A estratégia é a de quem luta contra um predador do rio. Para pescar o robalo, um dos peixes mais desafiadores para os amantes do caniço, é preciso técnica e precisão - mais do que isso, tem de transformar uma isca artificial feita pelo homem em bicho vivo.
Pescadores esportivos do Rio Mampituba, com movimentos na vara e na carretilha ou molinete, fazem camarões de silicone parecerem reais para atrair os peixes, que nesse caso não são presas. Cada um deles, depois de pescado, retorna ao rio, para que cresça e se reproduza, e assim mais gente possa se divertir.
A filosofia do "pesca e solta" é um dos pontos mais interessantes da pesca esportiva _ que tem campeonatos, associações organizadas e cada vez mais interessados. Zero Hora acompanhou um dia na rotina desses amantes da natureza, que enxergam o rio que divide Rio Grande do Sul e Santa Catarina com outros olhos.
- A pesca esportiva é só por divertimento, lazer. Pegamos o peixe e seguramos o mínimo de tempo possível fora da água para não maltratá-lo. Imediatamente após fotografar, registrar e pesar, a gente solta de volta ao hábitat dele. A ideia de devolver está ligada a tentar preservar o máximo possível para que tanto nós quanto as futuras gerações ainda tenham esse peixe para pescar. E para que ele não acabe por causa da pesca predatória - afirma Ataniel Mezzomo, presidente da Associação Gaúcha de Pesca com Iscas Artificiais (Agapia).
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Da foz até o seu encontro com outros afluentes, como o Rio Sertão (que vem de SC) e o Rio Verde, para os lados da BR-101, vê-se os poucos manguezais ainda preservados (devido às construções) e as diversas voltas que deram origem ao nome Mampituba, que em Tupi-Guarani quer dizer "rio de muitas curvas". Às margens, estão animais como capivaras, lontras e jacarés.
No Brasil, duas espécies de robalo são as mais comuns, o flecha (Centropomus undecimali) e o peva (Centropomus paralellus). Quem habita as águas do Estado são majoritariamente os do tipo peva. Inclusive, o recorde mundial de captura desta espécie, registrado na International Game Fish Association (Associação internacional de Pesca Esportiva) ocorreu justamente em Torres, em 2005. Gilnei Braido, de Bento Gonçalves, pescou um exemplar de quase 5 quilos.
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Esse animal vive no mar, mas entra no rio, em alguns casos muitos quilômetros adentro, em busca de alimento - camarões, siris e pequenos peixes. Por isso, sua captura é tão difícil, pois as variações de maré e de lua influem na sua migração para águas doces. Por ser uma espécie que requer muita técnica, observação e conhecimentos do ecossistema, é um dos preferidos destes pescadores.
Um grande negócio em outros países
O debate da pesca como turismo é muito mais desenvolvido em outros países. Na Argentina, por exemplo, pescadores gastam, entre licenças de pesca, diárias de hotel , alimentação e suvenires, quantias que chegam a até US$ 300 diários (cerca de 1,2 mil), e os rios são de fato fiscalizados por patrulhas ambientais. Por volta de 70 mil brasileiros fazem esse tipo de passeio ao ano no país vizinho somente na costa do Rio Paraná, em Corrientes.
Pescadores profissionais argentinos que viviam da atividade predatória, retirando um grande volume de peixes e vendendo a preços nem sempre rentáveis, hoje são guias e piloteiros de embarcações. Ganham mais e não precisam remover do rio a sua forma de sustento, mantendo as populações de pescados vivas para que sigam rendendo diversão.
Enquanto isso, no Mampituba, muitos ainda instalam redes à noite para caçar corvinas, bagres e tainhas e fornecer ao mercado a preços baixos para quem pesca. O robalo, por circular normalmente próximo a estruturas do rio, como galhos, lajes e pedras, consegue se safar. Além disso, não tem tanto valor comercial quanto os outros.
- O Mampituba tem um potencial turístico imenso, assim como outros do Estado, como o Uruguai, por exemplo. A pesca esportiva tem muito a expandir aqui. Mas é preciso começar a conscientizar as pessoas disso - explica César Fagundes, consultor de pesca que tem uma agência de turismo especializado no setor.
Estratégia de guerra para enganar o predador
Como é um peixe difícil de ser pescado, a pesca do robalo tem mais resultado de acordo com o conhecimento e a estrutura de equipamentos do pescador. Membros da Agapia e da Associação Rio-Grandense de Pesca com Iscas Artificiais (Arpia), que organizam campeonatos no Mampituba, investem muito dinheiro nessa diversão. Os barcos chegam a custar mais de R$ 100 mil e contam com sonares que fazem a leitura do fundo do rio, dizendo se os peixes estão passando.
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Mas estamos falando de entusiastas e apaixonados. Quem quer se aventurar de forma mais simples, também pode jogar as linhas na água direto do barranco, como fazem muitos pescadores amadores que, normalmente, buscam outras espécies mais simples de capturar, como bagre e a corvina, por exemplo. O robalo também está ali e pode ser pescado por qualquer um, basta um pouco de preparação. O consultor de pesca César Fagundes explica que, com cerca de R$ 480, já é possível começar.
- Com o barco temos mais opções de pesqueiros. Mas também pescamos nas margens próximas à foz do rio, onde muitos pescadores também estão. O peixe está ali. Hoje, alguns pescadores de final de semana já conhecem as iscas artificiais e conseguem pegar bons robalos a partir das margens - conta César.
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Para cada tipo de isca existe uma técnica, utilizada para mimetizar a natureza e atrair o robalo, que é um predador. O comportamento dele varia bastante, por isso, antes de chegar ao local de pesca, é preciso uma boa pesquisada no comportamento do animal. Nos dias em que o rio está com a água mais clara, ele costuma atacar na superfície (para isso, usa-se iscas que boiam mais), às vezes até aos olhos do pescador, o que é o suprassumo da atividade - enxergar o momento do bote.
Se você pretende se aventurar nesse verão, pratique com consciência. Ninguém está proibido de levar peixes para casa, mas evite os muito pequenos. O presidente da Arpia, Fabiano Ventura, explica que quem tiver a intenção de retirar peixes do rio deve escolher os de tamanho médio. Peixes grandes também são importantes de serem devolvidos, para manter a genética viva. Só não vale mentir que pegou um graúdo depois.
As competições
De seis a sete competições de pesca são realizadas anualmente no Rio Mampituba. É estabelecida uma cota, normalmente de cinco peixes com no mínimo 20 centímetros para cada equipe, e vence quem fisga os maiores. Os robalos são guardados em viveiros no barcos, passam pela pesagem dos juízes e depois são soltos. Se, por acaso, algum não sobreviver, não é contabilizado.