Depois de encarar duas cirurgias, 48 sessões de quimioterapia e 34 de radioterapia, Lorena Reginato, 13 anos, finalmente recebeu, no começo de 2017, o diagnóstico que tanto esperava: estava curada de um tumor no cérebro. A estudante de Jaú, em São Paulo, ficou conhecida no Brasil e no mundo pelo canal que criou no YouTube, o Careca TV, feito para narrar como é o dia a dia de um tratamento contra o câncer. Dois anos após esse processo todo, ela tem novas ideias para o espaço e já planeja estudar Medicina.
– Agora, quero ser médica, mas já quis ser cantora, bióloga...– enumera.
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Cursar Medicina faz parte do sonho de ajudar outras pessoas. Mas, e a carreira na plataforma digital?
– Vou ser youtuber e médica – rebate.
Aluna do nono ano do Ensino Fundamental, Lorena divide seu tempo entre as aulas na escola e as atividades de reabilitação, que incluem natação, terapia ocupacional e fonoaudiologia. Nesse meio tempo, claro, dá seguimento ao projeto criado há um ano e que, hoje, conta com mais de 1,8 milhão de inscritos no YouTube. As novidades incluem quadros inéditos, muita interatividade e a participação do youtuber Átila Balogh.
– Pretendo melhorar a câmera e o conteúdo – garante.
Além do YouTube, ela faz transmissões ao vivo diárias pelo Facebook. Os “lives” já bateram as 12 mil visualizações.
O canal
Do sonho de ter um canal bem-sucedido à fama em si não demorou muito. Usando o celular da mãe, Fiorella Reginato, para ler um texto escrito pela irmã mais velha, Larissa, a menina gravou uma breve apresentação. "Eu sou careca porque tive câncer, mas não tenho mais. Por conta da cirurgia, fiquei com a voz fina e falo um pouco lento, mas não liguem, tá?", justificou de cara no vídeo que conta com mais de 4,1 milhões de visualizações. Daí para a chuva de ligações e mensagens foi um pulo:
– No outro dia, meu celular não parava de tocar – diz Fiorella relembrando o assédio da imprensa.
– Eu nem conhecia o YouTube, sou da época do papel de almaço – completa a mãe.
O "susto" inicial veio acompanhado de muitas surpresas. Do Google partiu um convite para Lorena participar de um workshop de orientação sobre o site. Como estava debilitada, coube a Larissa participar e incrementar o canal.
Sempre com incentivo da mãe, Lorena gravava desde brincadeiras com amigos até os momentos mais difíceis, como as sessões de quimioterapia. As filmagens funcionaram como uma distração para superar a rotina de tratamento:
– O mais difícil foi me apegar aos amigos e alguns morreram – relata a menina.
A cura, comemorada com churrasco em casa, só aumenta os desafios: Lorena quer atingir 2,5 milhões de inscritos no canal além, claro, de se recuperar completamente.