Um projeto pioneiro do Corpo de Bombeiros de Santa Catarina, em Itajaí, vai transformar cães de busca em auxiliares no salvamento aquático. O treinamento é inédito no país e promete agilizar os procedimentos de resgate em casos de afogamento. A expectativa é que os primeiros cães estejam prontos para a próxima temporada e que, em breve, o serviço seja estendido para todo o litoral no Estado.
O primeiro a receber o treinamento é Ice, cão do 7° Batalhão dos Bombeiros, em Itajaí, que está entre os melhores animais especializados em busca e resgate na América do Sul. Ele tem oito certificações internacionais e ajudou a procurar vítimas soterradas em grandes desastres, como o rompimento da barragem em Mariana (MG), no ano passado.
Para Ice, a nova função é uma grande brincadeira. A um sinal do treinador, o sargento Evandro Amorim, o cão corre para a água e localiza o “dublê” – bombeiro que, por enquanto, faz as vezes de vítima de afogamento. O cão aprende que não pode se aproximar do alvo pela frente, sob o risco de ser agarrado pela vítima e se afogar também. Ice dá a volta e, por trás, leva o equipamento de salvamento (o life belt, uma espécie de cinto para flutuação) à pessoa que precisa de ajuda. Missão cumprida, o cão volta para a areia nadando e, já em terra firme, de rabinho abanando, recebe a recompensa: um biscoito ou um carinho.
– O cão vai auxiliar muito em casos em que há mais de uma vítima. Enquanto o guarda-vidas socorre uma, a outra recebe o equipamento – explica Amorim.
O sargento, que criou Ice desde pequeno, foi o responsável por desenvolver as técnicas de treinamento. A ideia de trazer o trabalho para Itajaí partiu do comandante do Batalhão, tenente-coronel Charles Alexandre Vieira, que soube do uso dos chamados “cães-rebocadores” na Itália.
Os testes com Ice começaram há cerca de três meses, e o progresso tem sido rápido. Nos próximos meses, os outros nove cães do Corpo de Bombeiros Estadual vão passar pelo mesmo treinamento. As atividades serão concentradas nas praias da Atalaia e Cabeçudas, em Itajaí. Mas a intenção é oferecer o serviço em todo o Litoral.
– Precisamos testar para saber quais deles vão se adaptar ao trabalho. A maior dificuldade é com as ondas, alguns estão acostumados a nadar, mas não têm essa experiência – diz.
O treino é feito em dupla: o cão passa pelas lições junto com o militar com quem convive e com quem forma uma dupla de trabalho. Por enquanto, uma eventual escalação para o trabalho de praia será para os dois.
No futuro, a intenção é selecionar guarda-vidas aptos ao trabalho para que possam atuar junto com os cães nas praias.
Perfil dos ajudantes
– Labradores são a raça ideal para o trabalho. A cauda forte funciona como um leme e as patinhas possuem uma membrana que as torna parecidas com nadadeiras. Além disso, a pelagem é impermeável e evita que o cão sinta frio ao se molhar
– Para o cão, o salvamento é uma grande brincadeira. O animal recebe petiscos e carinho em troca do trabalho
– Cães dos bombeiros vêm de linhagens de cães de trabalho. Ice, por exemplo, é da quarta geração de cachorros nascidos na corporação em Santa Catarina. Filhotes dele vivem em vários Estados do país, trabalhando em busca e resgate
– Para que o trabalho funcione, cão e bombeiro precisam ter sintonia: a dupla trabalha em parceria e, com o tempo, um aprende a “ler” os sinais do outro
Onde estão os cães dos bombeiros em SC:
Criciúma, Araranguá, Itajaí, Curitibanos, Xanxerê e Maravilha