Ronaldo Mota
Reitor da Universidade Estácio de Sá e professor titular aposentado da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
O filósofo e educador canadense Herbert Marshall McLuhan (nascido em Edmonton em 1911 e morto em Toronto em 1980) é considerado por muitos um dos mais relevantes pensadores do século 20. E é fato que ele antecipou os impactos, com detalhes, do que viria a ser uma futura rede mundial de computadores, a internet, a qual só foi viabilizada comercialmente décadas depois de sua morte. Suas ideias e análises originais têm contribuído substancialmente para explicar os fenômenos envolvendo os meios de comunicação e suas relações com a sociedade. McLuhan foi importante para entender a virada do milênio e continua sendo essencial no transcurso destas primeiras décadas. Entre suas tantas obras, destacam-se: O Meio é a Mensagem, Guerra e Paz na Aldeia Global e Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem.
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Neste ano de 2017, estamos celebrando os 50 anos do livro: The Medium is the Massage: An Inventory of Effects, publicado em 1967, em coautoria com o designer gráfico Quentin Fiore. A obra, composta de textos e imagens, representava uma experiência sensorial que transcendia o ato simples da leitura, explorando o fato de que cada meio dizia respeito a uma mensagem, com efeitos diferentes no sensorial humano. Desta forma, os meios eram considerados extensões do ser humano, incluindo seus sentidos, mentes e corpos. O livro foi um exercício bem-sucedido de premonição, destacando os possíveis efeitos do que McLuhan chamava de circuitação eletrônica, uma clara antecipação do que um dia viria a ser a rede mundial de computadores. Só mesmo um visionário para prever naquele ano que um nível de interdependência eletrônica envolvendo toda a população fosse prover informação abundante, instantânea e gratuita, acelerando sua visão de Aldeia Global.
A grande ruptura nos pensamentos de McLuhan estava em assumir que o meio fosse em si um elemento essencial da comunicação e não somente um canal de passagem ou um veículo de transmissão. Ou seja, cada suporte midiático (rádio, jornal, cinema, televisão etc.), independentemente do conteúdo, teria suas características próprias e, em consequência, os seus efeitos específicos. Assim, uma eventual transformação do meio poderia ser mais determinante do que uma alteração no conteúdo, evidenciando que o mais importante não seria a mensagem, mas sim o veículo pelo qual a informação estava sendo transmitida.
Ao falar de educação, McLuhan percebeu o quanto esta área seria afetada, predizendo que, em suas palavras, "uma rede mundial de computadores tornará acessível, em alguns minutos, todo tipo de informação aos estudantes do mundo inteiro". Na verdade, hoje a citada informação já é abundante, instantânea e, progressivamente, gratuita. Previu também, corretamente, que em um futuro próximo: "Em nossas cidades, a maior parte da aprendizagem ocorrerá fora da sala de aula. A quantidade de informações transmitidas pela imprensa excederá, de longe, a quantidade de informações transmitidas pela instrução e textos escolares". Coerente com a realidade contemporânea onde todos aprendem o tempo todo, fora e dentro da escola, e cada qual de maneira personalizada, adotando meios, estratégias, metodologias que lhe são mais adequadas e convenientes.
McLuhan, portanto, desconstruiu uma relativa obsessão pelo conteúdo, resquício, segundo ele, da cultura letrada obsoleta, incapaz de se adaptar às novas condições tecnológicas. Ele sugeriu abandonar o excessivo esforço na interpretação do conteúdo e enfatizou a necessidade de centralizar as atenções no que deveria ser o alvo central: o meio. Educacionalmente, há também um interessante paralelo com a crescente preponderância metodológica do aprender a aprender sobre o simples aprender. Ou seja, mais do que o conteúdo aprendido, trata-se de reconhecer a centralidade do amadurecimento do educando acerca dos mecanismos segundo os quais ele aprende. Em resumo, em um mundo de educação permanente, o que importa ao estudante é ter, ao longo do processo, aumentado seu nível de consciência sobre como ele aprende (metacognição) e ter amplificado o domínio da multiplicidade de meios associados aos processos de aprendizagem.