Os cães que são extremamente amigáveis compartilham certas semelhanças genéticas com as pessoas que nasceram com um transtorno do desenvolvimento apelidado de o "oposto do autismo", que as torna hiper-sociais, disseram pesquisadores nesta quarta-feira (19). O estudo, publicado na revista Science Advances, identificou variações em dois genes que estão relacionados ao comportamento social extremo em cães, e também em pessoas que nasceram com a síndrome de Williams-Beuren.
As pessoas com essa condição tendem a ser altamente extrovertidas, empáticas, interessadas em contato visual prolongado, propensas à ansiedade e podem ter dificuldades leves a moderadas de aprendizagem e deficiência intelectual. Os resultados oferecem novos conhecimentos sobre como os cães se tornaram domesticados e se separaram dos seus antepassados lobos há milhares de anos.
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– Anteriormente, se pensava que, durante a domesticação, os cães desenvolveram uma forma avançada de cognição social que os lobos não tinham. Esta nova evidência sugere que os cães, em vez disso, têm uma condição genética que pode levar a uma motivação exagerada para buscar contato social em comparação com os lobos – disse a coautora do estudo Monique Udell, da Universidade do Estado do Oregon.
Os pesquisadores estudaram 18 cães domesticados e 10 lobos cinzentos em cativeiro para ver o quão sociais eles eram com as pessoas e como eles realizavam tarefas de resolução de problemas. Quando receberam a tarefa de levantar uma tampa de uma caixa para ganhar uma salsicha, os caninos foram classificados de acordo com o quanto eles se voltaram para um humano na sala para obter ajuda.
Os lobos eram mais propensos a descobrir como obter o alimento do que os cães, que eram mais propensos a olhar com ansiedade para as pessoas que estavam perto.
– A verdadeira diferença parece estar no olhar persistente do cão em direção às pessoas e em um desejo de buscar proximidade prolongada das pessoas, além do ponto em que você espera que um animal adulto tenha esse comportamento – comentou Monique.
Os pesquisadores, então, usaram amostras de sangue para ver como as características genéticas dos lobos e dos cachorros se alinhavam com suas personalidades. Eles encontraram variações em dois genes - GTF2I e GTF2IRD1 - que "parecem estar conectados à hiper sociabilidade do cão, um elemento central da domesticação que os distingue dos lobos", disse o estudo.
Esses genes estão implicados nos comportamentos hiper-sociais de humanos com a síndrome de William-Beuren.
As mudanças não eram idênticas em humanos e cães. Por exemplo, nos cães, as inserções genéticas chamadas transpósons (segmentos móveis de DNA) nessas regiões genéticas estavam ligadas a uma forte tendência a procurar o contato humano.
Alguns desses transpósons "só foram encontrados em cães domésticos, e não em lobos", afirmou o estudo.
Nas pessoas, a supressão de genes dessa região no genoma humano está ligada à síndrome de Williams-Beuren.
– Nós não encontramos um 'gene social', mas um importante componente [genético] que molda a personalidade animal e que ajudou no processo de domesticar um lobo selvagem para torná-lo um cão manso – falou em uma declaração a coautora do estudo Bridgett vonHoldt, professora de ecologia e biologia evolutiva na Universidade de Princeton.
* AFP