O inverno deste ano, que deve ser um dos mais frios dos últimos tempos, encontrou um aditivo que pode deixá-lo ainda mais gelado. Coordenadores de campanhas do agasalho da Capital e de municípios do interior do Rio Grande do Sul contabilizam, nesta edição das ações, uma significativa queda no número de doações – e veem a crise financeira como provável motivo para a redução nos donativos.
Estudantes instalam guarda-roupa em frente à escola para recolher doações
Campanha expõe roupas de famosos para incentivar doações
Em Caxias do Sul, na Serra, a expectativa da Fundação Caxias era reunir 200 mil peças de roupa desde o início de maio até 18 de junho, quando se encerraria o período de coleta no município. O prazo foi prorrogado, e a campanha terminou em 30 de junho, com menos de 170 mil peças arrecadadas.
– Reduziu muito (o volume de doações) em relação a outros anos, e isso deve ter se dado em função da crise. Sentimos falta de roupas de criança, cobertores e peças mais grossas de inverno, que é o que pessoal mais precisa – comentou o gerente da fundação, Ermilo Guizzo.
Volume menor, qualidade maior
O impacto também foi sentido pelos organizadores da ação em Bagé, na Campanha, onde os pontos de coleta receberam, em um mês, 19 mil peças, que corresponde a somente metade do volume doado no ano anterior, quando se bateu o recorde de 37 mil unidades de roupa. Para a secretária-executiva da ONG Programa Cidadão Bageense (Procipa), Cristiane Rodrigues, o sentimento é de frustração:
– Sob o slogan "Envolva-se", pulverizamos os pontos de coleta nas principais praças da cidade e tivemos uma divulgação pelos meios de comunicação muito maior do que no ano passado. Mas sabemos que estamos enfrentando um momento de crise, e que as pessoas também estão vendendo suas roupas usadas para briques e brechós, que estão pipocando na cidade – disse.
Por outro lado, afirma Cristiane, as doações recebidas foram mais selecionadas e alinhadas com a estação. É a avaliação que também faz João Goerck, vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Santa Cruz do Sul, entidade que organiza a campanha na cidade do Vale do Rio Pardo:
– O número de doações foi menor, foram 55 mil peças neste ano e 65 mil em 2015. Arrecadamos menos, mas com mais qualidade. Na última campanha, quase metade das roupas doadas era de verão. Agora, mais de 80% eram peças quentes, de inverno mesmo. Então, apesar de ser uma campanha menor em número de roupas doadas, foi de maior valor.
Frio antecipou demanda por roupas
Em Porto Alegre, a antecipação do frio também fez com que a campanha tivesse início, em 2016, quase duas semanas antes em relação ao ano anterior. Desde de 4 maio, foram arrecadadas pouco mais de 100 mil peças – 20 mil a menos do que no mesmo período do ano passado, em que as baixas temperaturas no Estado se conjugaram com as enchentes, aumentando significativamente o número de donativos. Mas os sinais da crise, para o coordenador, Tiago Reis, estão aí:
– As pessoas costumavam comprar cobertores, aqueles baratinhos, e doar ainda embalados, novos. Além disso, estamos recebendo pouquíssima roupa infantil, o que pode ser um reflexo da situação financeira, que leva a população a passar essas peças para familiares e amigos.
Na avaliação do subchefe da Defesa Civil no Rio Grande do Sul, coronel Alexandre Martins de Lima, as doações não estão tão menores do que as registradas no ano passado _ o problema é que, devido à antecipação do frio, a demanda em 2016 está sendo maior. A experiência do coronel em campanhas de assitência anteriores o leva a crer que a população participa das ações por meio de estímulos. E, neste sentido, afirma ele, o frio não tem tanta força se comparado com as imagens das trágicas enchentes que atingiram o Estado em 2015.
– Eu esperava que o engajamento da população viesse mais cedo neste ano, porque o frio também veio mais cedo. Mas sabemos que o frio não é um evento que chama tanto a atenção se comparado com o que se viu no ano passado, quando, no inverno, pessoas estavam desabrigadas, com suas casas tomadas pelas enchentes em vários municípios – afirma o subchefe.
A Defesa Civil tem postos de doação espalhados em todas as regionais do Estado. Em Porto Alegre, a mobilização segue até 3 de agosto (confira os pontos de coleta ao lado). Interessados em fazer doações em outros municípios gaúchos podem buscar nas prefeituras informações sobre período e locais de entrega e também sobre os artigos mais necessários.
Onde a Defesa Civil recebe donativos em Porto Alegre
Paço Municipal – Praça Montevidéu, 10
Usina do Gasômetro – Avenida Presidente João Goulart, 551
Secretarias municipais
Supermercados Zaffari (Rua Fernando Machado, 560; Avenida Otto Niemeyer, 601; Avenida Túlio de Rose, 80)
Ônibus da Carris
Shopping Rua da Praia _ Rua dos Andradas, 1.001