O bairro Urlândia, na região sul de Santa Maria, abriga um dos poucos alojamentos para travestis e transexuais registrados no Brasil. Atualmente, o Verônica Alojamento recebe 16 garotas e é ponto de referência para quem sofre o preconceito desde cedo, seja em casa ou na rua.
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- Quase toda transexual que se assume é colocada para fora de casa pela família. Isso ainda é bem frequente. Em alguns casos, a gente chega na porta de um hotel e dizem que não tem vaga, mesmo a gente já tendo reservado. O preconceito é grande. São olhares e risos. Aqui, todas se dão bem - diz Verônica Oliveira, administradora do local.
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Segundo ela, mais de mil travestis e transexuais já passaram pelo pensionato, que soma 10 anos de existência. Algumas ficam alguns dias ou semanas, outras, mais tempo. Sem o reconhecimento de suas identidades de gênero, a maioria acaba trabalhando na noite. Outras são cabeleireiras e manicures. Mas, a maioria carrega junto uma história triste de rejeição familiar e violência transfóbica. Mas no alojamento, a tristeza fica da porta para fora.
- Aqui, o preconceito não entra. Para ficar no alojamento tem que seguir regras e tem que ser por indicação. Não pode fazer uso de drogas e não pode trazer namorado ou cliente - comenta Verônica.
O local é tido por todas as frequentadoras como um porto seguro, onde a escolha de cada uma é respeitada.
- Aqui, tudo é bem organizado, temos a nossa privacidade. A maioria de nós não termina os estudos, não consegue trabalho. As pessoas acham que temos um distúrbio mental. Aí, nos resta a rua, e muitas acabam caindo no mundo das drogas. Mas o que ninguém vê é que, se estamos ali, é porque algum problema existe. E o problema de uma travesti é a família, que não a aceitou como ela é - comenta Manuela Volp, que veio de Criciúma passar uns dias na cidade.
Vista como uma segunda casa na vida da maioria das trans que passam pelo local, o alojamento é considerado uma referência em Santa Maria e no Estado, sendo o único da cidade. E hoje, 29 de janeiro, no Dia da Visibilidade Trans, Verônica, que também é uma das lideranças LGBT da cidade, dá o recado:
- Continuamos lutando por nossos direitos. Não escolhemos ser mulher. Nascemos com alma feminina e, com o passar dos anos, vamos mudando a aparência. E mesmo passando por todo esse sofrimento de mudança do corpo, ainda somos motivo de piadas caricatas e ofensivas. Por favor, entendam que uma transexual é uma mulher, e sempre deve ser referida no gênero feminino. Eu sou "ela".