Um dos fundadores do Partido Social Democrático (PSD), o presidente dos Correios foi deputado federal por São Paulo e vice-prefeito de Campinas (SP). Incumbido de um projeto de recuperação da empresa, Guilherme Campos Júnior assumiu o cargo em 9 de junho de 2016 por indicação do ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab (PSD-SP).
Nesta entrevista, ele admite problemas nos Correios, mas afirma que quebrar o monopólio dos serviços postais seria inócuo e diz que não há problema no fato de as indicações aos cargos de gestão na estatal serem políticas.
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Como o senhor enxerga a situação dos Correios atualmente?
Os Correios são uma empresa de 354 anos, concebida dentro do monopólio dos serviços postais. E esse monopólio está acabando. A atividade postal está acabando aqui no Brasil e no mundo. Os Correios estão atrasados nas alternativas para fazer frente a essa queda. Hoje, o fluxo de correspondências é muito abaixo do que era há 10, 20, 30 anos. Os Correios têm hoje de se preparar para uma nova vida, fora do monopólio. O monopólio, no passado, garantia a remuneração da empresa, daquelas agências mais distantes, que são deficitárias, de todos os funcionários com benefícios. Hoje, o monopólio não permite mais isso. Há quanto tempo você não recebe uma carta? Há quanto tempo não manda um cartão-postal? A prerrogativa de a comunicação entre pessoas, entidades e empresas ser feita por correspondência pelos Correios hoje não é mais realidade: toda uma nova tecnologia surgiu e substitui isso.
Nesse cenário, faz sentido manter o monopólio sobre as correspondências?
Faz, né? Porque não vai mudar nada. É algo que está acabando. Por que você vai mexer no monopólio? Hoje, as empresas de serviço postal têm migrado para a questão de logística ou de encomendas – não a logística de cartas – e isso é concorrencial. Eu não me preocuparia com a manutenção ou não do monopólio. Isso daí não vai mudar nada, porque é algo que está acabando.
Mas se empresas demonstrassem interesse, não valeria abrir esse mercado?
Se você fizer isso, você vai decretar o fim dos Correios?
Não, seria mais uma alternativa.
Se você acabar com o monopólio postal, você está decretando o fim dos Correios?
Não necessariamente.
Sim, senhor. Se você decretar o fim do monopólio, vai decretar o fim dos Correios e não necessariamente vai viabilizar um novo negócio no mercado porque essa é uma atividade em extinção. A única empresa que está presente em 100% dos municípios do Brasil é os Correios, e não vejo no curto prazo alguma que possa substituí-la. E jogar fora isso que foi criado ao longo de 354 anos, eu não reputo como inteligente.
O senhor, como cliente, também percebe a queda de qualidade na empresa?
É óbvio. A qualidade do serviço dos Correios caiu, mas não é esse desastre que todo mundo coloca. Ela está aquém do que era, mas ainda tem um índice muito razoável. Quero voltar à qualidade de antigamente. Só que muita coisa tem de ser feita, readaptada. Ainda mais quando você tem de adequar os custos da empresa à nova realidade.
O que tem sido feito nesse sentido?
Todas as empresas postais do mundo tiveram de se reinventar. Isso vem acontecendo há 15, há pelo menos 10 anos. Os Correios deixaram de fazer isso. E, em função disso, o que está sendo executado no momento é um programa que tem até título: "Dez anos em um ano". Tudo aquilo que precisa ser feito em readequações está sendo feito agora. A principal ação é em cima de custos, para que possamos ter um resultado positivo até o fim do ano.
Fala-se de aparelhamento partidário dos Correios. O senhor concorda?
Os Correios são uma empresa pública há 354 anos. Todos os presidentes foram indicações políticas, eu inclusive. O jeito de acabar com isso é muito fácil: privatiza. Tem as boas indicações e tem as más indicações. Agora, quer acabar com a indicação política, empunhe essa bandeira (da privatização).