Um macaco encontrado morto por traumatismo craniano há uma semana, em São José do Rio Preto, interior de São Paulo, reforçou a suspeita de que esses animais estão sendo caçados e abatidos por serem depositários do vírus da febre amarela. Com ele, já são 25 os primatas que morreram neste ano no município e a maioria pode ter sido executada - 15 a pedradas e pauladas, quatro atados com cordas e um carbonizado. Apenas um deles estava doente. Pelo menos outras nove cidades têm casos semelhantes ou denúncias.
O risco de matança de macacos por medo da febre amarela já mobiliza os órgãos públicos. O 4.º Batalhão da Polícia Militar Ambiental intensificou a vigilância em áreas de matas com a presença de macacos. Em Severínia, foram achados espécimes mortos com ferimentos suspeitos na Matinha do Rubião. De 22 primatas que habitavam a área, restam oito. Um macaco encontrado morto no bairro Santa Rita, em Franca, na terça-feira, pode ter sido vítima da ação humana, segundo a prefeitura.
Leia mais
Morador de Vitória morre em João Pessoa com suspeita de febre amarela
Ministério da Saúde investiga mais 176 casos suspeitos de febre amarela
Surto nacional de febre amarela alerta autoridades do Rio Grande do Sul
A Polícia Ambiental de Bauru, que atende 39 municípios, recebeu denúncias da presença de caçadores em matas. Um suspeito foi detido com armas e munição em Arealva. Depois que um jovem de 17 anos adoeceu em Santa Cruz do Rio Pardo, cinco macacos foram encontrados mortos no Bairro Cachoeira, onde o rapaz teria sido contaminado. Dois deles apresentavam ferimentos.
Em Américo Brasiliense, onde uma idosa morreu com febre amarela após contrair a doença em uma mata local, também houve denúncias, não confirmadas, de ataques a macacos. A diretora de Saúde, Eliana Marsili, fez um apelo para que a população não se voltasse contra os animais.
– Os macacos são nossas sentinelas, nos avisam quando o vírus está circulando – disse.
Segundo Danilo Teixeira, presidente da Sociedade Brasileira de Primatologia, todos os primatas são suscetíveis ao vírus da febre amarela, sendo os bugios (gênero Alouatta), alguns saguis (Callithrix) e micos (Cebus) os mais sensíveis, podendo morrer da doença.
– Eles são tão vítimas da febre amarela quanto os seres humanos. São hospedeiros do vírus, como nós somos também. Mas quem transmite são os mosquitos. O ser humano só se contamina quando entra na mata. Ali está exposto a ser picado, ressaltou Danilo.
Investigação
Em Ribeirão Preto, dos 35 macacos achados mortos neste ano, entre eles uma família de bugios, cinco tinham a doença. Outros resultados são aguardados. De acordo com o secretário de Saúde, Eleuses Paiva, cada vez mais são registradas causas externas para as mortes. Um deles, por exemplo, foi carbonizado e outro sofreu traumatismo.
Fora da região onde se concentram os casos de febre amarela no Estado, também há indícios de caça aos macacos. Um espécime foi resgatado com ferimentos em Ferraz de Vasconcelos, região metropolitana de São Paulo, mas acabou morrendo. Os exames indicaram que a doença não foi a causa da morte. Em São Roque, dos três macacos achados mortos, um óbito foi consequência de ferimentos que podem terem sido causados pelo homem.
De acordo com a Secretaria da Saúde do Estado, de janeiro de 2016 a 14 de fevereiro de 2017 foram registradas 228 epizootias (situação de adoecimento ou óbito) para febre amarela entre macacos, sendo confirmados 32 casos da doença em primatas nas regiões de Ribeirão Preto, Barretos, Franca, São José do Rio Preto e Sorocaba.
Em Minas Gerais, a matança de macacos levou a Polícia Militar a divulgar um comunicado, alertando que matar animal silvestre é crime ambiental punido com prisão sem direito à fiança e multa. Em Simonésia, houve denúncia de mortes de primatas por tiros e envenenamento.
"Com a eliminação dos macacos, cada vez mais os mosquitos se aproximam do homem, espalhando ainda mais a doença", diz o texto do informe.
Alerta
Até a última quinta-feira, foram notificados 1.411 casos suspeitos da doença no país. Há 915 sob investigação e 352 (24,9%) confirmados. Das 224 mortes em análise, 113 foram confirmadas. Minas Gerais, foco do surto, tem 1.088 notificações em 87 cidades e 92 óbitos confirmados.