Os -2ºC graus marcados no amanhecer desta quinta-feira em São José dos Ausentes tornam o dia um dos mais gelados do ano. Poucos corajosos arriscavam-se nas ruas por volta das 6h, diante da geada que coloriu para valer as fazendas e belezas espontâneas da cidade. Em municípios como Caxias do Sul e Flores da Cunha, por exemplo, o cenário não foi diferente. Também houve registro de geada e temperaturas baixas. Já em Vacaria, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a sensação térmica foi de -8ºC, apesar de os termômetros registrarem 1,2ºC.
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Mas, foi em São José dos Ausentes que o frio chegou mais forte nesta manhã. A fina camada de gelo que cobriu estradas de chão, carros e a vegetação dava o tom gélido do nascer do dia, que, por volta das 7h, ainda registrada temperatura negativa.
São José dos Ausentes precisa do frio para impulsionar o turismo – estima-se que a cidadela com pouco mais de 3 mil ausentinos receba cerca de 6 mil visitantes por ano. Mesmo assim, é inevitável que as temperaturas negativas mudem o comportamento de quem vive ali o ano inteiro. Pudera: o ponto mais frio do Estado fica ali, à beira do canyon Monte Negro, com 1,4 mil metros de altitude, registrando até -13C.
– O primeiro frio é o que mais vende – confessa.
O comércio vibra com as vendas e a rede hoteleira também interpreta o frio como aperitivo para brindar. Nesta quinta-feira, a proprietária do Hotel Morada das Glicínias, Fátima Rozana Guimarães, popular Mana, promete abrir um espumante para celebrar os quatro anos do empreendimento com lotação quase máxima. Desde dezembro, é difícil sobrar vagas entre os 16 quartos.
– Os paulistas chegam aqui prontos para provar a minha sopa de capelete com galinha caipira – exibe-se, acordando às 5h para preparar o café da manhã para os hóspedes.
Temperaturas geladas também castigam
É claro que tanto frio assim traz algumas consequências nem tão positivas. A Assistência Social (CRAS) organizou um espaço na Rua Joaquim de Oliveira Paim, número 694, para o recebimento de doações de roupas e cobertores. Eles são destinados principalmente a comunidades rurais carentes do interior e imigrantes que vêm trabalhar na safra da batata e da maçã. A escola infantil Ciranda da Magia, da rede municipal, está buscando verbas na comunidade para comprar um ar condicionado para manter a temperatura suportável aos 21 alunos do berçário. Falta bastante para atingir os R$ 2 mil necessários.
– O resto das salas tem aquecedores, mas ali, não tem – lamenta uma das funcionárias da creche, Olira Santos.
Ausentino para valer
Enquanto uns procuram aquecedores, outros adquirem cobertores: era o caso do paranaense Altierre Nunes dos Anjos, 24 anos, que saia de uma loja carregando um saco de cobertas. Na cidade desde janeiro, ele costuma passar temporadas em Ausentes para trabalhar na colheita da batata. No entanto, o que era para ser mais uma visita, resultou em moradia fixa: ele está se mudando para a cidade mais gelada do Estado porque começou um namoro com a ausentina Daniela. O frio incomoda, mas vale à pena:
– Eu gosto bastante daqui, mesmo fazendo muito mais frio do que estou acostumado.