Cleusa era bailarina clássica, mas, pelas dificuldades impostas pela vida, sendo uma mulher preta e periférica, teve que largar a arte para procurar um emprego formal. Contudo, o desejo de ter uma filha que carregasse seu sonho para os palcos pulsava em seu coração. E foi assim que Aline Centeno, incentivada pela mãe, começou a dançar em um projeto social com três anos de idade. Agora, aos 25, Aline é professora de dança e foi selecionada para um curso de teatro musical em Nova York. Para conseguir aproveitar a oportunidade, ela conta com a solidariedade para arcar com os custos dessa viagem.
A primeira experiência da professora com a dança foi no Andreia Braga Beal Projeto de dança na Escola, na Restinga. O local aceitava crianças a partir dos cinco anos, mas, por insistência de Cleusa, Aline foi recebida no projeto.
— Minha mãe conversou com os representantes e comentou que eu era uma criança quietinha, comportada, e eles me aceitaram no projeto mesmo eu estando abaixo da idade. Fiquei lá por cerca de um ano e meio e depois fui pro projeto Ballet para Todos, onde fiz minha formação até os oito anos de idade, quando ganhei minha primeira bolsa — relembra Aline.
Desde então, Aline desenvolveu seu amor pela arte. A professora cursa licenciatura em dança na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e, na pandemia, se apaixonou pela área de teatro musical:
— Conheci meu namorado na pandemia e, passados alguns meses que conversávamos, ele me encaminhou uma seleção somente para pessoas pretas para um projeto de teatro musical. Foi a primeira vez que soube que existia isso no Brasil e no Rio Grande do Sul. Sempre gostei de musicais, mas não sabia que faziam isso aqui.
Quando percebeu, Aline já estava coreografando peças no Departamento de Arte Dramática da UFRGS. Porém, a vontade de estar nos palcos como atriz segue aumentando.
— Apesar de estar coreografando muitas obras, meu sonho mesmo é ser performer, estar nos palcos, me apresentar. Tem pessoas que dirigem e atuam, mas eu prefiro fazer uma coisa de cada vez. Então, sigo buscando formas de me colocar no palco — descreve Aline.
Curso
Foi pensando nesse desejo que a professora realizou um curso de teatro musical em Joinville, em Santa Catarina, em julho deste ano. A cidade é conhecida internacionalmente pelas dança e as aulas trouxeram um conhecimento para além do esperado por Aline, pois foram lecionadas por professores do Exterior.
— Participei do curso saboreando cada informação que eles traziam. Tínhamos duas horas de aulas de atuação entre as aulas de dança. No último dia, fizemos uma audição simulada, e foi quando soubemos da possibilidade da bolsa em Nova York — relata a professora.
Foram 15 dias de espera pelo retorno do Open Jar Institute, entidade que ela tinha feito a seleção a partir das aulas do curso em Joinville. E, finalmente, a notícia que Aline mais esperava saiu: ela foi selecionada para receber uma bolsa em um curso de verão de teatro musical em Nova York.
— Foi uma alegria receber a bolsa. Pude ver que o que eu estou fazendo está dando resultados. A possibilidade de alguém como eu, que é uma pessoa preta, que vem da periferia de Porto Alegre e que está lutando diariamente para construir esse sonho, ir para um lugar como a Broadway é incrível. Até dois anos atrás, sair do Estado era inviável. Agora, pensar na possibilidade de ir para Nova York é, ao mesmo tempo, muito animador e muito assustador — descreve Aline.
Viver da arte
Porém, infelizmente, o instituto disponibiliza apenas o valor do curso, e os custos com transporte e hospedagem são por conta dos alunos. Assim, Aline criou uma vaquinha para levantar os recursos. Agora, a professora conta com a solidariedade para viver seu sonho, que também é de sua mãe.
— Viver da arte é honrar os meus ancestrais, honrar minha mãe que sonhava a mesma coisa e não pôde viver. A dança é um amor tão grande que é difícil de pôr em palavras. Quando vieram os valores, foi um balde de água fria. É um Everest, porém, de moedinha em moedinha, a gente vai construindo — finaliza a dançarina.
Como ajudar
- Doações de qualquer valor podem ser feitas no site vaka.me/5058429.
- A chave pix alinecentenocontato@gmail.com também está disponível para receber recursos.
*Produção: Elisa Heinski