Especialistas ouvidos por GaúchaZH se dividem em relação ao projeto de lei que cria uma carteira de habilitação específica para dirigir veículos com câmbio automático.
Aprovado na terça-feira (5) pela Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados, a proposta prevê que os motoristas poderão optar por se habilitar apenas para esse tipo de automóvel. Nesse caso, estariam impedidos de dirigir carros com câmbio manual. Atualmente, o teste para fazer a CNH deve ser realizado em carros com troca de marcha, habilitando o condutor a pilotar também os veículos automáticos.
O perito aposentado Clovis Xerxenevsky, com experiência na análise de acidentes de trânsito, considera a proposta interessante. Ele entende que há uma tendência mundial de que os carros se tornem automáticos e que os dois tipos de câmbio dão origem a duas formas diferentes de dirigir.
— Muitos acidentes acontecem porque a pessoa não tem habilidade suficiente, faz a troca equivocada, em vez do freio pisa no acelerador. Quando troca de um carro para outro, tem de se adaptar, se acostumar a uma nova realidade. E quem usa o carro automático não quer mais usar o mecânico.
Presidente do Sindicato dos Centros de Formação de Condutores do Rio Grande do Sul, Edson Cunha define o projeto de lei como "maravilhoso". Ele integra a câmara temática de habilitação do Conselho Nacional de Trânsito, onde o assunto tem sido discutido, e diz que há uma movimentação para que o projeto receba uma emenda que inclua também os carros elétricos, que não têm câmbio.
— A ideia é muito bem-vinda. É necessário acompanhar a evolução e os anseios da sociedade. Quem se habilita com o câmbio manual não tem dificuldade de se adaptar ao automático, em uma hora dirigindo já pegou a prática. O contrário não é verdadeiro, a pessoa que usa só o automático não consegue saber o tempo de troca da marcha, e ainda tem os pedais. O que o projeto de lei faz é facultar. Aquela pessoa que faz o teste no veículo com câmbio mecânico vai continuar a poder dirigir o automático também, mas vai existir a possibilidade de se habilitar apenas para automáticos e elétricos. Os futuros condutores poderão optar. Seria uma subdivisão da categoria B — diz Cunha.
A ideia é muito bem-vinda. É necessário acompanhar a evolução e os anseios da sociedade.
O engenheiro mecânico Walter Kauffmann Neto, consultor na área de engenharia automotiva e trânsito, é muito menos benevolente com a proposta. Ele observa que a divisão em categorias da Carteira Nacional de Habilitação se dá pelo tamanho do veículo, não por características mecânica, e entende que o projeto cria um critério novo. Também lembra que existem mais do que dois tipos de câmbio. E teme que a proposta signifique um rebaixamento da qualidade dos motoristas em circulação.
Criar uma subclassificação de habilidade é absurdo, é dizer que a pessoa está habilitada a dirigir só determinado tipo de veículo.
— Veículo é veículo. Ter habilitação significa dispor das habilidades necessárias para dirigir veículos. Criar uma subclassificação de habilidade é absurdo, é dizer que a pessoa está habilitada a dirigir só determinado tipo de veículo. A questão é se a pessoa tem ou não habilidade. Quem tem dificuldade com o câmbio manual, que não dirija. Estou entendendo mal ou essa nova categoria seria uma opção para aquelas pessoas que ficaram em segunda época conseguirem tirar algum tipo de carteira? Será que é esse o objetivo? Já tem muita gente com incapacidade de dirigir nas ruas, para colocar ainda mais. O importante é que o habilitado na classe B seja habilitado para qualquer veículo classe B e fim de papo. Ou vamos cruzar por aí com pessoas quase habilitadas — critica.
A proposta aprovada ontem tramita em caráter conclusivo, ou seja, não precisa passar por votação no plenário da Câmara. O projeto ainda será analisado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.