Com mais de 100 milhões de usuários no Brasil – que usam o app para atividades que vão desde combinar um churrasco com os amigos a negociar a venda de produtos –, é natural que o bloqueio do WhatsApp tenha criado um certo clima de histeria coletiva. Mas algo ocorreu entre a primeira suspensão do app, em dezembro do ano passado, e a determinação que o tirou do ar no começo desta semana. Se, da primeira vez, os usuários se detiveram a lamentar, desde ontem, boa parcela deles mostra reações menos passivas em relação à interrupção do serviço.
A resposta mais evidente à suspensão do app se expressa em números: mais de 7 milhões de pessoas baixaram o Telegram, aplicativo de mensagens semelhante ao WhatsApp, nas últimas 24 horas. A informação foi divulgada no Twitter do serviço, que pediu desculpas aos usuários brasileiros por eventuais contratempos causados pelo "enorme número de SMS de verificação" que não estaria sendo processado pelas redes do Brasil.
– O brasileiro é muito aberto a novas tecnologias, e, dessa vez, a própria mídia está divulgando outras formas de comunicação. Acho que é uma reação natural, em resposta ao bloqueio – observa a professora de marketing digital da ESPM-Sul, Claudete Tavares.
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A pesquisadora não acredita, no entanto, que os novos usuários do Telegram migrem de vez de ferramenta com o fim da suspensão do WhatsApp, determinado pela Justiça no começo da tarde desta terça-feira.
– Pode acontecer até o contrário. Se tem alguém que não conhecia o WhatsApp, vai ficar curioso. O buzz que é criado em torno do bloqueio acaba reforçando ainda mais a marca – pondera.
Para a especialista em jornalismo digital Maria Clara Aquino Bittencourt, por outro lado, a reincidência do bloqueio ao WhatsApp abriu uma brecha maior para que as pessoas conheçam os concorrentes. E, quanto mais usuários tomam contato com novas ferramentas, maior é o potencial de elas se tornarem uma "ameaça" ao sucesso do WhatsApp.
– Inicialmente, acho que as pessoas são movidas mais pela falta do que pela curiosidade de experimentar algo novo, até porque, não adianta ter um aplicativo de mensagens que os seus contatos não usam. Mas tem gente que migrou para o Telegram, por exemplo, que considerou a ferramenta até melhor – diz.
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Criado há dois anos e meio, o Telegram tem 100 milhões de usuários em todo o mundo. O número é o mesmo de usuários do primo famoso somente no Brasil.
Mas nem só essa pequena traição salvou a vida dos usuários do WhatsApp nas 24 horas em que o serviço ficou fora do ar no Brasil. O próprio messenger do Facebook – recomendado pela empresa, que é dona do WhatsApp – e serviços como Skype, o iMessage, e, pasme, ligações telefônicas, foram opções utilizadas. Mas também teve quem preferiu redescobrir o prazer de não se conectar a quase nada.
– Tem gente que prefere não substituir porque, quando se livra da ferramenta, percebe que, em alguns momentos, a vida pode ser mais tranquila – avalia Maria Clara.