Uma mensagem adesivada no piso do supermercado alerta: "Para preservar a saúde de todos, respeite a distância". O lugar de cada cliente na fila passou a ser demarcado, mantendo um hiato de 1,5 metro entre os consumidores. Já a atendente segue no caixa, mas agora usa uma máscara de acrílico cobrindo todo o seu rosto, desde a testa até o queixo.
A pandemia do coronavírus transformou hábitos corriqueiros e impôs um novo código de convivência desenhado para conter o contágio. Publicadas em decretos e estampadas em cartazes, as regras ditam diretrizes diante do risco. Hoje, normas de higiene balizam todas as atividades da vida em comunidade, sendo sintetizadas pelos especialistas em apenas um mantra: fique longe dos outros.
— Essa pandemia veio para mudar todos os nossos comportamentos — resume Eduardo Sprinz, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas da Capital.
Psicóloga e professora do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial no Estado (Senac-RS), Adriana Ferreira Silva dá uma dica: a adoção das novas regras de convivência deve começar nos cuidados dentro de casa e da rotina.
— Mais do que nunca, a disciplina é muito importante, porque, para eu me relacionar bem com o outro, preciso cuidar bem de mim mesma. Agora, a saúde dita a maneira de como devemos nos relacionar — analisa.
Ainda é cedo para afirmar se a nova ordem social irá permanecer após a crise, mas, pelas ruas, percebe-se que o estatuto da pandemia tem sido incorporado à rotina das cidades.
No supermercado e na farmácia
- Manter distância de ao menos 1,5 metro entre outros clientes e funcionários
- Dar preferência ao pagamento em cartão em vez de dinheiro
- Empacotar suas próprias compras
- Passar álcool gel nas mãos na entrada e na saída
- Limpar os produtos com água e sabão ou álcool 70% antes de guardá-los em casa
Na segunda-feira (6), o servidor do Tribunal de Justiça do Estado (TJ-RS) José Antônio Maciel, 38 anos, vestiu a máscara ao escapar da quarentena mantida no apartamento onde mora, no bairro Medianeira, em Porto Alegre, para ir ao supermercado. Fez compras para ele, esposa, filho, pai e sogro, no Bourbon Ipiranga.
Com o carrinho lotado, esperou sua vez na fila em uma distância segura para a sua saúde e a dos demais.
— Prefiro pecar por mais do que por menos — diz ele, que passou a carregar pano e álcool gel, limpando um a um os produtos encomendados antes de entregá-los aos familiares do grupo de risco.
Farmácias também têm identificado a distância adequada nas filas para pagamento e vacinação – na rede São João, por exemplo, o alerta está acompanhado da mensagem "Exercite o seu amor ao próximo". Em algumas, há faixas zebradas para assegurar o espaçamento entre balconistas e clientes.
Para a professora de etiqueta Ângela Pimentel, de Campinas (SP), atitudes triviais foram convertidas em sinais de civilidade:
— Antes, muitas pessoas não tinham bom senso em situações óbvias. Ninguém nunca tinha de ficar grudado no outro em filas. E muito menos espirrar sem cobrir o rosto.
Em casa
- Tirar os sapatos e deixá-los do lado de fora ao retornar da rua
- Manter os ambientes arejados
- Tomar banho e colocar as roupas para lavar ao voltar da rua
- Limpar a casa com frequência, usando água, sabão, água sanitária e álcool 70%
Uma solução encontrada pelo José Antônio Maciel foi posicionar um pano e uma solução de água sanitária diluída na porta do apartamento. Antes de entrar, tem higienizado a sola dos sapatos e deixado o calçado do lado de fora.
Em ruas e parques
- Usar máscara que cubra nariz e boca
- Evitar aglomerações
- Permanecer ao menos 1,5 metro distante de outras pessoas, mesmo durante corridas e caminhadas
- Não usar equipamentos compartilhados, como aparelhos de ginástica públicos e brinquedos
O estatuto precisa imperar mesmo ao ar livre, durante a prática de exercícios, por exemplo, que está liberada pelo Ministério da Saúde. Nada de sair em grupos nem ir ao encontro de locais de muito movimento, onde há aglomeração de pessoas. Pelo bom senso, o melhor é dar preferência aos horários matutinos, mais calmos, e escapar de contatos com outros "atletas".
Em carros e transporte público
- Deixar os vidros sempre abertos
- Higienizar câmbio, direção, maçanetas e bancos com álcool, no carro, e usar álcool gel nas mãos, em ônibus e trens
Taxista do Shopping Praia de Belas, José Schinoff, 54 anos, tem seguido as recomendaçãos à risca:
— Vidros abertos para o ar circular bem e álcool gel nas mãos. Passageiro, agora, só no banco de trás.
Telentrega
- Escolher a opção "deixar na entrada" no momento da entrega, se possível
- Fazer o pagamento pelo próprio aplicativo ou por transferência
- Descartar as embalagens e higienizar itens como lata de refrigerante antes de consumi-los
Também permitidas, as telentregas exigem prudência. Empresas de delivery instituíram seu próprio regimento, oferecendo aos clientes a opção "deixar na entrada" para resguardar colaboradores e usuários. O pagamento pode ser feito pelo próprio aplicativo, sem necessidade de manuseio de dinheiro ou cartão.