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Caxias do Sul avança em faixas etárias previstas na primeira fase da campanha contra covid-19, a cada semana. Com a imunização dos idosos de 77 anos ou mais, que iniciou nesta segunda-feira (15), o município deve concluir a primeira fase da campanha, que prevê a imunização de idosos com 75 anos ou mais, até o final desta semana. Até a última sexta-feira (12) 24.422 pessoas já haviam recebido a primeira dose do imunizante. Destas, apenas 8.476 já receberam as duas doses. É preciso lembrar que há uma diferença no intervalo de tempo entre as vacinas CoronaVac e Oxford. No caso da CoronaVac, a recomendação da Secretaria Estadual da Saúde (SES) é de que o intervalo entre a primeira e a segunda dose seja de 28 dias. No caso da vacina de Oxford, o prazo indicado é de 12 semanas.
De acordo com a estimativa da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), a segunda fase da campanha prevê a vacinação dos idosos de 60 a 74 anos, que são do grupo de risco. De acordo com essa projeção 41,6 mil pessoas devem ser imunizadas. Ainda não há data para que esse grupo comece a ser vacinado. (Confira os grupos). A ansiedade aumenta a sensação de lentidão em relação a aplicação das vacinas:
— Precisamos de muitas doses dado que o regime é de duas doses, dado que estamos em crise e precisamos vacinar rápido . Diferente de campanhas da gripe que o público alvo é mais voltado para idosos (entre outros), aqui nosso público alvo é imenso. Temos muitos suscetíveis na população de diferentes faixas etárias, então o público alvo é muito grande mesmo e temos que vacinar todo ele para poder proteger a sociedade com a imunidade de grupo — ressalta a biomédica e doutora em neurociências pela UFRGS, Mellanie Fontes-Dutra.
Ela atua na Rede Análise COVID-19, equipe Halo da ONU, grupo InfoVid, Todos Pelas Vacinas e União Pró-Vacina. Para a biomédica, aumenta a necessidade de vacinação rápida em virtude do colapso dos sistemas hospitalares e do surgimento de novas variantes que potencialmente são mais transmissíveis ou possivelmente escapam da resposta que pessoas recuperadas têm:
— Precisamos vacinar recuperados e suscetíveis para gerar proteção contra as variantes, porque podemos ver casos de reinfecção como já tá sendo notificado em alguns locais. Também precisamos de mais imunizantes e de mais doses daqueles que já temos: para poder distribuir mais doses por todos os Estados brasileiros.
Para ela, acordos diplomáticos devem ser estabelecidos para trazer vacinas de farmacêuticas cuja eficácia já é conhecida ou já estão aprovadas em outros locais para a análise da Anvisa. O item crucial para Mellanie é a necessidade de medidas ainda mais restritivas.
— Países que estão tendo sucesso, estão vacinando em massa e aplicando medidas restritivas intensas. Israel está com vacinação e lockdown. Assim atacamos o problema em diferentes frentes: ao passo que protegemos a população com vacinação em massa, reduzimos ao máximo a transmissão do vírus com as medidas restritivas, mantendo o sistema de saúde funcionando e abraçando as pessoas que precisam dele. Claro que Israel é um local muito menor que o Brasil, mas Estados brasileiros podem observar esse exemplo para aumentar as restrições enquanto se vacina — destaca.
Já o caxiense Isaac Schrarstzhaupt, consultor que tem se dedicado a fazer análises sobre os números da pandemia, aponta que a vacinação tem que ser medida em cobertura vacinal, ou seja, quantas pessoas daquelas determinadas faixas etárias prioritárias estão sendo vacinadas com as duas doses.
— O que vemos aqui no Brasil, é uma quantidade grande de pessoas vacinadas em número absoluto, mas é uma quantidade pequena de pessoas vacinadas dentro das faixas etárias em relação ao que precisa. Essa é a lentidão.
Schrarstzhaupt acredita que a lentidão seja em função da falta de vacinas:
— Eu acredito que seja pela falta de vacinas mesmo, pois se vacinar na velocidade que temos condição, as vacinas acabariam em um piscar de olho. Não sabemos se a estrutura foi desmontada, a estrutura que tínhamos no PNI, mas se tivermos um monte de doses disponíveis, creio que a estrutura do plano vai dar conta.
Apesar de mais lenta, primeira fase da vacinação deve encerrar até a sexta-feira
A previsão é de que a primeira fase do público-alvo seja concluída até a sexta-feira. A primeira dose do imunizante é aplicada, em formato drive-thru na Maesa e nos Pavilhões da Festa da Uva, em idosos de 77 anos ou mais, até as 17h desta segunda. Na terça-feira (16), será a vez dos idosos de 76 anos ou mais; e na quarta-feira (17), quem tem 75 anos ou mais. A imunização nestes três dias é no modelo drive-thru. Aqueles que não puderem comparecer nestes dias devem procurar sete unidades básicas de saúde na quinta (18) ou na sexta-feira (19) para receber a imunização. Os postos dos bairros Cruzeiro, Esplanada, Vila Ipê, Reolon, Desvio Rizzo, Eldorado e Cinquentenário aplicarão as doses das 9h às 16h.
A orientação é de que as pessoas destes grupos compareçam ao mesmo local onde receberam a primeira dose, no dia marcado na carteira de vacinação, para garantir a imunização. É preciso levar o cartão de vacinação, documento com foto, CPF e o Cartão SUS (se tiver).
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— A estimativa é que em torno de sete mil idosos estejam na faixa etária de 75 a 79, sendo que parte deles já foi vacinada. Então uma parte já está imunizada com a primeira dose. A vacinação está avançando e temos as doses para garantir a imunização desses grupos — afirma a diretora da Vigilância em Saúde de Caxias do Sul, Juliana Argenta Calloni.
Sobre a lentidão da vacinação, ela aponta que é uma imunização diferente. Em campanhas como da influenza, por exemplo, o município já conhece antecipadamente o público alvo e as vacinas são aplicadas ao mesmo tempo:
— Sabemos que há essa ansiedade, esse medo e há urgência em busca da imunização, tanto que há cerca de duas semanas o drive-thru da segunda-feira teve um movimento gigantesco e no dia seguinte a vacinação foi tranquila.
Os idosos podem se vacinar no decorrer do dia reservado para cada faixa etária, não há necessidade de formação de filas antes da abertura dos serviços.
— A secretaria optou por um método diferente para evitar aglomeração, e por isso, pedimos que seja priorizado esse tipo de modalidade. Além de não ter circulação e contato entre os idosos, eles ficam mais confortáveis, e menos expostos. Não tivemos aqui em Caxias registros de idosos esperando um longo tempo de pé para serem vacinados — afirma ela.
Juliana ressalta ainda que não há previsão para a chegada de novas doses. Ela considera que o processo tem sido positivo, e lembra que o objetivo da vacina é reduzir o número de mortes em decorrência do vírus:
— Temos acompanhado diariamente o número de óbitos e de casos. Percebemos um maior número de casos em pessoas mais jovens e ocupação de leitos, mas o número maior de óbitos ainda é de idosos. Ele são mais frágeis quando contaminados. Até hoje, a cidade registrou 554 óbitos e, desses, 474 são idosos. Isso corresponde a um índice de 85% das mortes em decorrência de covid-19. Por isso, é importante que eles sejam imunizados.
Com vacinação lenta, cuidados devem ser redobrados
A coordenadora da Infectologia do Hospital Geral (HG) de Caxias do Sul, médica Viviane Buffon, orienta a população a manter todas as medidas de distanciamento físico, bem como o uso de máscaras e higienização com álcool gel.
— Até o momento, não modifica em nada as medidas. Temos ainda um longo caminho até flexibilizar os cuidados.
Ela ressalta que a porcentagem de vacinados está abaixo do esperado, tendo em vista a aceleração do número de casos e o tempo em que a pandemia começou:
— Estamos com menos de 5% da população brasileira vacinada. O RS está entre os cinco Estados que mais vacinaram até o momento. No entanto, ainda é muito pouco para termos uma mudança na curva de incidência de casos por covid-19. A vacinação é fundamental e segura. Entretanto, precisamos vacinar mais e mais rápido — aponta Viviane.
A infectologista do Hospital do Círculo, Geórgia Torresini, ressalta que, além das medidas de distanciamento e restrição de circulação, a vacinação é um pilar importante quando se pensa em término da pandemia:
— Há cerca de um ano, foi identificado na China o sequenciamento genético do vírus, e a partir daí as vacinas foram fabricadas. Estamos, sim, infelizmente, com uma velocidade lenta quando falamos em vacinação, e por isso as doses que chegam são limitadas. Esse atraso nas vacinações impacta com a resolução da pandemia — avalia a médica.
Ela finaliza:
— Ainda é cedo para medir os benefícios da vacinação no Brasil, mas nos países em que a vacinação está mais avançada foi identificada redução no risco de infecção e hospitalizações.
Orientação
Quem já recebeu a primeira dose deve aguardar a divulgação do cronograma para a segunda aplicação.
Os idosos que não puderam fazer a segunda dose na última semana não devem comparecer ao drive-thru desta semana. Esses idosos de mais de 80 anos devem procurar, nesta segunda-feira, a mesma Unidade Básica de Saúde (UBS) onde receberam a primeira dose: Cruzeiro, Esplanada, Desvio Rizzo, Eldorado, Fátima Alta, Reolon ou Vila Ipê, até as 16h.
Quem testou positivo para o coronavírus não deve ir se vacinar: é preciso aguardar 30 dias após a data da confirmação da doença para receber a imunização, seja ela primeira ou segunda dose. No caso daqueles que apresentam sintomas respiratórios (sem confirmação de covid-19), é preciso aguardar até a resolução do quadro, com o término dos sintomas.
As quatro fases da campanha
1ª Fase:
16,7 mil - trabalhadores de saúde
1,5 mil - pessoas de 60 anos ou mais institucionalizadas (incluindo funcionários)
7,5 mil - idosos de 80 anos ou mais
6,8 mil - idosos de 75 a 79 anos
2ª Fase
41,6 mil - idoso de 70 a 74 anos, de 65 a 69 anos e 60 a 64 anos
3ª Fase
17,9 mil- pessoas com comorbidades
4ª Fase
3,5 mil - professor, nível básico e superior
1,3 mil - servidores das forças de segurança e salvamento
400 - funcionários do sistema prisional