O Rio Grande do Sul vai descobrir, nos próximos dias, qual o nível atual de contaminação por coronavírus em nove cidades gaúchas monitoradas pela pesquisa Epicovid-RS, coordenada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Um mês após a última etapa, os pesquisadores vão a campo novamente entre sábado (25) e segunda-feira (27) para aplicar 4,5 mil testes rápidos. Os resultados devem ser conhecidos até quinta-feira (30).
A pesquisa é realizada desde abril nas mesmas cidades. As quatro primeiras fases foram realizadas com intervalo de duas semanas. A partir de então, o inquérito tem sido feito mensalmente.
O estudo é semelhante a uma pesquisa eleitoral. Os pesquisadores aplicam, aleatoriamente, 4,5 mil testes rápidos – que identificam se a pessoa já teve contato com o vírus e produziu os anticorpos. A partir dos resultados dos testes, é feita uma estimativa do cenário estadual de contaminação.
No primeiro inquérito, entre 11 e 13 de abril, apenas dois dos 4,5 mil testes rápidos deram positivo. Com isso, os epidemiologistas estimaram que 5.650 gaúchos já haviam sido contaminados – ou uma pessoa infectada a cada 2 mil habitantes.
No último inquérito, realizado de 26 a 28 de junho, houve 21 positivos entre os 4,5 mil testes rápidos aplicados. Extrapolando o resultado para toda a população gaúcha, os pesquisadores apontaram que havia 53.094 pessoas contaminadas – ou uma pessoa infectada para cada 214 habitantes.
Além de estimar a contaminação, a sequência de fases da pesquisa permite avaliar a velocidade de expansão da doença, o percentual de pessoas assintomáticas e a letalidade do vírus.
A sétima fase da pesquisa está prevista para ocorrer entre 22 e 24 de agosto e a oitava, entre 26 e 28 de setembro. As cidades monitoradas são: Porto Alegre, Canoas, Caxias do Sul, Pelotas, Uruguaiana, Santa Maria, Ijuí, Passo Fundo e Santa Cruz do Sul.
O custo da realização das oito fases previstas é, segundo a assessoria da UFPel, R$ 2,1 milhões. Os testes usados são repassados pelo poder público e os custos da pesquisa são bancados pelo Instituto Serrapilheira, do Rio de Janeiro, pela Unimed Porto Alegre e pelo Instituto Cultural Floresta, também da Capital.
Mesma pesquisa foi interrompida pelo governo federal
Uma pesquisa com os mesmos termos foi realizada nacionalmente, por três fases, entre maio e junho. Ao todo, foram aplicados 89,3 mil testes em 133 cidades, espalhadas por todos os Estados. No conjunto dessas cidades, o percentual da população com anticorpos para coronavírus foi de 1,9% na primeira fase, 3,1% na segunda fase e 3,8% na terceira fase.
Após a realização das três fases inicialmente previstas, a pesquisa foi suspensa pelo governo federal. O coordenador da pesquisa, Pedro Hallal, disse acreditar, nesta semana, que a decisão do governo Bolsonaro de interromper a pesquisa é “totalmente política”:
— A gente não sabe se eles não gostaram do resultado, se eles acham que tem algum componente ideológico, se eles só querem fazer pesquisa com quem vota neles — disse. — O governo federal olha os resultados da nossa pesquisa e gosta ou não gosta. Ministério não tem que gostar ou não gostar do resultado, tem de usar a política para proteger a população — complementou Hallal.
Em passagem por Porto Alegre, nesta semana, o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que a pesquisa estava "muito regionalizada" e faltava uma "triangulação de ideias".
— A pesquisa estava muito boa, mas com dificuldade de ter uma posição nacional. Para efeito de Brasil, a gente precisaria mudar alguns focos do que foi contratado com a universidade, e a gente está discutindo isso. A pesquisa, dessa forma, ficou muito regionalizada e tivemos dificuldade de transferir o raciocínio e fazer uma triangulação das ideias para efeito de Brasil como um todo. O Brasil é muito heterogêneo, e precisaríamos de pesquisas individualizadas em cada região do país. É o que estamos avaliando — disse Pazuello.
Depois, por meio de nota, o Ministério da Saúde informou que "dará continuidade a estudos de inquérito epidemiológico de prevalência de soropositividade na população. Ainda não está definido se será a continuação do Epicovid19-BR, pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) ou por outra instituição, ou PNAD Covid, pelo IBGE. Uma alternativa em estudo é utilizar ambas as estratégias".