Londres é uma cidade espetacular – e não importa quantas vezes você a visite, sempre vai ter alguma atração que deixou passar. Mas, como caldeirão étnico que é, a capital britânica não representa aquela imagem que temos da Inglaterra e do inglês de livros e filmes. Para conhecê-los – e, por favor, faça isso –, você precisará viajar pelo interior do país.
Se conseguir dirigir na mão inglesa, alugue um carro. Se não, contrate um guia. Tudo para evitar as grandes rodovias, porque uma das graças de percorrer a Inglaterra está justamente fora desses caminhos "modernos", é se meter pelas estreitas estradas em meio a campos, parando de vez em quando para almoçar ou tomar um chá da tarde pelos pubs e hotéis que encontra pelo trajeto.
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Frequentar esses estabelecimentos, aliás, é uma grande experiência antropológica. Entre e bata um papo com os locais, muito mais calorosos e simpáticos do que os londrinos (se você já leu algum livro de Agatha Christie, sabe como podem ser tagarelas). E não se surpreenda se encontrar cães, gatos e outros animais domésticos em meio às mesas – eles não só são permitidos, como muitos desses lugares têm os próprios pets "residentes".
A seguir, sugiro três cidades peculiares e muito legais de conhecer no sul da Inglaterra – mas não se acanhe, há muitas outras incríveis para visitar por todo o país.
Os banhos de Bath
A primeira vista de Bath impressiona graças à arquitetura georgiana. A maioria dos prédios é praticamente igual, feitos com a pedra característica da região, também chamada de bath, que tem uma coloração bege dourada. As ruas parecem emolduradas por grandes blocos simétricos – é impactante e até um pouco intimidador.
Caminhando pela cidade, as suas definições de impressionante serão atualizadas com o Circus e, principalmente, com a grandiosa Royal Crescent, uma grande construção em semicírculo formada por várias unidades residenciais (e um hotel de luxo). Deve ser um pouco complicado mobiliar os apartamentos, mas a aparência é de cair o queixo.
A grande atração de Bath é o que deu origem e nome à cidade. No século 1, os romanos construíram um complexo de banhos para aproveitar as termas naturais de Bath, que foram muito populares por um longo tempo. Hoje, não é possível mais se banhar por lá, mas as ruínas são abertas ao público, com ingressos de 7,50 a 15,50 libras. No verão, em julho e agosto, o sítio histórico fica aberto até as 22h, iluminado por tochas.
Não vá embora sem aproveitar as águas termais no único lugar em que isso ainda é possível na cidade: o Thermae Bath Spa. Além de várias piscinas internas, o spa conta com uma no terraço que oferece uma linda vista. No inverno, é muito gostoso curtir a água quente em contraste à temperatura negativa do ambiente. Duas horas por lá custam entre 34 e 37 libras (e 10 libras por hora adicional). O lugar também oferece tratamentos terapêuticos, com destaque para o watsu (50 minutos, 64 libras), feito dentro das termas.
Bath também agrada aos fãs de Jane Austen. A escritora viveu na cidade por muitos anos, e grande parte de sua obra foi influenciada por seu período ali. Quem quiser saber mais pode visitar o Jane Austen Centre (ingresso de 5,50 a 11 libras).
Tudo isso fez com que Bath inteira fosse considerada patrimônio mundial da Humanidade pela Unesco em 1987. Dica: são oferecidas caminhadas guiadas gratuitas.
A mística Glastonbury
Dá nome ao segundo maior festival a céu aberto do mundo, realizado todos os anos em junho, desde 1970, em uma fazenda distante 10 quilômetros da cidade (na vila de Pilton). Por sinal, evite a todo custo visitar Glastonbury no período do evento, quando é quase impossível encontrar hospedagem (ou qualquer outra coisa além de jovens). A não ser, claro, que você queira ir ao festival – nesse caso, fique ligado no site, porque a venda de ingressos começa muitos meses antes e termina num piscar de olhos.
E não é por acaso que Glastonbury foi escolhida para receber o evento. A cidade é conhecida pelo misticismo, com muitas lojas excêntricas que vendem de tudo um pouco, de cristais com alegados poderes curativos a bolos. Sem contar os moradores hippies-hipsters que causam curiosidade nos visitantes. Só uma caminhada pelas ruas principais já vale a visita.
A cidade também é associada a uma lenda célebre, a do Rei Arthur – monges medievais afirmavam que Glastonbury seria o Reino de Avalon, a ilha imaginária das histórias do monarca, que não se sabe nem se existiu. Aliás, Arthur estaria enterrado na Abadia de Glastonbury, mosteiro grandioso fundado no século 7 e ampliado no 10. Destruída por um incêndio em 1184 e reconstruída no século 14, foi um dos mais ricos e poderosos monastérios da Inglaterra. Por isso, tornou-se um dos principais alvos da dissolução dos monastérios determinada pelo rei Henrique VIII no século 16, depois de o Ato de Supremacia o tornar chefe da Igreja da Inglaterra.
Hoje em ruínas, a abadia é aberta a visitação. Os ingressos custam de 4,75 a 7,60 libras, dependendo a idade do visitante. Um detalhe muito legal: de março a outubro, funcionários vestidos como personagens da época estão espalhados pelo sítio para contar a história do lugar (em inglês). Não deixe de aprender com eles.
Outra atração imperdível é subir até a Glastonbury Tor. Na lenda inglesa, essa imponente colina é considerada a porta de entrada para Avalon. A formação dos sete terraços sobre os quais repousam as ruínas da Torre de St. Michael permanece inexplicada até hoje. É um pouco cansativo para subir, mas a vista da cidade lá de cima é maravilhosa.
A histórica Salisbury
Localizada a uma hora e meia de trem de Londres, essa cidade histórica se destaca pelas preservadas casas de madeira em estilo enxaimel e pelas nostálgicas ruas medievais.
A ponta da torre de sua catedral gótica, a mais alta da Grã-Bretanha, nunca está fora do alcance dos olhos. A igreja conta com o mais antigo relógio ainda em funcionamento – desde 1386 – e a melhor das quatro cópias originais da Magna Carta, um documento de 1215 que limitou o poder dos monarcas da Inglaterra. A entrada é gratuita, mas sugere-se uma doação voluntária, entre 3 e 7,50 libras.
Além disso, é um ótimo ponto de partida para explorar Stonehenge, que fica a apenas 20 minutos de carro. Um dos monumentos mais simbólicos do país, é uma relíquia da Idade da Pedra, e o método de sua construção continua sendo um mistério até hoje, apesar das inúmeras lendas pitorescas.
*A jornalista viajou a convite do VisitBritain