A experiência de 34 dias no Nepal, onde trabalhou como voluntário em um orfanato, ditou a mudança de rumo na vida do administrador de empresas Eduardo Mariano, 26 anos. O que vivenciou ao lado de crianças e adolescentes no país asiático o fez deixar os planos de ser executivo para incentivar projetos humanitários. Assim, nasceu a Exchange do Bem, empresa de intercâmbio que conecta pessoas que desejam ser voluntárias a ações desenvolvidas na África, na Ásia e nas Américas.
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Formado pela UFRGS, o jovem nascido em Santa Rosa e criado em Uruguaiana tinha carreira promissora dentro de uma multinacional na área de informática, na qual ingressou como estagiário e, três meses depois, foi efetivado. A busca por uma experiência no Exterior o levou, em 2012, à França, por meio de um convênio com a Kedge Business School. Estudou temas como marketing, finanças e políticas internacionais. Dez meses depois, partiu para o Nepal.
– Era uma vontade que tinha há tempo. Peguei a lista do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e fui olhando de baixo para cima. Comecei a procurar lugares que queria conhecer e precisavam de ajuda – conta.
No país situado na encosta da cordilheira do Himalaia, que tem na agricultura e no turismo a base da economia, Eduardo morava e trabalhava em um orfanato com crianças de três anos a adolescentes de 16. Brincava e ajudava na manutenção, na cozinha e nos estudos. Na escola da região, chegou a dar aulas de inglês.
– São crianças que se apegam muito a nós. Passava o dia inteiro com elas. Era período de férias e época de chuvas torrenciais – acrescenta o jovem, que era chamado, em nepalês, de "irmãozinho".
No retorno ao Brasil, Eduardo voltou à multinacional onde atuava anteriormente. Queria crescer rápido na carreira, mas balançou quando se deu conta de que seu esforço era, sobretudo, para "deixar um bilionário ainda mais rico". Foi aí que deparou com o livro The Promise of a Pencil (A Promessa de um Lápis, em tradução livre), de Adam Braun.
– Ele era um consultor que não estava satisfeito com a vida que levava e acabou criando uma organização que constrói escolas. Vi que eu queria fazer algo assim já no meio do livro – relata.
Encorajado pela história de Braun, o administrador passou a planejar a Exchange do Bem. Juntou as economias, vendeu o carro e lançou a empresa no último domingo. Amanhã, embarcará para a África com o objetivo de mostrar o cotidiano de voluntários durante 50 dias por meio de redes sociais. Passará por África do Sul, Uganda, Gana e Quênia – quatro dos 14 países em que a empresa já tem contatos.
No Brasil, a Exchange do Bem pretende contribuir com um projeto de acesso à educação na favela da Rocinha, no Rio, entre outras iniciativas. O trabalho de Eduardo é fazer o meio de campo entre quem quer ser voluntário e quem precisa de ajuda: fecha as parcerias, vê se os locais estão aptos para receber as pessoas, busca habitação e outras facilidades.
Parte do lucro vai financiar projetos sociais
Por acreditar na educação como meio de promover a mudança social, 10% do lucro da empresa será investido em projetos no Brasil, como o da Rocinha:
– A educação que pode mudar. Grande parte das crianças pobres estão fora do ensino primário. É importante que elas estejam incluídas desde a idade inicial, na qual começamos a formar o caráter, o que levaremos para toda a vida.
Assim como acredita que a mudança se dá no longo prazo, Eduardo vê seu projeto de vida da mesma forma. Não pensa em retorno financeiro neste ano. Porém, com o passar do tempo, prevê que não só o lucro dele e do sócio – que se juntou a ele no último mês – sejam concretos; pensa em reverter mais dinheiro a projetos sociais.
– Quero ajudar a reconstruir uma escola no Nepal que foi destruída no terremoto, por meio de uma ONG britânica que trabalha nisso – diz Eduardo sobre o país que sofreu um terremoto no ano passado, deixando milhares de mortos e milhões de desabrigados.
Países em que a Exchange do Bem tem parcerias: Nepal, Vietnã, Sri Lanka, Índia, África do Sul, Uganda, Gana, Quênia, Peru, Costa Rica, Guatemala, Haiti e Brasil.