A Estação Antártica Comandante Ferraz deverá ficar pronta em março de 2018. As obras irão substituir a estrutura consumida por um incêndio há quase cinco anos. Com uma equipe composta por pedreiros, técnicos e engenheiros, a empresa chinesa Ceiec, responsável pela construção, já está trabalhando no local.
Nessa primeira fase, serão instalados todos os blocos de sustentação dos módulos que irão abrigar os laboratórios, refeitórios, oficina e dormitórios. A meta é concluir a reconstrução da base no primeiro semestre de 2018.
– Tudo vem montado da China. As obras na estação têm pelo menos três fiscais ambientais brasileiros para fiscalizar a reconstrução com respeito ao meio ambiente – afirma o capitão de Mar e Guerra, Geraldo Juaçaba, coordenador do projeto de reconstrução e fiscalização da estação.
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Ao custo de US$ 99,6 milhões, a nova base está sendo construída com uma área de aproximadamente 4,5 mil metros quadrados. A estação contará com 17 laboratórios, ultrafreezers para armazenamento de amostras e materiais usados nas atividades científicas, setor de saúde, biblioteca e sala de estar.
A área de pesquisa científica foi projetada para atender a uma multiplicidade de exigências, com prioridade para os projetos do Programa Antártico Brasileiro (Proantar). Cerca de 300 pesquisadores realizam estudos na região a cada ano.
Todo o custo da obra, desde a infraestrutura à logística, é financiado pela Marinha do Brasil e pelo Ministério da Defesa. O MCTIC financia as pesquisas e os cientistas mantidos na base.
Juaçaba salienta que a base representa um posicionamento importante do país com relação às pesquisas e, também, na questão geopolítica. E que a estação é o ponto de referência do Brasil na Antártica e vários projetos de pesquisa são desenvolvidos lá.
Desde 1975, o Brasil é país-membro signatário do Tratado Antártico e desenvolve atividades científicas no continente. O tratado foi estabelecido em 1959 por países que reivindicaram a posse de partes continentais da Antártida e se comprometeram a suspender seus interesses econômicos por período indefinido, e fazer uso somente de exploração científica do continente, em regime de cooperação internacional. Nesse sentido, o Proantar, coordenado pela Comissão Interministerial para os Recursos do Mar, e a reconstrução da estação, carrega também um peso geopolítico considerável, além das suas finalidades científicas.
Pesquisas
Como oceanógrafo, o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ronald Buss de Souza, chefe do Centro Regional-Sul de Pesquisas Especiais do instituto, em Santa Maria (RS), destaca que a estação atesta a posição do Brasil como um dos signatários do Tratado Antártico, que, entre outras coisas, proíbe o uso militar do continente e do oceano circunvizinho, chamado de Oceano Austral - e não Oceano Antártico, como muitas pessoas o denominam.
Na estação existem trabalhos importantes ligados ao monitoramento de fenômenos da alta atmosfera, como sua temperatura e ondas gravitacionais, ao monitoramento da dinâmica do buraco de ozônio atmosférico e dos raios ultravioleta, de parâmetros atmosféricos de superfície, inventários de fauna e flora locais – terrestres e marinhos –, qualidade do ar, impactos ambientais locais, contaminação de solos e outros.
A reconstrução da estação vai possibilitar dar continuidade às pesquisas nas áreas de biologia, meteorologia, aeronomia e relações Sol e Terra, que se iniciaram em sua implantação, em 1984, e que só tiveram períodos de descontinuidade devido ao incêndio ocorrido em fevereiro de 2012.
A pesquisadora do Inpe, Emília Correia, ressalta que os resultados das pesquisas brasileiras no continente têm contribuído de maneira expressiva para as pesquisas no contexto internacional, principalmente, nas áreas de ciências biológicas, físicas e geofísicas.