Desde a última quarta-feira, cinco escolas estaduais foram ocupadas pelos seus próprios estudantes em Porto Alegre. Primeira a aderir ao movimento iniciado em São Paulo, chamado de Ocupa Tudo, a escola Emílio Massot foi liberada no sábado. As demais seguiram como palco de protesto por melhorias de infraestrutura e de valorização da educação, com prazo indeterminado para acabar. Enquanto isso, o secretário de Educação permanece em férias, os professores entraram em greve e o governo estadual segue vivendo com as contas no vermelho.
Da rotina das ocupações, fazem parte "aulas públicas", atividades de integração e esportivas, refeições compartilhadas por pais e professores, além de muitas reuniões e assembleias para falar do movimento e dos próximos passos. Os estudantes da Escola Estadual Agrônomo Pedro Pereira, ocupada desde quinta-feira, aproveitaram o fim de semana para aprender tópicos e abordagens diferentes dos quais estão acostumados a ter contato em sala de aula. Com a ajuda de alunos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), tiveram "aulões" sobre Revolução Russa, ditadura militar, socialismo e capitalismo, feminismo e até mesmo sobre a redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Estão previstas, ainda, aulas de handebol, ioga, dança, culinária e outras atividades que por acaso forem indicadas ou oferecidas.
– Estamos aprendendo outro conceito de educação, uma em que a gente possa opinar, participar e criticar – avalia o estudante do 3º ano Antônio Henrique Fonseca Porto, 16 anos. – Estamos muito felizes, porque tem cada vez mais gente querendo participar, e todo mundo é bem-vindo.
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Os integrantes das ocupações têm contado com ajuda de fora para se manter sem ter de deixar os prédios, protegidos por portões cadeados. Além de pais e professores, vizinhos das escolas, ONGs, escoteiros e entidades doam alimentos, cobertores, colchões, talheres e produtos de limpeza, entre outros itens. A rotina é detalhada em páginas criadas no Facebook, que exibem fotos de cachorros-quentes, batucadas, confecção de cartazes, prática de slackline, debates, aulas e até mesmo conserto de equipamentos das escolas.
Na escola Padre Reus, ocupada na quinta-feira, além de espaço para debates, houve uma palestra com um professor de História. O tema foi como reagir à abordagem policial. Laura Barrera, 16 anos, aluna do 3º ano do Ensino Médio, conta que o grupo ainda está se organizando, criando comissões de segurança, comunicação e alimentação. Um regimento interno também foi criado. Entre as regras de convivência da escola ocupada estão a divisão de dormitórios e a proibição de entrada de qualquer tipo de droga, ilícita ou não, por exemplo.
O mesmo acontece no Julio de Castilhos, o Julinho. Há ainda a regra de identificação obrigatória no portão: quem não tiver documento de identidade ou o crachá da entidade que representa não entra. E também não sai, conforme o caso de um membro da banda do colégio e vice-presidente da Fundação de Apoio ao Julinho, que só conseguiu sair da instituição depois de duas horas e mediante ajuda da Brigada Militar. A versão dele é que exigiram sua identificação e, como ele se negou a fornecê-la, foi impedido de sair. Os manifestantes não estão permitindo a entrada da imprensa na escola e não quiseram falar com a reportagem ZH.
Os alunos do Colégio Emilio Massot optaram por encerrar a ocupação após a deliberação de greve pelos professores. Segundo Douglas da Silva Silveira, 16 anos, do 2º ano do Ensino Médio, os estudantes seguem mobilizados, realizando reuniões diárias, e não descartam nova ocupação.
– Não queremos atrapalhar o movimento dos professores. Além disso, como eles não estarão na escola, não queremos que achem que é uma invasão. Por ora, vamos passar nos outros colégios e oferecer nossa ajuda – explica Douglas.
ZH não conseguiu contato com os organizadores no protesto do Colégio Paula Soares, o último a ser ocupado, no sábado. O objetivo dos alunos das quatro escolas que permanecem ocupadas é ficar nos espaços até que haja sinalização do governo do Estado em ampliar os investimentos na educação. A Secretaria Estadual de Educação se manifestou apenas por nota. No texto, reconhece "as dificuldades estruturais do serviço público, mas conclama a unidade dos gaúchos para superar esses problemas históricos, cuja solução não depende de mera vontade política". Diz ainda que é fundamental que as aulas sejam mantidas regularmente e que o acesso dos professores e alunos deve ser preservado. "Caso isso não ocorra, as Coordenadorias Regionais de Educação devem ser imediatamente comunicadas, conforme regem as normativas em vigor", alerta o governo.
O Colégio Estadual Protásio Alves foi ocupado na noite deste domingo, por volta das 21h, por cerca de 30 alunos. As demandas serão apresentadas nesta segunda-feira, às 8h30min, em assembleia na escola.
O secretário Vieira da Cunha entrou em férias na semana passada e ainda não se sabe se ele seguirá no comando da pasta depois de seu retorno – há informações de que ele teria pedido demissão para concorrer a prefeito, o que não foi confirmado pelo Piratini.