Artista visual, mãe de Lia e de Cássia, grafiteira e muitos outros adjetivos definem – ou tentam – a brasiliense Gugie Cavalcanti. Ela é quem assina um dos maiores grafites já feitos no Rio Grande do Sul. As mãos talentosas e representativas da criadora deram vida e cor a uma parede externa enorme – são 360 metros quadrados – que cerca a Quadra Petrobras, do Museu da Cultura Hip Hop RS.
Intitulada Leia-si, a pintura tem uma mulher segurando um livro em uma das mãos, a qual está esticada para frente, em um gesto de convite ao autoconhecimento de quem está vendo. Foram 300 litros de tinta e 50 latas de spray usados na produção da arte.
A inspiração para o desenho veio a partir da experiência que a própria Gugie teve com o movimento – que pode ser manifestado de diversas formas, como dança, música, grafite etc.
– Para mim, o hip hop é sobre autoconhecimento. Então era importante trazer essa ideia, de que a gente tem que fazer uma leitura sobre nós mesmos. Aquela mulher está fazendo esse convite – contou.
Porém, o primeiro contato da artista com o movimento não foi pelo grafite. Aos 10 anos, se mudou com sua família para Florianópolis e, depois, para Garopaba, local onde conheceu a companhia de dança do município e passou a integrar o grupo. Período, este, que define ter sido essencial na construção de sua carreira:
– Você tem que ser você mesmo e evoluir dentro disso. A cultura é voltada para essa essência... foi aí que eu me apaixonei. Me trouxe uma construção, uma base, muito importante para, depois de alguns anos, começar a grafitar.
DNA artístico
Gugie tem tinta correndo em suas veias. Esteve inserida em um meio “rico em cultura de arte”, como define, desde muito nova. Sua mãe e seu pai, que também tinha carreira na Aeronáutica, já desenvolviam trabalhos no ramo das artes visuais.
– Isso foi muito importante, porque sempre tive um enorme incentivo dentro de casa – aponta.
“Filho de peixe, peixinho é.” Com Gugie, o dito se fez real. Entrou para o mundo grafiteiro quando atingiu a maioridade, mas esta forma de se expressar se fez presente na vida dela muito antes disso:
– Eu desenhava desde pequena, fazia camisetas (desenhos/estampas) das escolas dos amigos, o meu diário era cheio de quadrinhos.
Uma das coisas mais bonitas da história da artista é a de que ela afirma ter se encontrado em um lugar muito comum no dia a dia de qualquer pessoa: a rua. É à margem das vias públicas que Gugie se sente segura e enfrenta os desafios da profissão.
– É o lugar onde eu me permiti ser eu mesma, buscar evolução, estar nestes locais, que têm muito daquelas coisas que como mulher nos trazem insegurança, minam as nossas vontades, né? A gente tem as nossas obrigações muito maiores do que as dos homens. Para eu existir e estar aqui como pessoa, tenho que estar pintando.
Inauguração da quadra
A obra de Gugie faz parte de uma verdadeira exposição de grafites a céu aberto, a qual também conta com desenhos de Moxa, Skilo, ALN, Triafu, Jaque Vieira, Dm.tinta, Bina, Dana Luz e Shap Paint, visíveis no chão e no entorno da quadra esportiva. Estas artes serão o cenário do primeiro Hip Hop Esporte – Torneio de Basquete 3x3, realizado pela Suve, ONG contemplada através do edital Vem Pro Museu.
A ação, que é aberta ao público, acontece neste domingo (21), das 13h às 17h, e marca a inauguração da Quadra Petrobras, localizada no Museu da Cultura Hip Hop RS, financiado por meio da Lei de Incentivo à Cultura, com patrocínio master da Petrobras. Realização do Ministério da Cultura, Governo Federal, União e Reconstrução. Em caso de chuva, o evento será adiado.
/// A competição, que teve inscrições encerradas na última terça-feira (16), será dividida nas modalidades feminino e masculino. Os três primeiros colocados de cada categoria, além de medalhas, ganham premiação em dinheiro. Os campeões levam R$ 600,00, os segundos colocados ficam com R$ 400,00 e os terceiros, R$ 200,00.