Um dos nomes mais importantes das artes plásticas no Rio Grande do Sul, Ena Lia Matthes Lautert faleceu na manhã deste domingo (25), aos 99 anos. A artista morreu de causas naturais, em sua residência no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre.
Artisticamente conhecida apenas como Ena Lautert, ela nasceu em março de 1924 em Lajeado, no Vale do Taquari. Iniciou sua trajetória na arte através de desenhos com abordagens da natureza. Em criações abstratas, na mesma tela uniu seus traços com sementes, cascas e fibras para retratar a fauna e a flora brasileira.
Sua arte era guiada por duas vertentes: a ecologia e o equilíbrio mental. Ena foi uma das pioneiras na prática de hatta yoga no Estado e manteve uma academia durante 20 anos no bairro Petrópolis, onde atuava como instrutora do costume medieval que busca o equilíbrio da mente. Em viajem à Europa, em 1974, conheceu a cultura sueca de reciclagem e passou a refletir sobre o destino do seu lixo descartável. Uniu os dois conceitos para se expressar e tornou-se referência com suas pinturas, desenhos e esculturas.
“Contemporânea de grandes acontecimentos da humanidade, dentre tantas mazelas e avanços, Ena se sensibilizou com a ecologia. Testemunhou um século de eventos dramáticos, com guerras e fome, mas também de grandes conquistas, como a do espaço e a da cura de graves doenças. Tal vivência histórica habilitou seu olhar na crença de valores universais como a liberdade, o respeito, a justiça, a solidariedade, a honestidade e a paz”, escreveu o artista plástico André Vanzon, mestre em Poéticas Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e curador da exposição Ena Lautert 95 anos – Retrospectiva, que homenagem a artista em 2019 no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS).
A exposição narrou a história de Ena através de desenhos, pinturas, gravuras, fotografias, esculturas e instalações. Para Vanzon, a arte de Ena é como as pedras que resistem inteiras às mudanças e desafios: “a obra nos acolhe com a solidez de uma rocha e singeleza de um olhar dedicado à natureza”, definiu no memorial descritivo da exposição.
Ela deixa a filha Lia Fleck e o filho Roberto Lautert.