Terra Santa, Terra Prometida, Sião. É difícil desvincular Israel de religião. Também pudera: o país do Oriente Médio, com pouco mais de 20 mil quilômetros quadrados, concentra em uma única cidade locais sagrados para as três maiores religiões monoteístas do mundo.
Por séculos, judeus, cristãos e muçulmanos disputaram o domínio de Jerusalém e região, em conflitos que ceifaram vidas, ergueram muros e forjaram novas fronteiras. É esse caldeirão cultural que torna Israel tão complicado e, ao mesmo tempo, fascinante ao turismo.
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Engana-se quem pensa que os encantos do país se limitam a Jerusalém e seus templos. Há muito o que explorar em Israel, que tem investido pesado para atrair turistas fora do círculo religioso. A nova política de marketing tem dado resultado – em abril, quase 350 mil estrangeiros visitaram o país, um recorde histórico segundo o Ministério do Turismo, que contabiliza um acréscimo de 40% no movimento em relação ao ano passado.
Na semana que passei em Israel, entre abril e maio, pude experimentar um pouco da diversidade do país. Do cheiro característico de alecrim que emana das ruas de Jerusalém ao forte odor de enxofre do Mar Morto, da aridez do deserto da Judeia à brisa fresca que sopra do Mediterrâneo, da energia contagiante das rezas no Muro das Lamentações à agitada vida noturna de Tel Aviv, há cantos e recantos para agradar todos perfis de viajantes.
O jornalista viajou a convite do Ministério do Turismo de Israel
Roteiro 1: natureza e aventura
Das paisagens únicas de Israel, o Mar Morto talvez seja a mais impressionante. Formado a partir de uma fenda no ponto mais profundo da crosta terrestre, a quase 400 metros abaixo do nível dos oceanos, ele é, na verdade, um lago de água salgada, abastecido pelo Rio Jordão. Seu nome se deve à alta concentração de sais minerais na água, que impossibilita a vida marinha. Porém, é essa mesma característica a responsável pela fama do Mar Morto – é virtualmente impossível não boiar em suas ondas.
Mas antes de sair flutuando por aí, um alerta: evite que a água entre em contato com seus olhos e mucosas. Acredite, arde muito. Ao sair do mar, é recomendável tomar um banho de água doce em uma das duchas espalhadas pela praia, já que a pele rapidamente fica coberta por uma crosta de sal. Por causa das propriedades medicinais da água, a costa do Mar Morto tem diversos spas e beach hotels, especialmente em Ein Gedi.
Construída no século 1 antes de Cristo pelo rei Herodes, em um platô no deserto da Judeia com vista para o Mar Morto, a fortaleza de Massada integra o Patrimônio Histórico Mundial da Unesco e é outra bela atração de Israel. A estrutura foi projetada para ser um refúgio impenetrável, com muralhas duplas que circundam todo o planalto. Tais características fizeram de Massada o último bastião de resistência dos judeus durante a primeira guerra judaico-romana. Após vários meses de cerco, os romanos enfim conseguiram entrar em Massada a partir da construção de uma rampa.
Quando chegaram à cidadela, porém, foram surpreendidos ao encontrar o local deserto: todos os 960 rebeldes haviam cometido suicídio e ateado fogo nos prédios, já que preferiam a morte à servidão. O sacrifício coletivo virou símbolo da resistência dos judeus e até hoje é lembrado como um marco nacional. Para acessar o parque, é possível subir uma das várias trilhas a pé ou de teleférico.
A cerca de duas horas e meia de carro de Massada, a cidade de Tiberíades é o principal destino para desfrutar das belezas do Mar da Galileia, citado em diversas passagens bíblicas. Se não é possível caminhar sobre as águas como Cristo, cabe aos mortais recorrer a agradáveis passeios de barco pela região. Os trajetos, com 45 minutos de duração, são feitos em pequenas embarcações elétricas, com capacidade para até 13 passageiros, e custam de US$ 100 a US$ 120 por grupo.
Roteiro 2: história e religião
A história de Israel está diretamente atrelada aos caminhos sinuosos da Cidade Antiga de Jerusalém. Em um espaço de poucos metros, coexistem os locais venerados por cristãos, judeus e muçulmanos. O ponto que une as religiões, mas causa constantes disputas, é o Monte do Templo, onde teria ocorrido, segundo as escrituras, o sacrifício de Isaac (para os judeus) ou Ismael (para os muçulmanos).
Lá, foi erguido o Templo de Salomão, que posteriormente foi destruído por Nabucodonosor II e deu lugar ao Segundo Templo judaico, também destruído pelos romanos. Desde o século 7, o monte é ocupado pelos muçulmanos, que ergueram a Mesquita de Al-Aqsa e o Domo da Rocha. Apesar de derrubado, o Segundo Templo teve uma de suas muralhas preservada, que virou ponto de peregrinação e deu origem ao Muro das Lamentações. Hoje, é considerado o local mais sagrado para os judeus.
Segundo o Novo Testamento, o Monte do Templo foi palco de diversas passagens da vida de Jesus Cristo, cuja sepultura está situada a poucos metros dali, na Igreja do Santo Sepulcro. Cristãos de todo o mundo visitam Jerusalém para seguir os últimos passos de Cristo, percorrendo as estações da Via Sacra (ou Via Dolorosa). Se você quiser uma vista panorâmica da Cidade Antiga e seus templos, a dica é seguir até o Monte das Oliveiras, de onde é possível fazer belíssimas imagens. As descobertas continuam em cidades próximas de Jerusalém.
Construída por volta do ano 3500 antes de Cristo, Acre teve papel crucial ao longo das Cruzadas, no século 12. Fortificada, serviu como base para os avanços cristãos à Terra Santa. Hoje é tombada pelo Patrimônio Histórico Mundial da Unesco, aberta à visitação. Os valores variam de 5 a 95 shekels (cada shekel vale R$ 0,86), dependendo da idade e do passeio. Ao norte do país, Haifa tem como ponto turístico mais famoso o Santuário do Báb, templo da Fé Baha’í – doutrina que prega a união das religiões.
O local, no Monte Carmelo, com vista para o Mediterrâneo, é cercado por lindos jardins, que podem ser visitados gratuitamente todos os dias, exceto às quartas-feiras. Dos jardins do templo, pode-se caminhar pela Colônia Germânica, conjunto de construções alemãs que se converteu no polo gastronômico e cultural da cidade. Entre as várias obras do reinado de Herodes em Israel, destaca-se a cidade portuária de Cesareia Marítima, situada na metade do caminho entre Haifa e Tel Aviv, na costa do Mediterrâneo.
Capital de Israel no período romano, Cesareia tem conservadas partes de um aqueduto e de um hipódromo para corridas de bigas, entre outras estruturas históricas. O anfiteatro foi reconstruído mantendo as características originais e hoje recebe espetáculos musicais para até 4 mil espectadores. Os ingressos para o parque nacional vão de 20 a 39 shekels.
Roteiro 3: Tel Aviv e arredores
Um passeio completo por Israel não pode deixar de passar por Tel Aviv, maior cidade do país. E a dica é alugar uma bike. A cidade conta com cerca de 130 quilômetros de ciclovia, e um sistema de transporte compartilhado semelhante ao Bike POA, o Tel-O-Fun. Atualmente, o Tel-O-Fun tem 2 mil bikes espalhadas em 200 estações, que cobrem quase a totalidade dos cartões-postais locais. Um passeio imperdível é alugar uma bicicleta em Jafa e percorrer a orla até a Marina de Tel Aviv, um trecho de 4,5 quilômetros com vistas incríveis do Mediterrâneo. Para alugar uma bicicleta, é necessário usar um cartão de crédito válido e preencher um formulário com o número de seu telefone celular. É possível adquirir passes por períodos curtos ou por mais de um dia.
Se você é fã de vinhos e gostaria de experimentar a produção local, a pedida é fazer um tour guiado nas instalações da Barkan, uma das maiores vinícolas do país. A cerca de 50 minutos de carro de Tel Aviv, a empresa produz por ano mais de 12 milhões de garrafas de vinho, cujas uvas são cultivadas em 11 terroirs distintos – os rótulos mais exclusivos, premiados internacionalmente, são em geral produzidos nas áreas mais altas do país, como as montanhas de Jerusalém e as Colinas de Golã. As visitas guiadas são realizadas de domingo a quinta-feira e devem ser agendadas previamente. O valor varia de 30 a 70 shekels por pessoa, dependendo do tamanho do grupo, e dá direito ao tour e à degustação de três vinhos.
Tel Aviv também tem uma vida noturna agitada, com diversas opções de bares e clubes. O polo boêmio fica nas proximidades do Boulevard Rothschild, centro financeiro da cidade, onde à noite os engravatados dão lugar a jovens moderninhos e descolados.
Sete dicas para curtir Israel sem sustos
Documentos necessários
Para viagens de até três meses, não é necessário visto. Basta apresentar um passaporte com validade mínima de seis meses além do período da estadia e uma passagem de volta. Se você pretende alugar um carro para dirigir em Israel, é aconselhável possuir uma carteira de habilitação internacional.
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A moeda local é o shekel, que equivale a R$ 0,86. Apesar do câmbio favorável, não se engane: o custo de vida em Israel é semelhante ao brasileiro, e os preços, assim como aqui, podem ser bem salgados. Um lanche rápido de falafeis com refrigerante, por exemplo, não sai por menos de 40 shekels, cerca de R$ 35.
Contrate um bom guia
Apesar de boa parte da população falar inglês fluentemente, ter um bom guia pode enriquecer a imersão na cultura local. No site info.goisrael.com/en/tour-guides, é possível solicitar o serviço de profissionais credenciados – na ferramenta, há mais de 180 guias que falam português. Os valores podem variar, mas em geral ficam em torno de 2 mil shekels por dia de trabalho.
Plugo ou não plugo?
No topo da lista de preocupações de turistas brasileiros desde a adoção de um padrão exclusivo de três pinos, as tomadas também merecem atenção em Israel. Isso porque, a exemplo do Brasil, o país tem seu próprio modelo de plugue: são três pinos cilíndricos. Mas não se desespere, os adaptadores que seguem o padrão europeu de dois pinos cilíndricos funcionam perfeitamente.
Sombra e água fresca
Principalmente nas regiões mais áridas do país, beber água em abundância não é apenas uma questão de bem-estar, mas também de sobrevivência. Além do clima seco, o sol também pode ser um vilão. Portanto, capriche no protetor solar e leve um chapéu na bagagem.
Fique atento ao shabat
Se no Brasil, pela tradição católica, o domingo é reservado ao descanso, em Israel essa simbologia cabe ao sábado, quando os judeus obedecem ao Shabat. No Shabat – que começa já a partir do anoitecer de sexta-feira –, muitas lojas fecham as portas e algumas atrações turísticas podem ter horários reduzidos.
Aeroporto e segurança
Chegar ao aeroporto com antecedência é ainda mais importante em Israel. Isso porque o Aeroporto Internacional Ben Gurion, em Tel Aviv, tem uma série de procedimentos de segurança adicionais aos exigidos na Europa, por exemplo. Na chegada ao país, não se assuste com o elevado número de policiais fortemente armados, cena comum nos locais de grande movimentação. Na saída, também há vigilância redobrada. Ao efetuar o check-in, o passageiro deve passar por uma entrevista minuciosa antes de despachar sua bagagem. Na entrevista, esteja preparado para responder de tudo: do propósito de sua viagem aos locais visitados, podendo as questões serem por vezes invasivas.