Fechados desde março em razão do distanciamento social, igrejas e templos religiosos poderão retomar as atividades presenciais em Porto Alegre. Publicado na noite de terça-feira (19), um decreto assinado pelo prefeito Nelson Marchezan autorizou a realização de missas e cultos na Capital. Assim como em outros setores, a retomada terá de observar regras estritas: a limitação do número de pessoas a 30 por vez e o distanciamento de dois metros entre elas são obrigatórias nas celebrações.
Sem missas há mais de 60 dias, a Igreja São Manoel, no bairro Mont’ Serrat, não perdeu tempo. O padre João Tadeu da Silva marcou para as 18h30min desta quarta-feira (20) a primeira missa dentro das novas regras.
Segundo o pároco, a igreja não deve exigir o controle do acesso de fiéis, uma vez que o movimento das celebrações durante a semana costuma ser mais modesto do que aos sábados e domingos — aos finais de semana, cogita aumentar o número de celebrações para dar conta de atender a todos. Ainda assim, assegura que haverá ministros da igreja orientando os fiéis para que respeitem as regras de distanciamento.
— Vamos ir catequizando as pessoas para não ter aglomeração — diz.
Trinta minutos antes da missa, um funcionário da Paróquia São Pedro, no bairro Moinhos de Vento, um funcionário arrastava bancos para o canto da nave. Na entrada, um tubo grande de álcool gel estava a disposição daqueles que chegavam. Uma fita amarela e preta impedia o acesso aos bancos. No espaço aberto, no centro da Igreja, foram instaladas 30 cadeiras de couro sintético, de fácil higienização, para receber os fiéis.
Cinco minutos antes da missa, a enfermeira Vera Maria, de 60 anos, sentou-se em uma das cadeiras. Ela ligou para paróquias de Porto Alegre para saber onde poderia entrar e orar.
— Eu descobri que aqui teria missa hoje e decidi vir. Tem todo um outro sentido a presença. Isso não pode ser substituído por uma imagem da televisão. Graças a Deus, voltou — disse.
Às 18h, o padre Luciano Massullo, utilizando um protetor facial, deu início à celebração. Os fiéis utilizavam máscaras, o que abafou parte das respostas.
— Estamos nos adaptando para fazer tudo da forma mais correta possível. Foi um pouco diferente ver todos de máscara. Mas é muito bom poder celebrar missas para a nossa comunidade — comentou ele. O padre passou por uma situação inusitada enquanto realizava a missa.
— Na hora de comungar, eu não percebi que estava com o protetor facial, e bati com a hóstia na proteção. Mas está tudo certo. É uma coisa nova — brincou o pároco.
Ao fim da missa, a sensação dos presentes foi de emoção. A aposentada Elaine de Castro, de 61 anos, frequentadora da missa, estranhou o número menor de participantes e a disposição das cadeiras, mas se disse ter tido uma sensação boa em retomar as orações em uma Igreja após o período de reclusão.
— A participação foi diferente, a quantidade também. Mas é muito emocionante retomar a missa e ter um encontro aqui com Deus — comentou.
Na tarde desta quarta-feira, o arcebispo metropolitano Dom Jaime Spengler emitiu uma nota às igrejas reforçando a importância de seguir as regras do distanciamento, disponibilizar álcool em gel e orientar fiéis com sintomas gripais a acompanharem as cerimônias pela internet. A comunhão também deve sofrer alterações: segundo o religioso, deve ser entregue por um único diácono, na mão do fiel.
"Estamos preparando os nosso espaços litúrgicos para acolher a todos que desejam participar pessoalmente das celebrações. Divulgamos orientações para o clero e enviamos cartazes para serem afixados nas igrejas. O nosso foco é o cuidado e a proteção da vida de cada uma das pessoas", disse o arcebispo em nota.
Já entre as igrejas evangélicas de matriz luterana, a liberação do poder público não deve motivar a retomada dos cultos. Por precaução, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) orientou as sete unidades da Capital a permanecerem fechadas, pelo menos até o fim de maio: “podemos fazer um sacrifício de amor e esperar por mais um tempo”, diz o documento enviado pela IECLB.
Outras vertentes evangélicas também escolheram esperar para abrir as portas aos fiéis. Segundo o pastor Mauricio Martins, da Brasa Church, a igreja, que recebe cerca de mil pessoas por mês, não tem planos de retomar as atividades presenciais enquanto houver risco de contaminação pelo coronavírus.
— Paramos uma semana antes porque temos alguns médicos que frequentam a igreja, e acharam que seria saudável. Vamos continuar fazendo os cultos pela internet e retomar com muito cautela, porque estamos preocupados com a segurança das pessoas — conta.
Entre os pastores de igrejas batistas da Capital, a liberação da prefeitura, foi recebida como um balde de água fria. Segundo o presidente da Ordem dos Pastores Batistas, Paulo Cabral, a limitação de pessoas a 30 por culto dificulta a organização e realização das celebrações.
— Trinta pessoas é o que eu preciso só para organizar o culto. Nossa comunidade reúne 600, 700 pessoas por culto. Conseguir colocar pelo menos 200 bem espaçadas — argumenta o pastor, que comanda a Igreja Batista Passo D’Areia, na Zona Norte.
Cabral acredita que somente igrejas muito pequenas deverão retomar as atividades nesse formato. A expectativa das demais, segundo ele, é de uma nova flexibilização, indexada à capacidade de ocupação dos templos.
A prefeitura diz que optou por restringir o número de fiéis por cautela. Segundo o secretário extraordinário de Enfrentamento do Coronavírus, Bruno Miragem, a mudança as regras irá depender de como o cenário de contágio e ocupação do sistema de saúde se desenrolar nas próximas semanas.
— Esse é um primeiro passo. Optamos por ser mais prudentes no primeiro momento, mas, se mantivermos a estabilidade no contágio, podemos avançar — diz.
Nas igrejas pentecostais, o primeiro dia de reabertura foi de movimento baixo. Das principais igrejas localizadas no centro da Capital, apenas duas realizavam cultos com maior frequência. As regras estabelecidas no decreto foram cumpridas. Nos locais visitados por GaúchaZH havia o controle do número de fiéis que acessavam os templos e disponibilização de álcool gel na entrada. Dentro das igrejas, os bancos foram marcados para garantir o distanciamento entre as pessoas.
Na Igreja Internacional da Graça de Deus, o acesso só era possível por meio de senha, e um funcionário fazia a distribuição de álcool gel na entrada.
Tire dúvidas sobre o funcionamento de igrejas e templos religiosos na pandemia
Quais é o limite de circulação?
As restrições impostas pela prefeitura referem-se especialmente à ocupação dos templos religiosos. Cultos, missas e similares podem ser realizados, de forma presencial, para até 30 pessoas ao mesmo tempo. A lotação também não pode ultrapassar 50% da capacidade máxima prevista no PPCI.
Quais as regras de distanciamento?
Dentro dos templos, a distância mínima entre as pessoas deve ser de dois metros.
É preciso usar máscara?
O decreto municipal não prevê a obrigatoriedade do uso de máscaras. Pelas regras estaduais, no entanto, todos devem utilizar máscaras de proteção em locais públicos.
Será permitido comungar?
Segundo a prefeitura, não há restrições de qualquer tipo aos rituais praticados por cada religião. O arcebispo metropolitano orienta que a Sagrada Comunhão seja distribuída por um único presbítero ou diácono, e que seja entregue exclusivamente em mãos.
Serão permitidos encontros de grupos?
Atividades dentro do templo podem ocorrer, desde que respeitem as mesmas regras das missas e cultos.
São permitidos eventos beneficentes?
Não.