Autoridades, amigos e familiares se despediram na manhã desta sexta-feira (22) de um dos realizadores da nova orla do Guaíba: o advogado, empresário e gestor público Edemar Tutikian. Dezenas de pessoas passaram pela Câmara Municipal de Porto Alegre, no Plenário Otávio Rocha, onde ele foi velado sob coroas de flores, afetos e homenagens ao seu legado. Depois, o corpo foi encaminhado para a cremação. Tutikian tinha 79 anos e estava internado no Hospital Moinhos de Vento para tratamento de câncer. O falecimento aconteceu na quinta-feira (21).
Conhecido pelo perfil agregador, ele alcançou o auge da carreira enquanto atuou no governo do ex-prefeito José Fortunati (2010-2016). Como secretário de Desenvolvimento e Assuntos Especiais de Porto Alegre, Tutikian foi o coordenador do projeto e da obra do trecho 1 da orla do Guaíba, empreendimento que transformou a cara da cidade. Naquele período, tornou-se amigo do famoso arquiteto Jaime Lerner, também falecido, que projetou a Orla. Quem acompanhou de perto os desdobramentos da época relata que a aproximação entre Tutikian e Lerner foi fundamental para as coisas acontecerem.
— Quando pensamos em revitalizar a Orla, reuni 10 secretários que teriam interface. Cada um tem o seu ego, o que é normal, e é difícil um secretário aceitar a liderança de outro. Fui buscar o Tutikian pelo diálogo, firmeza e respeito. Nunca elevou a voz com ninguém, e não foram poucos os momentos tensos. Ele foi chave para a coordenação — rememora Fortunati, que compareceu ao velório.
Pela transformação do visual urbano da capital gaúcha, a vibrante renovação da orla do Guaíba é definida pela viúva Jane Tutikian como “o grande trabalho da vida” e o “coração” do companheiro de 50 anos de vivências.
No Piratini, Tutikian participou da gestão dos governos Antônio Britto, Germano Rigotto e Yeda Crusius. E também deixou marcas nessas passagens.
— Ele atuou na atração da fábrica da GM no governo Britto. Foi um trabalho importante, um articulador nos bastidores, diretamente com o Nelson Proença (então secretário de Desenvolvimento) — detalha o jornalista José Barrionuevo, atualmente empresário do ramo de gestão de crise.
Nos anos seguintes, nos governos Rigotto e Yeda, trabalhou na liberação burocrática do Cais Mauá, localizado no Centro Histórico de Porto Alegre. Na gestão de Yeda, chegou a desempenhar a função de coordenador-executivo de revitalização do Cais Mauá. A tarefa envolvia entraves e disputas entre a prefeitura de Porto Alegre, o Estado, a União e a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Por isso, a missão era considerada hercúlea.
A parte legal avançou e a realização do empreendimento ganhou sinal verde, mas as obras ainda hoje não saíram do papel. Os sucessivos editais de licitação não tiveram sucesso na busca por investidores para revitalizar o antigo porto e os armazéns. Recentemente, o Palácio Piratini adiou para fevereiro de 2024 o novo leilão da área. Ainda assim, o trabalho de Tutikian no desenlace de nós rende reconhecimentos.
— Acompanhei o processo do Cais Mauá e ele entrou para desembaraçar tudo. E liberou toda a burocracia. Não sabendo que era impossível, foi lá e fez. Esse era o Tutikian — afirma Barrionuevo.
Para Jane, o marido “gastou pedaços da alma na luta pelo Cais”, ideal que não viu ser alcançado por completo.
— Foi um grande gestor público. Ele nunca quis concorrer porque os cargos em que tinha interesse eram os de gestão. Tinha uma visão que muitos chamariam de sonhadora. Já era inovador quando não se falava nisso — afirma Jane.
No início da manhã, o empresário Jorge Gerdau esteve no velório e destacou a “humanidade” de Tutikian.
— Em tudo que ele participava, dava uma contribuição inteligente e generosa. Foi um cidadão exemplar e de importante dedicação a Porto Alegre — disse Gerdau.
De origem armênia, Tutikian é natural da Capital e se formou em Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Além da esposa, Jane, ele deixa dois filhos, Fernanda e Cristiano, e dois netos.