Os dias que antecedem feriados prolongados, como os que correm nesta semana, costumam ser de marasmo nas empresas. Funcionários esticam um pouco mais o intervalo do almoço para pesquisar hotéis e passagens aéreas na internet. Entre um serviço e outro, mergulham no WhatsApp para combinar a hora de saída para a praia, onde vai ficar o cachorro e quantas malas vão no carro. Nos corredores, não se fala de outra coisa. No clima de euforia, às vezes vence a lógica do "se não é urgente, por que não deixar o trabalho para a volta?"
E ainda há de se considerar, efetivamente, os dias de portas fechadas: uma data a menos para produzir e vender. Não é por menos que empresários cerram a face quando ouvem falar em feriadão. E neste ano, especialmente, eles têm motivos para estar de mau humor: será o de maior número de feriados prolongados desde 2007. Nos próximos 18 dias, funcionários passarão metade do tempo de folga. E até o final do ano, serão 10 feriadões.
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– Uns dois dias antes do feriado, o pessoal já vai mudando o foco do trabalho para a folga. E, na volta, muitas vezes vêm cansados do trânsito e demoram para engrenar no serviço – explica a psicóloga Simoni Missel, especialista em coaching e produtividade.
Eis o quadro atual em escritórios, linhas de fábricas e o serviço público: conta-se as horas para o feriadão da próxima sexta-feira, da Paixão de Cristo. E se repetirá nas próximas duas semanas, quando virão outros dois feriados prolongados: Tiradentes, na sexta-feira seguinte, e o Dia do Trabalho, na próxima segunda.
– Essa sequência tem um impacto muito ruim no comércio – argumenta Arcione Piva, vice-presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio de Porto Alegre (Sindilojas). – Cada dia útil que uma loja fica fechada representa uma queda de 5% no seu faturamento mensal.
Nos próximos três meses haverá feriadões em todos (em junho terá o Corpus Christi, uma quinta-feira, dia 15), então o efeito do caixa será avassalador, explica Piva. Se por um lado há menos dias para atender clientes, por outro contas com aluguel, luz e a folha salarial serão rigorosamente as mesmas no final do mês.
– E, se abre, a loja ainda tem o custo com remuneração extra dos funcionários – lembra Piva.
Nas indústrias, os feriados assustam menos. Com ociosidade nas linhas de produção em razão da crise econômica, muitos setores consideram pouco relevantes alguns dias a menos de trabalho no ano. No Rio Grande do Sul, em média, as indústrias têm usado apenas 66% da capacidade das linhas de montagem, conforme a federação do setor (Fiergs).
Quando uns perdem, outros ganham. Empresas de turismo projetam faturar 8% a mais neste ano graças aos feriadões. A procura por pacotes para o Rio de Janeiro e as praias do Nordeste, ideais, respectivamente, para folgas mais curtas ou para quem consegue emendar uma semana de sossego, tem batido as melhores expectativas nos feriados de abril.
– O setor turístico preparou-se para o ano de feriados prolongados – explica João Augusto Machado, presidente da seção gaúcha da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav-RS) – Os hotéis flexibilizaram as diárias e as companhias aéreas evitaram de subir demais os preços de passagens nessas datas.