Por Cléber Grabauska, plantão esportivo da Rádio Gaúcha
Para a turma de veraneio de Cléber Grabauska, andar com o amigo Serginho vestido de gaúcho em pleno verão de Mariluz significava acabar com as chances de arrumar uma namoradinha
Nenhum leitor acertou que a criança da página 27 da Zero Hora de domingo era Cléber Grabauska.
A turma do Colégio La Salle, de Canoas, sabia que as chances de conseguir uma namoradinha na "agitadíssima" noite de Mariluz eram diminutas, mínimas, quase um milagre. Mas elas de transformavam em zero completo quando o Serginho resolvia colocar a pilcha e desfilar pelas esburacadas - e recheadas de sapos e pererecas - ruas do balneário.
O ano era 1983, e o movimento cultural gaúcho tinha duas novidades. Uma mais intensa na Capital, onde Nei Lisboa, Bebeto Alves, Musical Saracura, Nelson Coelho de Castro e Gelson Oliveira despontavam como estrelas da MPG - a Música Popular Gaúcha - um fenômeno urbano. E, junto com a MPG, o MTG - Movimento Tradicionalista Gaúcho - ganha um novo fôlego com o ressurgimento do sentimento gauchesco.
Este sim, um movimento que tomou conta de todo Rio Grande do Sul. O Estado vivia o auge dos festivais nativistas. Não tinha cidade que não realizasse o seu. E o mais famoso e todos era a Califórnia da Canção, de Uruguaiana, que, naquele verão, na virada de 82 para 83, consagrava Tertúlia, na interpretação de Leonardo, como o grande vencedor da 12ª edição.
Era um tempo onde a gurizada começava a se ligar nas tradições gauchescas. Expressões como "tosquia", "manotaço", "bochincho" e "entrevero" já não soavam tão estranhas assim para quem nunca havia andado a cavalo ou visto uma vaca ser carneada. E andar de bombacha começava a virar moda. E essa, digamos assim, tendência, foi levada à praia através do nosso amigo Serginho.
Numa época onde a moda surfe ainda não existia, a turma (Cléber, Claiton, José Pedro, Luís Fernando, Romilto e Álvaro) vestia bermuda e camiseta e calçava uma havaiana e achava que estava mais do que bom.
Mas quem realmente chamava a atenção era o nosso amigo "taura" que, em pleno verão gaúcho, vestia bombacha, camisa branca (de manga longa), lenço vermelho no pescoço, bota e chapéus de barbicacho e saía em busca das gurias. Ou, no caso dele, das prendas.
Depois da janta, preparada por mim e pelo Claiton (meu irmão), e que invariavelmente tinha macarrão, ovo frito e arroz, a gurizada se agitava para mais uma investida noturna. Mas o entusiasmo se transformava num desespero quando Serginho apontava, todo paramentado. A tristeza coletiva era ouvida numa frase uníssona: ah, não. De bombacha, não.
E como Serginho era irredutível na sua missão gauchesca, lá íamos nós em busca de diversão. Morrendo de vergonha, íamos cinco de um lado da calçada e um - o Serginho, lógico - sozinho, do outro. Se ele tentasse nos alcançar ou passar para o mesmo lado, nós apressávamos o passo e mudávamos de calçada.
Mas, mesmo assim, não tinha jeito. Da casa dos pais do Álvaro - nosso QG temporário - até o centrinho ouvíamos todo tipo de gozação. Tipo: "olha o guasca", "oh, grosso" e "onde deixou o cavalo?". Resultado: prejuízo completo. Ninguém conseguiu namorada, e o Serginho não abdicou de vestir a pilcha. A vingança ficou para a temporada seguinte. Ou seja, num outro verão.
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