Com lente de aumento
Verdades Secretas colocou nas rodas de conversa de todo o Brasil um assunto que, até então, costumava ficar restrito aos bastidores da moda: o book rosa. Um catálogo de modelos que, eventualmente, aceitam fazer sexo em troca de altas quantias em dinheiro, presentes valiosos e vantagens profissionais.
Na novela das 23h, Fanny (Marieta Severo) oferece meninas da sua agência a clientes poderosos como Alex (Rodrigo Lombardi). E o time de beldades é grande: Angel (Camila Queiroz), Stephanie (Yasmin Brunet), Larissa (Grazi Massafera) e Kika (Agatha Moreira) já sucumbiram à tentação de faturar muita grana, rapidamente, em troca de sexo.
Do outro lado da telinha, quem está imerso neste universo aponta contradições entre ficção e vida real, mas confirma: a prática é antiga e bastante conhecida. O Diário Gaúcho ouviu modelos do book rosa e especialistas do mundo fashion para abrir esse livro e desvendar o lado B do glamour.
As modelos que contam suas histórias nesta reportagem - cujos depoimentos poderão ser conferidos na íntegra na edição deste final de semana do Diário Gaúcho - tiveram seus nomes trocados e têm mais em comum do que a cor do book: todas garantem que não são garotas de programa. Embora a atividade seja a mesma, há diferenças.
- A garota de programa vive disso e trabalha diariamente com essa atividade. As meninas que fazem o book rosa são modelos, têm uma carreira e, eventualmente, aceitam essas propostas - explica Evandro Hazzy, há mais de 30 anos no universo da beleza.
O especialista já atuou como modelo, dono de agência e preparador de misses. E afirma que o tema permeia, sim, o mundo da moda.
- Esse tipo de proposta acontece em todos os lugares e em todas as profissões. As meninas têm livre-arbítrio. As pessoas precisam ser respeitadas em suas escolhas. Quem faz é maior de idade e responsável por seus atos. O que não pode é alguém agenciar. E muito menos envolver menor de idade, o que é um crime e deve ser punido com rigor - defende.
Diretor de casting há dez anos, Yago Warren trabalha com produtoras de moda e de vídeo e está habituado a selecionar meninas para trabalhos publicitários e de passarela. Há mais de uma década nos bastidores da moda, ele admite que, embora nunca tenha feito esse tipo de seleção nem trabalhado com meninas que aceitassem, conhece muitas que topam. Mas discorda do modo como tem sido mostrado na trama de Walcyr Carrasco:
- Tudo é muito sutil e não agressivo assim. São indicadas festas onde estarão pessoas influentes, e onde, naturalmente, a proposta vai rolar. O perfil da Fanny é de cafetina de cabaré. É muito mais subjetivo, mas o autor está acentuando para marcar a novela. É um traço da realidade visto com lente de aumento.
O preço do luxo
Em Verdades Secretas, os primeiros programas de Angel foram regados a espumante, em uma luxuosa suíte de hotel, na companhia de ninguém menos do que o bonitão e poderoso Alex. Porém, o glamour mostrado nas cenas não é a regra no submundo obscuro da prostituição de luxo.
- É ficção! Estão pintando um mundo cor de rosa que não existe - alerta o diretor de casting Yago.
O apelo financeiro, no entanto, é mesmo tentador.
- Apartamento, carro 0km... O book rosa é isso, não é R$ 100, R$ 500. É R$ 15 mil, R$ 30 mil, é uma casa. Para profissionais famosas, R$ 5 mil vira esmola! Por isso que mexe com a mente das meninas, que têm de ser muito bem orientadas pela família - destaca o missólogo Evandro.
- Quanto mais exposta a modelo estiver, quanto mais capas de revistas, comerciais, mais valorizado será o "passe" dela. Eles querem a visibilidade de andar com uma mulher dessas - explica Yago.
Reflexos e preconceito com a profissão
Cerca de 50 meninas por mês batem à porta da Super Agency, uma das agências mais tradicionais de Porto Alegre. Com a novela mostrando como funciona o book rosa, criou-se um estado de alerta entre garotas que sonham em ser modelo e seus familiares.
- Nossos scouters (descobridores de novos rostos) dizem que está mais difícil, que todo mundo anda desconfiado. Por um lado, isso é bom, para que as meninas se certifiquem da idoneidade da agência - conta Kelly Vidal, sócia-diretora, que faz o comparativo:
- A realidade do mercado de modelos é outra: são meninas que lutam muito, honestamente, para ter espaço. O problema é que se usa o nome de modelo equivocadamente para outros trabalhos, e isso gera um preconceito com a profissão.
Outra agência reconhecida da Capital, a Azure Models condena a prática do book rosa, mas admite que existe.
- Modelos já me relataram que algumas agências fazem isso. Mas são pouquíssimas de que ouço falar. Pra mim, é muito claro que isso é criminoso - avalia Débora Vieira, dona da Azure.
O book rosa é o tema de Retratos da Fama TV desta semana, confira: