complicações do coronavírus. “Direção, professores e funcionários da escola presidente Roosevelt de luto pelo falecimento do colega José Ricardo, secretário da escola, mais uma vítima da covid-19”, anuncia um cartaz colado no portão.
Fátima Azeredo, vice-diretora, cita o caso e diz que o temor se espalha entre os demais.
— Não temos condições básicas, de limpeza, nem número de funcionários, e há o risco de contaminação. De onde vêm os professores? De ônibus, aglomerados — afirma.
A assistente financeira Dulce Delan rechaça afirmações de que os servidores não querem trabalhar:
— Queremos trabalhar, estamos trabalhando muito mais. Mas estamos preocupados em nos mantermos vivos.
A escola não pretende retornar nesta semana.
A reportagem contatou a Secretaria Estadual da Educação e aguarda resposta sobre as críticas dos diretores das instituições.
Reclamação sobre qualidade das máscaras
O clima na Escola Estadual de Ensino Fundamental Matias de Albuquerque era de reencontro, mesmo que breve. A instituição do bairro HÍpica, na zona sul da Capital, recepcionou as famílias para a entrega de polígrafos e um kit contendo máscara de pano, lápis com borracha e um pirulito. Os responsáveis pelos alunos tiveram que assinar um termo de responsabilidade, no qual informam a opção pelo ensino remoto ou presencial. Manter os filhos em casa é o pedido da maioria, segundo a diretora, Cláudia Adriana de Souza Campos.
— Menos de 10% querem voltar, isso porque temos o polígrafo e um trabalho muito forte no ensino remoto — destaca.
Uma sala teve as classes separadas, com carteiras interditadas para evitar lotação. Caso algum estudante fosse à instituição pedindo para ter as lições, ele seria atendido, segundo a direção. Os docentes e demais trabalhadores do colégio usam uma máscara de camadas triplas, doação de uma empresa do bairro Restinga. O acessório entregue aos alunos é o que foi remetido pelo governo do Estado.
O vigilante Gilmar Martins Gonçalves, 51 anos, optou por continuar com a educação remota para a filha Larissa, nove anos.
— Como ainda não tem vacina para os professores, é arriscado. Eu tenho medo que a Larissa leve o vírus pra mim ou minha esposa ao vir para a aula — justifica.
Já a costureira Cristina Pereira de Souza, 31 anos, acredita que, em casa, Henrique, nove anos, e Helena, sete, aprendem menos:
— Assinei para voltar. Estudar desse jeito não é o mesmo que aqui, na escola.
A máscara enviada pela Secretaria da Educação também desagradou professores da Escola Estadual de Ensino Fundamental Paraíba, bairro Aberta dos Morros, na Zona Sul. Uma caixa com 4 mil acessórios não deve ser distribuída aos servidores. A máscara é de pano e, se colocada contra a luz, demonstra ser muito fina, com frestas visíveis, o que não é ser recomendado por especialistas, por dar menor proteção. É estreita demais para o rosto de alguns professores, segundo a diretora, Maria de Lurdes Soares. A educadora usava uma máscara N95, recomendada por especialistas como de maior segurança.
— Eu tive que comprar com meu dinheiro, mas sabemos que muitos não têm condições - afirma.
A vice-diretora, Raquel Luz Mateus, conta que colegas tiveram que descartar a máscara após a primeira lavagem. O item descosturou precocemente.
A reportagem de GZH questionou a Seduc sobre as máscaras, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
A EEEF Paraíba tem quase 1,2 mil alunos, e passa por um período de adaptação do amplo espaço. Não há ainda previsão para o retorno das aulas presenciais.
O que diz a SES
A SES enviou nota sobre as máscaras. Confira a íntegra:
"Foram disponibilizados dois modelos de máscaras para os estudantes, professores e servidores da rede estadual de educação: de tecido e descartáveis.
- As máscaras fornecidas pelo Estado são confeccionadas com mais de uma camada de tecido, conforme preconizado pelo Ministério da Saúde.
- Elas devem ser ajustadas evitando lacunas nas laterais do rosto ou nariz. A máscara de pano deve ser de um tecido respirável, mas feita de um material bem trançado/fechado.
- Devem ser usadas duas descartáveis ou então a descartável por baixo e uma de pano por cima.
- Não devem ser utilizadas máscaras com válvulas de exalação ou respiradouros."
Calendário de retorno para as aulas presenciais na rede estadual
- 3/5 – Educação Infantil e 1º e 2º anos do Ensino Fundamental
- 5/5 – 3º, 4º e 5º anos do Ensino Fundamental
- 7/5 – Anos finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano)
- 10/5 – 1º ano do Ensino Médio
- 12/5 – 2º e 3º anos do Ensino Médio
- 13/5 – Ensino Técnico e Curso Normal
Calendário para escolas com somente Ensino Médio, escolas EJA e Neejas, escolas com somente educação profissional e escolas especiais
- 3/5 e 4/5 – Organização das escolas
- 5/5 – Aulas presenciais