Na porta do quarto 421 do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, Raquel Treiguer esperava ansiosa a visita do trio que invadiu o corredor ao som de "Simples Desejo". Mesmo de jaleco, os três funcionários não carregavam estetoscópios, medicamentos ou aparelhos para medir a pressão. Eles levavam um teclado, um chocalho e um violão. Conforme passavam pelos quartos, as portas iam se abrindo, assim como os sorrisos nos rostos de pacientes e familiares.
Há dois anos, quando foi criado, o projeto Saúde Cultural era tratado apenas como intervenções musicais que serviam de alento a pacientes e familiares, na tentativa de amenizar a passagem pelo hospital. Agora, o programa ganhou corpo e mais espaço. Conforme a terapeuta ocupacional e coordenadora do projeto, Cristina Arioli, todos esperam ansiosos pelas tardes de sextas-feiras, que é quando ocorrem as visitas musicais.
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Para Raquel, que acompanha o marido Jaime, de 77 anos, a cantoria é sinônimo de alegria. Os dois estão há mais de dois anos no local, desde que Jaime perdeu os movimentos das pernas após uma cirurgia na coluna.
– É um "up" em tudo o que tem aqui – comenta referindo-se à intervenção.
Muito além de levar um pouco de alegria às paredes azul claro da casa de saúde, o programa tem como objetivo estimular a participação dos pacientes, trabalhar aspectos de coordenação motora e memória. Também serve de conforto para pacientes que estão sob cuidados paliativos.
– Isso possibilita que consigam se despedir de maneira mais bonita, relaxar ou até reduzir a ansiedade e a dor– diz Cristina Arioli.
Workshop aprimora funcionários do hospital
Para qualificar ainda mais os profissionais envolvidos no projeto, a instituição trouxe, neste fim de semana, o educador musical e compositor Victor Flusser. Referência internacional no tema, Flusser trabalha há 15 anos dentro de hospitais e foi o criador do curso de graduação de música em hospitais na França.
No encontro deste sábado, Flusser dividiu suas experiências, realizou dinâmicas com o grupo e apresentou vídeos sobre o tema. Pela manhã, falou sobre a importância de trabalhar constantemente a audição.
– É preciso ter orelhas de elefante – brincou.
O workshop continua neste domingo.