O ano começou em 1º de janeiro apenas no calendário. Na vida real, mostrou sua cara de fato, sem fogos ou Réveillon, já quase na metade daquele mês, quando surgiram os primeiros relatos sobre uma doença ainda pouco conhecida que se alastrava em uma longínqua província da China.
No dia 10, uma reportagem da agência de notícias France Presse reproduzida por GZH dizia: “Autoridades de saúde chinesas anunciaram neste sábado o primeiro óbito provocado pelo misterioso surto de pneumonia que os especialistas atribuem a um novo vírus da família Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave)”.
O texto informava que, segundo os especialistas orientais, não havia “evidência clara de transmissão de pessoa para pessoa”. Mas havia. Em silêncio, o novo coronavírus saltava de um organismo para outro em um frenesi infeccioso que, até o momento de fechamento desta retrospectiva, já levou à morte quase 1,7 milhão de pessoas – e a conta aumenta a cada dia, a cada hora.
Na verdade, de janeiro até o começo de dezembro, em média três pessoas morreram com covid a cada minuto em todo o planeta. A disseminação foi avassaladora. O Brasil anunciou o primeiro óbito em 17 de março, em São Paulo. Uma semana depois, o vírus deixava sua primeira vítima no Rio Grande do Sul – a morte ocorrera em Porto Alegre.
Meu marido só pôde conviver por dois meses e 10 dias com nossa filha. Morreu aos 32 anos, no dia 7 de outubro. Não tinha comorbidades. As pessoas precisam ficar em alerta, porque os mais jovens também morrem de covid.
PALAVRA DA LEITORA DANIELLA RODRIGUES
Esteticista em Canoas
Mundo afora, 2020 se revelava por inteiro: ruas vazias e necrotérios cheios. Por falta de espaço, corpos tiveram de ser alojados em caminhões frigoríficos em cidades como Belém do Pará ou Nova York. Para evitar o pior, países saíram em busca de respiradores artificiais para salvar aqueles que estavam com os pulmões comprometidos e deram início à corrida por uma vacina.
As chegadas das primeiras doses de imunizantes e da esperança que trazem consigo, finalmente, prometem pôr um fim definitivo em 2020.
Mas até quando?
"Nos próximos meses, a tendência ainda é de aumento de casos de covid-19 no Estado, mas os óbitos podem ocorrer em menor proporção devido à maior contaminação de jovens. Acredito que vá demorar alguns meses para conseguirmos vacinar de 60% a 70% da população. Assim, poderemos seguir no atual contexto epidemiológico até meados de 2021."
Ricardo Kuchenbecker, epidemiologista do Hospital de Clínicas