Fé inabalável e agradecimento por preces atendidas moveram milhares de devotos de Nossa Senhora dos Navegantes - ou Iemanjá, como é chamada nas religiões de matriz africana - a enfrentarem, na manhã deste domingo (21), um frio de 10ºC para realizar a tradicional procissão de 4,6 quilômetros em homenagem a uma das divindades mais famosas de fiéis brasileiros.
A caminhada, normalmente realizada sob calor de fevereiro, não ocorreu nos últimos dois anos devido à pandemia - em 2021 e 2022, organizadores transmitiram a missa em redes sociais e realizaram uma carreata. Com a melhora da covid-19 após a vacinação em massa (todos os adultos de Porto Alegre tomaram a terceira dose, segundo a Secretaria Municipal da Saúde), a festa religiosa retornou, excepcionalmente no inverno.
A celebração começou com uma missa às 7h30min no Santuário Nossa Senhora do Rosário, no Centro Histórico. A igreja estava lotada e alguns fiéis permaneciam de pé. Às 8h43min, a barca com a estátua da santa, circundada de flores azuis e brancas, saiu aplaudida e amparada nos ombros de 11 pessoas.
— Salve Nossa Senhora dos Navegantes! — gritou um fiel, seguido de uma salva de palmas e de gritos de “viva!” e “axé!”.
O trajeto passou pelas avenidas Mauá, Castelo Branco e Sertório para terminar no Santuário de Navegantes, na zona Norte da Capital, por volta das 10h30min. Na sequência, foi rezada uma missa. Em alguns pontos do trajeto, uma chuva de confetes cinza caía sobre os peregrinos, em clima de festa e celebração de fé.
O trajeto foi realizado em meio a preces alternadas pela voz de homens e de mulheres. Também foram entoados cânticos - “Dai-nos a benção a todo instante, Nossa Senhora dos Navegantes” foi um dos que mais entusiasmou os participantes.
Manhã de agradecimentos
Fiéis sentiram falta da procissão nos últimos dois anos, adiada pela covid-19, mas consideraram que o tempo frio tornou a caminhada mais agradável. Em comum, peregrinos pagavam promessas ou expressam agradecimento à Nossa Senhora dos Navegantes.
Era o caso da comerciante Janete Facin, 52 anos, que caminhava de pés descalços. A pequena penitência é realizada há 23 anos para agradecer por uma importante promessa atendida há 22 anos: tornar-se mãe.
— Eu tinha perdido uma criança e fiz essa promessa, queria muito ser mãe. Os médicos falavam que não era para eu ter filho porque tenho pressão alta. Mas não desisti do meu sonho, Nossa Senhora me atendeu e fiz procissão até grávida. A gente tem que ter fé. Vou cumprir essa promessa até morrer — diz Janete, que fazia a caminhada com o marido e a filha, nascida com a benção de Nossa Senhora dos Navegantes.
A caminhada da professora Daiana Moreira dos Santos, 57 anos, era para agradecer a outra promessa importante: emprego. Ela carregava a filha Isabelly, sete anos, no colo, ao lado do marido, Thiago Haeser, 39 anos e representante comercial. A família viera de Viamão para a procissão.
— Pedi emprego como professora e fui abençoada. Pedimos também saúde por causa da covid. Para nós está maravilhoso nesse tempo, mas a gente sentiu falta de quando não teve a procissão — disse Daiana.
— Para fé e para agradecer, não tem época — acrescentou o marido.
O casal de aposentados Catarina e Carlos Merlin, de 68 e 70 anos, realizava a caminhada por devoção à Nossa Senhora dos Navegantes e para agradecer às preces que foram atendidas na saúde.
— Meu neto tem uma síndrome desconhecida, mas está com saúde e já completou 10 anos — contou Catarina.
Nem a Brigada Militar, nem a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) forneceram estimativa de público, mas o número de fiéis observados, apesar de milhares, era bem abaixo dos 200 mil projetados pela organização da festa religiosa.