Por volta das 11h deste sábado (22), um modelo A29, o Super Tucano da Força Aérea Brasileira, operado por Rafael Alonso, 40 anos, natural de Porto Alegre, recebia os últimos ajustes do mecânico sênior, Gustavo, 60, pai de Rafael, para dar a partida no motor e ganhar os ares de Santo Antônio da Patrulha. No entanto, um problema no sistema elétrico fez a decolagem ser atrasada para depois do almoço. Ao lado dele, cerca de outros 40 aviões esperavam seu momento de girar as hélices.
O “hangar” é feito de gazebos e a “torre de comunicação” é composta por uma caixa de som com cadeiras de praia em volta. Um bem-humorado “coordenador de voo”, ao microfone, ignorou o A29 e colocou outros aviões menores para voar a partir da pista de grama. Motores a combustão ou a jato faziam barulho por todos os lados, misturando o cheiro de querosene à fumaça do galeto que era assado nas churrasqueiras da sede do Aeroclube de Santo Antônio da Patrulha (AeroSap), no litoral norte gaúcho, no 2ª Arraial de Aeromodelismo da cidade.
— Desliga tudo e vamos tentar de novo depois do almoço — sentenciou Gustavo, dono do Super Tucano azul com detalhes em verde e amarelo, segurando um controle remoto de 20 botões e antena esticada em uma mão, e uma garrafa de cerveja na outra, observando Rafael testar os circuitos do aeromodelo que tem três metros de comprimento e dois metros e 80 centímetros da ponta de uma asa até a outra.
Gustavo, o filho Rafael e o neto Fernando Alonso, 11, são três gerações de uma família de aeromodelistas. Os mais velhos fabricam réplicas de jatos, na empresa TJet, da Capital, e vieram se divertir no fim de semana de sol em Santo Antônio da Patrulha. Assim como eles, outras 46 famílias se reuniram com seus miniaviões controlados a distância na localidade de Esquina dos Morros para colorir os ares.
— Tem até que dosar um pouco o trabalho e o lazer, porque passamos a semana mexendo com aviões, e na hora de descansar queremos voar com eles. Faço isso desde que nasci, e estou vendo que o pequeno vai seguir os nossos voos também — brinca Rafael, se referindo ao filho.
O mais novo faz seus primeiros voos, de fato. Com proporções menores, o avião dele é feito de um material mais leve, flexível e barato, para que ele possa treinar suas acrobacias sem o risco de ter grande prejuízo por danificar as peças em eventuais acidentes. Na hora de exibir suas habilidades o guri ordena que seu modelo rodopie sobre o próprio eixo vertical, com sucesso, antes de falhar na retomada do voo em linha reta. A nave encontra o solo, e ele parte correndo em direção a ela, para uma nova tentativa. De longe o pai dele já diagnosticou o problema:
— A hélice saiu do lugar — diz, antes de fazer o reparo necessário para o próximo voo.
Alguns metros acima do aviãozinho de Fernando, dois aviões maiores — com o tamanho apenas 6 vezes menor do o modelo em que são inspirados — planam em posições nada comuns para os que transportam passageiros ou combatem em guerras. Com o corpo completamente perpendicular ao solo, como se fosse um foguete com o bico apontando para o céu, as naves vão e voltam sem se inclinar, deslumbrando dezenas de espectadores. Aplausos são ouvidos a cada voo rasante mais ousado ou quando um modelo plana e parece congelar suspenso no ar. As mais elaboradas das réplicas chegam a custar R$ 40 mil, somando todos os componentes.
Um dos pilotos a demonstrar maior destreza nesta manhã, Felipe Andreoli, 23, foi influenciado pelo tio, que também era aeromodelista. Aprendeu desde os 5 anos na cidade natal, Osório. A partir dos 14 se inspirou em vídeos na internet para arriscar as primeiras manobras no ar.
— Aeromodelismo é um hobby, mas precisa de treino como se fosse um profissional — comenta, explicando que tem mais tempo de prática em ferramentas que reproduzem o voo do que em campo:
— O simulador ajuda muito, mesmo sem ter uma gravidade ou força do vento reais, porque posso treinar os movimentos das mãos antes de colocar o avião de verdade no céu.
Almoço e clima familiar
O evento em Santo Antônio da Patrulha conta também com estrutura de alimentação. Um almoço completo foi oferecido no sábado por R$ 30. O cardápio era alface, pepino, cebola, arroz, aipim, salada de maionese com batata e galeto. Bebidas são cobradas à parte. Um “beer truck” garantia que ninguém passasse sede sob o sol de 27°C em pleno inverno gaúcho.
O ambiente é de confraternização familiar. Um locutor, com apoio de efeitos sonoros animados, elogia as performances dos pilotos. Meninos e meninas com menos de 10 anos também faziam suas piruetas com miniaturas de jatos, de motores mais silenciosos. O evento se estende pelo sábado e domingo, com direito a show de luzes de LED acopladas às réplicas maiores prometido para a noite.
Não há cobrança de ingresso para visitantes. Os aeromodelistas pagam R$ 100 para participar e ganham uma camiseta do evento.
Carlos Castilhos, 72, idealizou o AeroSap há 6 anos. Aposentado, trabalhou na Petrobras por vários lugares do Brasil, sempre viajando de avião e admirando o aeromodelismo. Com praticantes frequentando outro clube da cidade, viu a chance de fazer um aeroclube para aeromodelistas na propriedade da família.
— Era um hobby mais caro, nos últimos anos ficou mais barato. Todo final de semana vem alguém brincar aqui, é uma alegria para nós. Não cobro nada de água e luz, minha única exigência é que não tenha desavença — diz Castilhos.