Entre Lisandra Perna saber que estava grávida e o nascimento de Vitória, passaram-se apenas três meses. A comerciária de 25 anos descobriu que carregava um bebê na 12ª de gestação, em abril. Em 1º de julho, durante um exame de rotina no Hospital Materno Infantil Presidente Vargas, em Porto Alegre, Lisandra foi diagnosticada com pré-eclampsia (hipertensão arterial específica da gravidez que ocorre, geralmente, a partir da 20ª de gestação). A gestante nem voltou para casa - por precaução, os médicos decidiram interná-la. Aos oito minutos do dia 7 de julho, somente 24 semanas após ter sido gerada, Vitória veio ao mundo. Pesava 380 gramas - é o menor bebê já nascido na maternidade do Presidente Vargas.
Vitória é o que se chama de prematuro extremo. Todo bebê que nasce antes das 36 semanas é considerado prematuro. Antes de completar 28, é prematuro extremo. Nessa fase, os órgãos já estão formados, mas são muito imaturos, de acordo com a chefe da UTI Neonatal do hospital, a neonatologista Silvana Streit Pires. Casos assim não são comuns. Há dois anos, uma mulher com 23 semanas de gravidez deu à luz na instituição um menino com 390 gramas. No Brasil, o menor bebê nasceu com 335 gramas, na 26ª de gestação, em São Paulo.
- O peso é uma informação fundamental para o bebê. Quando nasce com 500 gramas, já requer cuidados enormes. A Vitória nasceu com 380, o peso de uma laranjinha. Foi um desafio enorme garantir a vida e a saúde dela - lembrava, ontem pela manhã, Silvana.
As condições são delicadas. Os bebês não conseguem respirar nem se alimentar sozinhos. Órgãos como os rins e os intestinos precisam de apoio constante. Logo que deixou o útero da mãe, Vitória foi para a incubadora, onde recebia ventilação mecânica, sonda gástrica, nutrição pelas veias e antibióticos. Há riscos de sequelas, como problemas pulmonares e neurológicos. Lisandra só pôde dar colo para a filha em 12 de setembro, mais de dois meses depois do parto.
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A neonatologista Silvana, aos resumir a evolução de Vitória durante os 120 dias de internação, festejou:
- Aos poucos, ela foi aprendendo a respirar sem ajuda, a mamar no peito da mãe. Ela não sofreu nada que demandasse medidas mais extremas, mas vamos acompanhá-la de perto. Agora, ela não apresenta problemas graves, está bem, pesa mais de dois quilos e já está há mais de 48 horas sem sonda, pronta para receber alta.
O documento de alta foi liberado às 14h, após o último dos exames de praxe, o oftalmológico. As olheiras do pai denunciavam que a noite anterior havia sido de muita expectativa.
- A gente mora em Itapuã, lá em Viamão, mas não vamos para casa desde que internamos aqui -contou Luis Rogério Reis da Silva. - Apesar do susto, de toda a força que tivemos que reunir para acompanhar esses primeiros meses e ver a Vitória se fortalecer, ela é meu maior presente. Nasceu no dia em que completei 28 anos.
Médicos e enfermeiras se revezavam com a pequena no colo na hora da despedida.
- Todos nós acompanhamos cada minuto da família aqui dentro, vimos a evolução da Vitória. Ela ficou quase três meses entubada, ganhou o primeiro quilo pouco antes de completar o terceiro mês. Nos apegamos, mas queremos vê-la evoluir ainda mais - disse a enfermeira Vanessa Severo.
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Lisandra, Luis e a filha devem voltar ao hospital no próximo dia 12 para o primeiro reencontro com a pediatra. A rotina dos primeiros meses em casa não será calma. Ao se despedir da família, a enfermeira entrega uma caixa com mais de 10 tipos de medicamentos (como sulfato ferroso e vitaminas A e D) e uma lista com recomendações (desde orientações médicas e cuidados por conta da frágil imunidade de Vitória).
- Isso aqui - disse Vanessa com os remédios e os papéis nas mãos _ é vida para nossa guriazinha extrema.
Festa na casa da vovó Sandra
A primeira parada de Vitória seria na residência da avó de primeira viagem, Sandra Perna, 42 anos, na zona sul da Capital, onde a menina vai ficar pelos próximos 30 dias - para estar mais próxima do hospital. Por volta das 16h, a casa estava cheia: tios, primos e vizinhos relembravam a gravidez, o dia da internação, o telefonema que anunciava a chegada da bebê. Jarras e jarras de café foram passadas. Tudo para amenizar a ansiedade pela chegada de Lisandra, Luis e Vitória.
- Hoje é feriado para a minha família - celebrou a avó.
Quando Laura, irmã de Lisandra, recebeu a mensagem de que o trio estava entrando no carro, todos se postaram de pé. E assim permaneceram por 40 minutos, olhando para a rua.
- Quero pegá-la - disse uma prima.
- Não pode ainda - retrucou a avó.
Às 16h30, um Corsa branco estacionou no pátio. Entre fotos e lágrimas, todos gritavam:
- Viva Vitória! Viva!
Lisandra festejou:
- Ninguém foi trabalhar, para esperar a gente chegar.
E arriscou-se a adivinhar a reação da filha:
- A Vitória já está adorando, ela gosta de agitação. Se ninguém estivesse falando, ela estaria resmungando. Gosta de barulho. É muito precoce essa minha filha.