Poucas passarelas de acesso à beira da praia e as dunas muito altas viraram um transtorno para moradores e turistas em Tramandaí, no Litoral Norte. Para chegar até o mar, é necessário caminhar por uma das pontes, algumas separadas por uma longa distância, ou se arriscar a fazer a travessia pelas dunas altas, o que é especialmente difícil para idosos e pessoas com algum tipo de limitação para se deslocar.
Atualmente, sete passarelas de madeira estão dispostas na avenida que dá acesso ao mar. Entre uma e outra, quem não tem carro precisa caminhar sob o sol forte. E, ao chegar na ponte, é possível que o veranista a encontre parcialmente tapada pela areia.
Na esquina da Avenida Beirar Mar com a Flores da Cunha, uma duna chegou a invadir a via, prejudicando a passagem de veículos. A areia chegou a tomar também o pátio de uma residência. Conforme moradores da região, não é raro que motoristas que tentam passar pelo trecho acabem "patinando" na areia e pedindo ajuda para empurrar os veículos.
A aposentada Edite Rodrigues da Silveira, 83 anos, que tem casa de veraneio pouco antes da esquina, conta que é a primeira vez que vê a duna tão alta. Moradora de Campo Bom, ela relata que passa os verões em Tramandaí há 35 anos, mas que ainda não conseguiu ir até a orla nesta temporada:
– Estou desde dezembro aqui e ainda não pude ver o mar. Tenho 83 anos, não tenho como escalar a duna, atravessar pela areia. Daqui até uma ponte de acesso, precisa caminhar muito, e também não tenho como. A gente chama a prefeitura, e nada. Nós também temos direitos. Vai acabar a temporada e não fui à praia ainda, não podemos aproveitar. Isso é algo que dói na gente – lamenta.
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Quem também tem casa na região, há 30 anos, é o morador de Sapucaia do Sul João Carlos de Miranda Proença. Cardíaco, ele conta que precisa se arriscar pelas dunas para chegar até o mar e aproveitar com a família. Carregando guarda-sol e cadeiras, o grupo sobe a montanha de areia sob o sol de quase 30º para evitar caminhar até a passarela de acesso, no sentido contrário.
– Para mim, esse é o melhor local dessa praia. A gente adora. Vem até no inverno. Só que está abandonado, horrível. Nunca foi assim, as dunas não eram tão altas assim aqui. Um vizinho que tem filho com paralisia dos braços e pernas acaba tendo que passar pela duna também. Ele tem oito anos e pede para vir na praia. Aí a gente ajuda quando vê. É muito triste, esse local está atirado – comenta Proença.
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De acordo com a prefeitura de Tramandaí, as setes passarelas existentes receberam manutenção entre o final de dezembro e o começo de janeiro, como preparação para a temporada. O serviço de retirada da areia que cobre os pontes é feito semanalmente, assim como o que recolhe a areia que invade as ruas. No entanto, quando bate vento, a areia volta a se espalhar e o problema ocorre novamente, afirma o Executivo.
Conforme o secretário de Obras do município, Marcio Soares, a prefeitura precisa de autorização de diferentes instituições para poder mexer nas dunas, o que dificulta o trabalho da pasta:
– Mexer nas dunas é bem complexo. Nós precisamos solicitar autorização de várias entidades, como o Ibama, por exemplo. Atualmente, temos autorização apenas para retirar a areia que cobre as passarelas, mas não podemos mexer nas dunas ao lado delas. Só que basta um vento nordeste e a areia começa a cobrir a ponte novamente. Então a manutenção se torna complicada.
O secretário afirma que a prefeitura pretende, primeiro, conseguir autorização judicial para construir uma passarela na avenida principal, onde ficava um restaurante panorâmico. Depois que a estrutura desse restaurante foi retirada, há alguns anos, a Justiça determinou que a duna fosse restabelecida no local, explica Soares.
Atualmente, um cercamento com madeira foi colocado ali para garantir que a duna não se desfaça. A secretaria tenta reverter a decisão na Justiça, com o objetivo de retirar dali as tábuas de madeira e construir uma passarela. O pedido, no entanto, não tem prazo para ser avaliado.
– Nós estamos aguardando essa decisão. A nossa ideia é construir o maior número de passarelas possível. Sabemos que isso é importante para a acessibilidade. Devemos entrar com o pedido de autorização para construir mais pontes, e talvez para o próximo ano já tenhamos conseguido construir esses acessos — finaliza o secretário.