
Por Fernando Goldsztein
Empresário e fundador do The Medulloblastoma Initiative
Mais uma vez lanço mão de um título chamativo para captar mais leitores. Pretensos escritores como eu têm de disputar a atenção das pessoas com o YouTube, o TikTok, o Instagram e tantos outros. Trata-se, sem dúvida, de concorrência desleal. Enquanto o texto não passa de um amontoado de letras pretas organizadamente dispostas sobre fundo branco, as mídias eletrônicas cada vez mais emanam coloridos, brilhos e sons que cativam e, por que não dizer, escravizam seus usuários.
Bem, vamos agora ao que interessa. Escrevo estas linhas numa agradável noite de quinta-feira. Acabo de chegar em casa depois de levar meu filho de 10 anos e quatro coleguinhas para passear no shopping. As crianças adoram o programa, e eu também. Elas se divertem nas inúmeras atrações do local, como o playground temático, o parque de trampolins e muito mais.
A diversão já começa antes de chegar ao destino. No caminho do shopping, as crianças se alternam escolhendo músicas no meu celular. Dentre as inúmeras escolhidas, geralmente no YouTube, chamou-me muito a atenção um vídeo chamado Baby Shark (“tubarão bebê”). O ritmo é de fato contagiante, e as crianças cantavam alegremente e em uníssono.
Descobri então que Baby Shark é o vídeo mais assistido na história do YouTube. Acredito que você, assim como eu, não faz a menor ideia do que isso significa em números, não é mesmo? Pois, pasme, Baby Shark, cujo cenário é um desenho animado do fundo do mar e os protagonistas são um menino e uma menina de pijamas cantando e imitando um tubarão, foi visto mais de 13 bilhões de vezes. Sim, para ser mais exato, 13.666.605.448 visualizações até o presente momento.
É um número inimaginável, especialmente considerando que seu público é exclusivamente infantil. A preocupação com o uso excessivo das redes vem ganhando corpo nos últimos anos na medida em que os seus algoritmos vão se tornando cada vez mais aditivos. Segundo especialistas, é imperativo haver algum tipo de regulação.
O Estado de Nova York parece querer assumir o protagonismo no que diz respeito à proteção dos menores de idade.
– Nossas crianças e adolescentes estão em crise, e cabe a nós fazer algo para ajudá-las – declarou a governadora de Nova York Kathy Hochul, comparando os algoritmos de mídia social ao cigarro e ao álcool. – Os dados científicos sobre os efeitos negativos das mídias sociais nas mentes jovens são irrefutáveis, e sabendo o quão perigosos os algoritmos são eu não vou aceitar que não façamos nada a respeito – disse a governadora.
É evidente, por outro lado, que não se pode prescindir das redes sociais nos dias de hoje. Afinal, elas fazem parte da vida social e criativa dos pré-adolescentes e dos adolescentes. Eles as usam para aprofundarem-se ou compartilharem o que estão apreendendo na escola; para buscar seus assuntos de interesse; para desenvolver a criatividade através de páginas de perfil, desenhos, jogos ou vídeos; para se comunicar com os amigos e família; e muitas outras questões importantes e positivas.
Portanto, enquanto as regulações do uso das redes sociais para menores de idade não chegarem aos trópicos, o importante é os pais usarem o velho e conhecido método que, além de eficiente, é muito anterior ao surgimento das redes sociais, dos iPhones e dos iPads: orientação, supervisão e limite.