Sobre eles
Cristina Marangon, 34 anos, é dentista e casada com Guilherme Marshall, 36 anos, engenheiro eletricista. Moram em Cambridge, na Inglaterra, mas são gaúchos de Porto Alegre. Os dois estão viajando o mundo com o Project Break. Acompanhe a aventura no blog da dupla.
"O Guilherme e eu temos muitas coisas em comum - uma delas é a paixão por viajar. Gostamos do diferente: culturas, paisagens, pessoas, comidas. Conhecendo um pouco da nossa história, fica mais fácil entender essa nossa constante vontade de mudar. Nos conhecemos há nove anos em Porto Alegre, onde nascemos e crescemos. Após dois anos, decidimos morar juntos e nos mudamos para a Inglaterra. Eu nunca havia ido à Europa e só tinha viajado de avião três vezes até então.
Depois de mais de cinco anos vivendo lá, quando nossa vida estava estabilizada, decidimos mudar tudo radicalmente de novo. Largamos nossos empregos, vendemos algumas coisas, colocamos uns poucos móveis em um depósito e deixamos o carro na casa de um amigo. Planejamos passar de 10 a 12 meses viajando pelo mundo. Loucura? Dinheiro sobrando? Que nada!
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Vinte anos atrás, pode ser que só milionários pudessem fazer isso. Mas, hoje, na era da economia compartilhada e do turismo em massa, só duas coisas são necessárias: prioridades e planejamento. Já estamos há um ano longe de casa, no momento no Brasil, mas visitamos 18 países (20, se incluirmos Hong Kong e Macau, que são Estados autônomos da China), e posso afirmar, sem sombra de dúvidas, que custa menos do que as pessoas pensam! Se você tem interesse em fazer o mesmo, aí vão algumas dicas.
Prioridades
Não tínhamos uma vida de luxo e, embora não vivêssemos mal, sempre tivemos prioridades. Por exemplo, nosso carro tinha oito anos, não temos casa própria (nem a dívida que costuma acompanhá-la) e raramente saíamos para comer fora mais de uma vez por semana. Há pessoas que preferem gastar com roupa de grife, um superpacote de TV a cabo ou o celular da moda. Nossa prioridade é conhecer o mundo.
Planejamento
Por uns seis meses, fizemos pesquisa dos locais que gostaríamos de visitar. Colocamos em uma planilha estimativas dos principais custos de viagem e, assim, excluímos alguns destinos que não cabiam no nosso orçamento. É normal que algumas coisas mudem durante o caminho, mas, mesmo assim, o roteiro dá uma boa base e poupa tempo na estrada.
Uma dica para escolha dos destinos: viajar a países em desenvolvimento não só é mais barato como pode ser muito mais interessante. Nas lindas montanhas do Nepal, por exemplo, pagamos o equivalente a US$ 2 (R$ 8) por um quarto privativo de casal em hospedarias. Isso é a metade do preço da caipirinha que você bebeu ontem.
Como parte essencial do planejamento, certifique-se de que seu roteiro evitará fenômenos naturais que podem atrapalhar, como as temporadas de furacões, tufões e monções. Isso pode se tornar muito complicado no planejamento de uma viagem que envolva muitos países em um longo período de tempo, especialmente na Ásia.
Orçamento
Cuide de seus gastos durante a viagem. É muito fácil entrar na rotina de turista em turno integral e esquecer de acompanhar seu orçamento. É chato, mas se não fizer isso, pode acabar tendo que cortar lugares que você sempre sonhou conhecer porque o dinheiro acabou antes do tempo.
No nosso caso, subestimamos os custos com ingressos de atrações e atividades, mas logo compensamos com gastos menores com acomodação e comida. Albergues, hospedarias e casas de família são mais baratos do que hotéis. Viagens noturnas de trem ou ônibus eliminam o gasto com diárias.
Visitas ao mercado público local economizam nas despesas com restaurantes e ensinam muito sobre um lugar. Para aqueles jovens que querem fazer o seu dinheiro ir mais longe durante a viagem, também existe a opção de trabalhar em albergues ou pegar visto para trabalho de férias (muito comum na Austrália e na Nova Zelândia).
Sem intermediários
Quando já estiver viajando, seja criterioso ao marcar passeios com agências de turismo. Normalmente há opções de transporte público que são mais baratas e autênticas. (afinal, você está lá para ter contato com locais e não outros turistas). Você gastará mais tempo pesquisando, mas a economia e o senso de realização valem a pena.
Uma dica para passagens aéreas: se for visitar mais de dois continentes, procure a opção de passagens de volta ao mundo com as grandes alianças aéreas (OneWorld e Star Alliance, por exemplo). Na maioria dos casos, sai mais barato e permite a troca de datas ao longo da viagem sem custo adicional.
Saúde
Ponto importantíssimo, mas que é normalmente negligenciado por viajantes inexperientes. Claro, ninguém se preocupa com isso quando vai apenas passar um final de semana em Gramado - afinal, não seria muito diferente do que ficar doente em casa. Mas, do outro lado do mundo, as coisas são bem mais complicadas. Para começar, países diferentes, doenças diferentes. Você já deve ter as vacinas em dia para as doenças que se pode pegar no Brasil - mas e para as que se pode pegar em outros países? Já ouviu falar em encefalite japonesa? Nem eu, até que comecei a pesquisar.
Pelo menos três meses antes de partir, consulte um médico e veja quais são as vacinas e os medicamentos necessários para cada lugar que você irá visitar. Hoje em dia, há clínicas especializadas em medicina para viagem. Nós usamos muito uma página do sistema de saúde do governo britânico de aconselhamento a viajantes. Lá, você seleciona o país a visitar, e o site mostra todas as medidas preventivas.
O governo brasileiro tem um serviço similar, o Portal Consular (portalconsular.mre.gov.br) - entretanto, o site parece estar bastante desatualizado, e a maioria dos links não funciona. A Anvisa dispõe de centros de orientação para a saúde do viajante, que executam uma atividade semelhante, além de emitir o Certificado Internacional de Vacinação, solicitado por alguns países como requisito de entrada (até agora, apenas a Malásia pediu para ver os nossos certificados).
Fui mordida por um cachorro em uma cidade no interior da Indonésia em que a raiva é uma doença endêmica e onde não havia sequer hospital. Para quem não sabe, raiva não tem cura, e uma vez que os sintomas apareçam, ela é fatal. Como eu havia feito as vacinas antes da viagem, a chance de contrair a doença era bem menor. Duas vacinas pós-exposição depois, ainda estou aqui para contar a história.
Seguro viagem
Isto está ligado ao ponto anterior, gastos com saúde, mas também inclui estorno em caso de furto, extravio de bagagem e outros inconvenientes que podem acontecer em uma viagem tão longa. Acho que podemos nos considerar sortudos pela mínima quantidade de problemas que enfrentamos até agora, mas, mesmo assim, já tivemos bagagem extraviada por 60 horas, gastos médicos com mordida de cão e óculos de sol furtados. Nosso seguro viagem já se pagou.
E aí, vale a pena?
Estamos muito felizes com o que estamos colhendo nesta incrível experiência até agora. Já se vão mais de 12 meses longe de casa, e ainda não cansamos de nos surpreender com a beleza do mundo e das pessoas que encontramos.
As memórias já são tantas que, vira e mexe, relemos nosso próprio blog de viagens para relembrar. A pristina beleza natural da Patagônia, a paisagem semilunar das regiões do Atacama e Uyuni, o calor e a alegria caribenha na Colômbia, a história indígena ainda viva na Polinésia, os espetaculares vulcões da Indonésia, a deliciosa fusão de cozinhas no Sudeste Asiático, a imponente cadeia de montanhas do Himalaia e a modernidade e a tradição da China. Essas memórias carregaremos conosco por toda a vida. Não podemos garantir a mesma satisfação para quem comprou aquele carro 0km "