Atuando na fiscalização de locais que abrigam animais silvestres no Rio Grande do Sul, o veterinário e chefe do setor de Fauna Silvestre do Ibama/RS, Paulo Wagner, aponta indícios de negligência da administração do Pampas Safari no controle de doenças e na reprodução dos animais. Ele diz que uma série de problemas levou à interdição do parque e garante que, diante da situação, foi necessário determinar o sacrifício de animais. Leia a entrevista:
Pode haver novos sacrifícios?
Há um risco ainda porque circulam animais silvestres lá dentro. Não é uma solução fácil, não é uma solução que nos dê agrado, mas é a solução que minimamente bloqueia o procedimento e que também evita que outros animais se contaminem. O que, na verdade, eles (os administradores do parque) não controlaram no decorrer de 10 anos. Nós vamos sacrificar 300 animais, mas quantos para trás não morreram também de doença? Quantos ainda estão contaminados?
Havia fiscalização no local? O que se observou ali?
Havia um descalabro no local. Encontrei fossas com carcaças dentro a céu aberto. O depósito de alimentos tinha mais cocô de rato do que alimentos. Foi um horror o que eu encontrei ali. Interditamos. Quem mantinha era mais por uma vontade pessoal. Era um local que, provavelmente, nunca deu lucro. Quando o (Lauro) Febernati faleceu (em 2005), o próprio empreendimento parou todo. Aquilo foi consumindo (dinheiro) e degringolando na questão de condições.
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Qual a solução encontrada?
Vieram com essa questão do abate de animais, o que é um direito. A dificuldade de cumprir o que era determinado (pelo Ibama) culminou, no ano passado, com o encerramento das atividades. Ainda estava com a possibilidade de manter, mas chegou um ponto que ninguém aguentava mais. Fechou. Encerramos o empreendimento com os animais lá dentro.
Por que a tuberculose não foi controlada?
Eles não tinham controle lá dentro. A inspeção consegue buscar essas questões, mas mesmo assim foi um erro grave deles que emitiram essa informação. Eles não conseguiram apresentar um plano de testes de tuberculose que nós disséssemos que estava bem feito. Culminou, em fevereiro deste ano, com uma reunião no Ministério Público Federal, onde eles apresentarem um plano de testes que nós tecnicamente negamos. Nós, a (Secretaria da) Agricultura. Mas, sabe-se lá por qual razão, não quiseram mais fazer os testes de novo. Decidiram abater os animais. O Plano (de Encerramento de Atividades) prevê isso. Legalmente é possível. Eu não posso e nem faz sentido manter um animal tuberculoso sem tratamento. O tratamento de cada um deles é inviável.
A melhor solução foi determinar o abate?
Se alguém quiser fazer um santuário de cervos tuberculosos, apresente o projeto. O Ibama vai olhar e se disser que o controle sanitário é rigoroso e consegue manter, ótimo. Fazer demagogia de "coitados dos bichinhos, estão matando os bichinhos" e, quando a gente diz "tudo bem, então me dá uma solução" dizer "não, isso não é comigo" – desculpa, aí não. A obrigação legal do órgão ambiental e sanitário é preservar a saúde pública e ambiental, evitando a proliferação da doença. A proliferação da doença se faz através do meio ativo que é o animal. Mas o empreendedor não me apresenta uma maneira de controlar isso aí, sabendo que os animais que dessem positivos seriam abatidos e os animais que dessem negativos seriam abatidos também, para consumo. De uma maneira ou de outra os animais iriam para abate. A única diferença é que eles disseram assim: "Nós não queremos fazer mais exames". E a gente na hora entendeu o porquê, né.
Como será o futuro do parque?
O parque como empreendimento acabou. Ele foi encerrado em novembro do ano passado. Não existe mais Pampas Safari. Se quiserem abrir um novo zoológico, isso pode ser feito, mas o que existia ali foi interditado por nós.