Por Gabriel Moojen, apresentador do canal SporTV
Foi em Rainha do Mar que Gabriel Moojen descobriu muitas coisas - do vídeo ao surfe, do namoro à terceira marcha da Belina do pai, do barulho do churrasco em família à insegurança diante do crime.
Apenas as leitoras Mariana Bettio e Carmem Regina Pinto Rodrigues acertaram que a criança na página 27 de Zero Hora era Gabriel Moojen.
Cena 1 - 1983
Rainha do Mar - externa - casa da Vó - churrasqueira
Os carros dos tios, do pai e do avô ficavam estacionados todos bem na frente do terreno, como se escondessem o barulho da mesa do pátio onde a família comia o churrasco. Meu tio Julio apareceu com uma câmera que gravava em VHS. Eu fiquei maluco com aquilo. O máximo que eu havia visto até então, fora televisão, era o pinogol do meu tio Fernando.
A câmera era enorme. Eu tinha 12 anos, vestia uma camiseta laranja. Com um copo como microfone entrevistei meu avô, perguntando como estava a situação do Brasil. Ele disse que estava mal!!! Assim fiz minha primeira entrevista para a "televisão."
Cena 2 - 1985
Rainha do Mar - externa - casa da Vó - casa do Cris - jogo de futebol
Montamos uma casinha de pedra no terreno ao lado. Meu vizinho Cris falou de uma menina que era amiga da irmã dele. Se chamava Daniela. Um dia essa amiga da irmã do Cris entrou na sala. Eu tinha 14 anos e me apaixonei. Foi amor à primeira vista. Entrei para o time do irmão da Daniela, o Gabriel. Fui jogar só para ver a Daniela. Quando ela estava por perto, eu preferia ficar no banco.
- Você quer namorar comigo?
- Só quando eu fizer 15 anos. Minha mãe não deixa!
Quando ela fez 15 anos a gente namorou. Eu tinha 17. Depois a gente terminou, e voltou quando eu já tinha uns 20. Foi minha primeira namorada.
Cena 3 - 1900 e alguma coisa
Rainha do Mar - externa - beira da praia
Meu tio Fernando surfava. Tinha uma prancha Lightning Bolt, 74 monoquilha e uma Daniel Friedmann quadriquilha 511. Quase não conseguia carregar a prancha. Era maior que eu. Quando menino, era magrinho, morava em Alegrete e tinha o contato com o mar somente nos verões.
O mar era cor de chocolate e frio, o vento, forte, e as ondas fechavam em "caxotões" (se fala assim ainda hoje?). Eu, o Emerson, o Cacaio, o João, o Gabriel e o Titi entravámos no mar. Todos surfavam, e eu levava vaca. Quando, num fim de tarde, desci minha primeira onda.
Cena 4 - 1987
Limite da Rainha do Mar com Noiva do Mar
Eu comecei a pegar a Belina branca do meu pai sempre depois do almoço. Tirava a maior onda dirigindo pela praia.
- Coloca a terceira marcha - gritou um.
Candinha, irmã do João, carregava Silvinha na garupa da bicicleta pedalando atrás do carro. Eu olhei pelo retrovisor e pisei no freio. Só vi o rosto delas colado no vidro. Dias mais tarde, acho que era o último dia do verão, fui até a divisa da praia com o carro. A rua havia acabado. Dei uma ré. Ninguém avisou que tinha um poste ali.
Cena 5 - 2002
Rainha do Mar - interno - sala da casa da Vó
Thaís servia um vinho, Felipe estava sentado no sofá, a namorada dele fazia não sei o quê. Eu tocava violão. Três caras de capuz entraram na casa com pistolas na mão. Nos trancaram no banheiro. Levaram o carro do Felipe. Fomos à delegacia, não havia ninguém.
O policial apareceu bem depois. De bicicleta. A casa da vó ficava perto do mar. As pessoas começaram a se trancar em condomínios. Eu já surfava, trabalhava na TV, tinha tido algumas namoradas, mas não havia visto ainda que o tempo mudara.
De qualquer forma, comecei a ser gente grande na praia da Rainha do Mar. Hoje, com 40, moro na praia. Em outra praia. No Rio de Janeiro - e ainda faço, basicamente, as mesmas coisas que aprendi naqueles tempos.
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