Com um déficit mensal de R$ 1,2 milhão, o Hospital Centenário pode deixar de ser porta aberta para pacientes de outros municípios. De acordo com a prefeitura de São Leopoldo, 70% dos custos da casa de saúde são pagos por recursos próprios.
– Eu não tenho dinheiro para mais nada. Todos os serviços da cidade estão parados para mantermos o hospital – relata o prefeito Ary Vanazzi, que contabiliza R$ 29 milhões em dívidas do Centenário.
Para o chefe do Executivo leopoldense, “todo mundo vai ter que fazer um esforço” para garantir o atendimento na instituição. – Vai haver um bom senso para que os municípios nos ajudem a aportar recursos – acredita.
Vanazzi defende que o Hospital Centenário atende cerca de 1 milhão de pessoas na região dos vales do Sinos e Caí, além da Região Metropolitana. De acordo com o prefeito, a casa de saúde é referência nas áreas de oncologia para 18 cidades; neurocirurgia, 15 municípios; rede AVC, sete cidades; e nefrologia, seis municípios.
Ao todo, a instituição conta com 867 funcionários, sendo 151 médicos. Por mês, o custo da operação é de R$ 9 milhões, sendo R$ 5,5 milhões aportados pela prefeitura; R$ 2,2 milhões pela União; e apenas R$ 235 mil pelo governo do Estado.
De acordo com o secretário de Saúde do Rio Grande do Sul, João Gabbardo dos Reis, o governo estadual não tem recursos extras para repassar ao hospital de São Leopoldo.
– O que pode ser feito é um acordo entre os municípios da região, que podem ceder uma parte dos recursos para o Centenário – sugere.
Gabbardo lembra que pelo menos três hospitais próximos – em Novo Hamburgo, Sapucaia do Sul e Esteio – são considerados “orçamentados” e recebem um valor bem acima do repassado ao Centenário.
– Além do serviço prestado, eles ainda recebem o valor da folha de servidores. Isso foi acertado no governo passado, que escolheu um grupo de cerca de 20 hospitais em todo o Estado que recebe a metade da verba distribuída para todas as casas de saúde do Rio Grande do Sul – relata o secretário, garantindo que esse tipo de acordo não faz parte da atual gestão comandada por José Ivo Sartori. – Isso é injusto, todos os hospitais deveriam ser tratados de maneira igual. Mas não temos como acabar com isso de um dia para o outro. O que estamos fazendo é, a cada renovação de contrato, diminuir essa “orçamentação” – ressalta.
Para Gabbardo, o resgate do Centenário dependerá de um acordo entre as cidades da região onde está situado. Mas as prefeituras vizinhas não demonstram compartilhar da mesma opinião.
O diretor da Fundação de Saúde de Sapucaia do Sul, Juarez Verba, garante que não recebeu nenhum contato para a reorganização de recursos financeiros.
– O nosso hospital tem um déficit mensal de R$ 700 mil e não tem condições de abrir mão de repasses. Além disso, 20% dos nossos partos são de pacientes de São Leopoldo e, nem por isso, recebemos recursos como contrapartida – afirma.
Em nota, a Secretaria da Saúde de Novo Hamburgo afirmou que, devido à alta demanda de atendimentos na área, o município não se encontra em condições financeiras de abrir mão das receitas externas.
Uma audiência pública está marcada para as 18h desta segunda-feira (14), na Câmara de Vereadores de São Leopoldo, para discutir uma alternativa à crise financeira do hospital.